Vozes do Sul : Interseccionalidade e formação docente de mulheres negras em Bagé-RS

Abstract

A presente dissertação analisou de que modo a políticas de formação docente influenciam as interseccionalidades (raça, gênero, classe e território) e trajetórias profissionais de professoras negras na cidade de Bagé/RS. Os objetivos da pesquisa foram: (a) identificar obstáculos ao acesso e à permanência no ensino superior; (b) analisar os desafios enfrentados por essas profissionais após a formação acadêmica. Para tanto, adotou-se uma abordagem metodológica mista, qualitativa e quantitativa, incluindo análises de microdados do Censo da Educação Superior (2010-2024), documentação histórica e entrevistas realizadas com três docentes negras bageenses. Os resultados indicam que: (1) Há uma sub-representação contínua dessas mulheres nos cursos de licenciatura na região, com percentual variando entre 8,2% e 11% em 2023; (2) A evasão é significativa: na UNIPAMPA-Bagé, por exemplo, enquanto em 2019 cerca de 89,6% das concluintes eram brancas, apenas 4,1% eram negras; (3) As barreiras interseccionais incluem racismo estrutural — evidenciado por microagressões, invisibilidade e segregação— além da sobrecarga laboral e da ausência de políticas específicas para promover a permanência; (4) Como estratégias de resistência destacam-se ações voltadas à valorização da cultura afro-brasileira nas práticas pedagógicas e o apelo por formações antirracistas. Conclui-se que as desigualdades existentes são estruturais e requerem intervenções direcionadas: revisão das categorias raciais empregadas nos censos educacionais, implementação de programas de mentoria voltados às estudantes negras e inclusão no currículo escolar de figuras locais relevantes como Mãe Luciana.

This dissertation examines how teacher education policies influence the intersectionalities (race, gender, class, and territory) and professional trajectories of Black female teachers in the city of Bagé, Rio Grande do Sul, Brazil. The research objectives were: (a) to identify barriers to accessing and persisting in higher education; and (b) to analyze the challenges faced by these professionals after completing their academic training. To this end, a mixed-methods approach, encompassing both qualitative and quantitative methodologies, was adopted. This included analyses of microdata from the Brazilian Higher Education Census (2010-2024), historical documentation, and interviews conducted with three Black female teachers from Bagé. The results indicate that: (1) There is persistent underrepresentation of these women in teacher education programs (licenciaturas) within the region, with their proportion ranging between 8.2% and 11% in 2023. (2) Dropout rates are significant; for instance, at UNIPAMPA-Bagé in 2019, while approximately 89.6% of graduates were white, only 4.1% were Black. (3) Intersectional barriers include structural racism—manifested through microaggressions, invisibility, and segregation—alongside excessive workload and the absence of specific policies to promote retention. (4) Key resistance strategies encompass initiatives promoting Afro-Brazilian culture within pedagogical practices and advocating for anti-racist training programs. It is concluded that the existing inequalities are structural and necessitate targeted interventions: revision of the racial classification categories used in educational censuses, implementation of mentoring programs focused on Black female students, and the inclusion of relevant local figures such as Mãe Luciana in the school curriculum.