Seletividade escolar : uma questão de conscientização?

Abstract

O presente estudo teve por objetivo investigar de que forma os segmentos pedagógicos e técnicos da escola (Serviço de Supervisão Escolar (SSE), Serviço de Orientação Escolar (SOE), e professores de sala de aula) atuam como agentes da seletividade escolar, analisando o papel exercido pelo nível de consciência e pelo tipo de compreensão dos sujeitos da pesquisa sobre a questão do conhecimento na sua ação seletiva. Para configurar as representações dos professores de setores (SSE e SOE) , dos professores de sala de aula e dos alunos sobre as questões da seletividade, utilizou-se um questionário. Para detectar quais os mecanismos de seletividade empregados pelos professores, destacando junto aos professores de sala de aula a compreensão na questão do conhecimento, foram realizadas entrevistas e observações em sala de aula. Os dados encontrados permitiram constatar que a representação da seletividade escolar é entendida, em geral, pelos professores, como relacionada a questões sócio-econômicas dos alunos. Os mecanismos seletivos utilizados pelos professores em sala de aula referem-se à forma de transmitirem os conteúdos, à avaliação, à exigência de hábitos e atitudes. Os professores do SOE os utilizam principalmente ao selecionarem os grupos de alunos pela idade e pelo número de reprovações. O SSE emprega mecanismos de seletividade indiretamente, quando reforça o trabalho que os professores realizam em sala de aula. Os alunos não percebem estes mecanismos de seletividade e suas representações centram-se em sua problemática sócio-econômica, buscando na escola uma forma de superá-las. Tais constatações levam a supor que a questão da seletividade escolar está centrada na postura do professor que reflete uma consciência ingênua em relação ao meio em que vive, no qual exerce sua ação. Se o professor faz parte de uma sociedade opressora que determina e mantém normas de atuação que almeja, ele como sujeito dessa sociedade é portador de uma consciência de submissão. No construtivismo de Jean Piaget encontra-se a superação desta problemática, pois o sujeito não é independente de seu meio sócio-cultural na sua construção cognitiva. É na interação com o meio que ele estrutura a ação, num ato constante com o refletir. Ele é o binômio ação e reflexão. Sugere-se a realização de outros estudos para aprofundar a compreensão da problemática da seletividade escolar, na dimensão da relação consciência - ação, vaa a análise das histórias de vida dos professores e de sua ação social.

This study aims at investigating how the different segments of the school - School Supervision Service (SSS), School Orientation Service (SOS), and teachers in the classroom - operate as agents of school selectivity. It will also analyze the role played by the level of consciousness and by the type of comprehension the subjects of this study have of how knowledge works in selective action. A questionnaire was given to the teachers in the different sectors (SSS, SOS), the teachers in the classroom, and the students. The answers were used in the configuration of the mental representations these individuals have of the school selectivity process. Besides, classroom observations and classroom interviews were carried out in order to identify the selectivity mechanisms used by the teacher, - focusing, among classroom teachers, on the problem of comprehension in matters of knowledge. The data collected showed that teachers in general represent school selectivity as something related to students' socio-economic factors. The selection mechanisms used by the way content is presented, the evaluation system, the demand for specific habits and attitudes. The SOS teachers use these mechanisms mainly when assigning students to groups according to age and to the number of school years the students failed. The SSS uses indirects selection mechanisms, as its members reinforce the work teachers do in the classroom. Students are not aware of these mechanisms, and their representations are focused on their own socio-economic problems. They are in school looking for a way to overcome these problems. These observations lead to the conclusion that the school selectivity question is centered on the teacher's posture. He reflects an ingenuous consciousness of the environment where he lives, where he acts. If the teacher belongs to an oppressing society which determines the desired rules of action, he becomes the conveyor of a submissive consciousness. In Jean Piaget's constructivism we find the answer to overcome this problem, since individuals are not independent from their socio-economic environment in their cognitive development. It is only in the interaction with the environment that the individual structures action, in a constant act of reflection. He becomes the dualism action-reflection. We suggest that other studies be conducted in order to investigate more deeply the problems involved in school selectivity. Their focus should be the relationship between consciousness and action, through the analysis of teacher's life histories and their participation and action in society.