A representação social da mulher na mídia impressa local : expressão notícias e Correio Cacerense

Abstract

Esta pesquisa enfrenta o desafio de investigar as relações entre o jornal impresso local, as representações sociais e gênero, com objetivo de compreender como a mulher é representada e como o discurso jornalístico participa da construção dessas representações. Para tanto, foi constituído um corpus de unidades discursivas a partir dos jornais Expressão Notícias e Correio Cacerense, ambos produzidos no município de Cáceres/Mato Grosso. Foram analisadas 38 notícias entre os períodos de março de 2019 e março de 2021. Para dar conta da proposta, utilizamos a Semântica do Acontecimento (Guimarães, 2002; 2005) como referencial teórico-metodológico. A sustentação teórica foi estruturada em três eixos: jornalismo, representação social e gênero. O jornalismo é considerado sob a ótica construcionista (Traquina, 2001), (Alsina, 2009), entendendo-o como um dos atores responsáveis por transformar os fatos em acontecimentos e, assim, reforçar ou questionar normas sociais; e como prática discursiva (Benetti, 2008) para fundamentá-lo como lugar de produção e circulação de sentidos. Recorremos aos conceitos de Müller (2004) e Dornelles (2006, 2010, 2012) para refletir sobre as características dos jornais impressos interioranos. Para abordar o conceito de representação social e a relação com a cultura, recorremos aos estudos de Moscovici (2007), Jodelet (2001), Hall (1999; 2005; 2016), entre outros. Por fim, para entender o conceito de gênero, enquanto construção social, nos filiamos aos estudos de Bourdieu (2012), Muraro (2002) e Scott (1990). A pesquisa revelou que, embora os jornais analisados reconheçam tanto as adversidades enfrentadas pelas mulheres, quanto suas conquistas, o que prevalece é a predominância da representação social da mulher como vítima de violência. O discurso jornalístico é atravessado por uma base patriarcal que enfatiza a vulnerabilidade feminina. Essa dualidade nos discursos dos dois jornais destaca um desafio central do jornalismo contemporâneo: equilibrar a representação das realidades, muitas vezes duras, enfrentadas pelas mulheres com a promoção de discursos que fortaleçam a imagem de mulheres autônomas, empoderadas e agentes ativas de mudança.

This research faces the challenge of investigating the relationship between the local printed newspaper, social representations and gender, with the aim of understanding how women are represented in the local printed newspaper and how journalistic discourse participates in this construction. To this end, a corpus of discursive units was assembled from the newspapers Expression News and Mail Cacerense, both produced in the municipality of Cáceres/Mato Grosso. We analysed 38 news items from March 2019 to March 2021. We used the Semantics of the Event (Guimarães, 2002; 2005) as our theoretical- methodological framework. The theoretical framework was structured around three axes: journalism, social representation and gender. Journalism is considered from a constructionist perspective (Traquina, 2001), (Alsina, 2009), understanding it as one of the actors responsible for transforming facts into events and thus reinforcing or questioning social norms; and as a discursive practice (Benetti, 2008) to ground it as a place of production and circulation of meanings. We used the concepts of Müller (2004) and Dornelles (2006, 2010, 2012) to reflect on the characteristics of inland printed newspapers. To approach the concept of social representation and its relationship with culture, we used the studies of Moscovici (2007), Jodelet (2001), Hall (1999;2005; 2016), among others. Finally, to understand the concept of gender as a social construction, we used the studies of Bourdieu (2012), Muraro (2002), Scott (1990), among others. The research revealed that although the newspapers analysed acknowledge both the adversities faced by women and their achievements, what prevails is the predominant social representation of women as victims of violence. The journalistic discourse is permeated by a patriarchal base that emphasises women's vulnerability. This duality in the discourses of the two newspapers highlights a central challenge facing contemporary journalism: balancing the representation of the often harsh realities faced by women with the promotion of discourses that strengthen the image of women as autonomous, empowered and active agents of change.