O que a sociedade cala a escola fala : violência intrafamiliar de estudantes a partir dos olhares de professoras/es de uma escola do campo
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Data
2024Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Discutir a escola, seu currículo e seus sujeitos, talvez seja considerado por muitos pesquisadores uma questão esgotada, devido a quantidade de reflexões a seu respeito, mas também pode ser uma questão de políticas públicas, que sob um olhar mais atento aos professores, onde muitas vezes são colocados como para-choques social, absorvendo e buscando mitigar os impactos de diversas adversidades enfrentadas por seus alunos. Essa função é especialmente significativa em contextos de vulnerabilidade ...
Discutir a escola, seu currículo e seus sujeitos, talvez seja considerado por muitos pesquisadores uma questão esgotada, devido a quantidade de reflexões a seu respeito, mas também pode ser uma questão de políticas públicas, que sob um olhar mais atento aos professores, onde muitas vezes são colocados como para-choques social, absorvendo e buscando mitigar os impactos de diversas adversidades enfrentadas por seus alunos. Essa função é especialmente significativa em contextos de vulnerabilidade social, onde crianças e adolescentes podem estar expostos a uma variedade de desafios, incluindo circunstâncias de violência intrafamiliar. Violência essa, que sempre existiu, que representa uma forma de violação dos Direitos Humanos, não conhecendo fronteiras geográficas, culturais ou socioeconômicas, tornando-se um problema global que exige atenção e estratégias de superação que se fazem urgentes. A pesquisa em questão teve como principal objetivo compreender a violência intrafamiliar narrada pelos estudantes de uma escola do/no campo, através do olhar de professoras e professores, busquei entender como estes educadores estão preparados para lidar com esta realidade, identificando as lacunas e as principais dificuldades enfrentadas pela escola. Para me auxiliar no processo de pesquisa, utilizei o seguinte problema de pesquisa: “Quais as percepções de professoras/es de uma escola do campo acerca da violência intrafamiliar narrada por suas/seus estudantes?”. Os participantes da pesquisa são educadoras e educadores de uma escola do campo, localizada na zona rural do município de Viamão/RS. Busquei compreender as narrativas e as práticas pedagógicas que se dão em uma escola do/no campo a partir de uma perspectiva pós-crítica dos estudos culturais em que articulei os pensamentos de Foucault, Larrosa, Guacira Louro, Paula Ribeiro, Rosa Fischer, Veiga-Neto, Sandra Mara Corazza e outros. Os caminhos percorridos por essa pesquisa, nos levou a perceber, as dificuldades e as especificidades de ser e estar professora em uma escola do/no campo, realidade esta que vai muito além de desempenhar uma simples profissão, que o ato de estar em sala de aula diariamente, com aquelas/aqueles alunas/alunos nos atravessa e nos coloca não somente como profissionais, mas como seres humanos de frente com situações que nos escapam, nos limitam e por assim, nos ferem pelos limites, que apesar se serem até certo ponto para nossa proteção, também nos deixam de mãos atadas, causando sentimento de impunidade, de frustração e de impotência, quando nos deparamos que as narrativas/pedidos de socorro de nossas alunas e alunos e muitas vezes não conseguimos solucionar. Também permitiu encontrar elementos essenciais à construção da compreensão das particularidades que permeiam uma escola do/no campo e suas dificuldades comparadas às escolas urbanas, pois nelas as relações interpessoais são muito próximas, intensificadas pela complexidade de uma comunidade pequena e todos se conhecem, por isso aqui vamos nos referir a ela com um microuniverso, onde os entrevistados se sentem desconfortáveis quando se percebem vizinhas ou vizinhos daqueles que devem denunciar, eis que estes fazem parte de seu contexto social. Outro fator importante encontrado é o adoecimento dos professores ao conviver com estas realidades que não se resolvem, com esses discursos de proteção que não se cumprem, enquanto o quadro se arrasta e se agrava, uma vez que foi apontado por eles a complexidade do diálogo com as famílias, pois nem sempre recebem a reação esperada e, em muitos casos, a mãe acaba se tornando mais um problema a se resolver, pois muitas vezes se colocam ao lado do agressor e descredibilizam a vítima, fazendo com que ela seja vista como mentirosa, causando o prolongamento das situações e contribuindo significativamente ao intensificar os impactos sob o desenvolvimento emocional, social e cognitivo, gerando traumas muitas vezes irreversíveis. ...
Abstract
Discussing the school, its curriculum, and its subjects may be considered by many researchers as an exhausted issue due to the amount of reflections on it, but it can also be a matter of public policies, which, under a closer look at teachers, often see themselves as social buffers, absorbing and seeking to mitigate the impacts of various adversities faced by their students. This role is especially significant in contexts of social vulnerability, where children and adolescents may be exposed to ...
Discussing the school, its curriculum, and its subjects may be considered by many researchers as an exhausted issue due to the amount of reflections on it, but it can also be a matter of public policies, which, under a closer look at teachers, often see themselves as social buffers, absorbing and seeking to mitigate the impacts of various adversities faced by their students. This role is especially significant in contexts of social vulnerability, where children and adolescents may be exposed to a variety of challenges, including circumstances of intrafamilial violence. This violence, which has always existed, represents a form of violation of human rights, knowing no geographical, cultural, or socioeconomic boundaries, becoming a global problem that demands attention and urgent overcoming strategies. The research in question aimed to understand intrafamilial violence as narrated by students from a rural school, through the perspective of teachers. I sought to understand how these educators are prepared to deal with this reality, identifying the gaps and main difficulties faced by the school. To assist in the research process, I used the following research question: What are the perceptions of teachers in a rural school regarding their practices in relation to intrafamilial violence as narrated by their students? The participants in the research are educators from a rural school located in the rural area of Viamão-RS. I sought to understand the narratives and pedagogical practices that take place in a rural school from a post-critical perspective of cultural studies, combining the thoughts of Foucault, Larrosa, Guacira Louro, Paula Ribeiro, Rosa Fischer, Veiga-Neto, Sandra Mara Corazza, and others. The paths taken by this research led us to realize the difficulties and specificities of being a teacher in a rural school, a reality that goes far beyond simply performing a profession, as being in the classroom daily with those students crosses us, placing us not only as professionals but as human beings facing situations that elude us, limit us, and thus, wound us with boundaries that, despite being to a certain extent for our protection, also leave us helpless, causing feelings of impunity, frustration, and powerlessness when we find that the narratives/cries for help from our students often cannot be resolved. It also allowed for finding essential elements for understanding the particularities that permeate a rural school and its difficulties compared to urban schools, as interpersonal relationships are very close in them, intensified by the complexity of a small community where everyone knows each other, hence referring to it as a microcosm, where interviewees feel uncomfortable when they realize they are neighbors of those they should report, as these individuals are part of their social context. Another important factor found is the teachers' illness from living with these unresolved realities, with these protection discourses that are not fulfilled, while the situation drags on and worsens, as they pointed out the complexity of dialogue with families, as they do not always receive the expected reaction, and in many cases, the mother ends up becoming another problem to solve, as they often side with the aggressor and discredit the victim, causing the prolongation of situations and significantly contributing to intensifying the impacts on the emotional, social, and cognitive development of students, generating often irreversible traumas. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Ciências Básicas da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde.
Coleções
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Multidisciplinar (2563)
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