Processos de materialização da raça e do racismo no campo da saúde : uma etnografia das práticas e narrativas profissionais
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Data
2021Autor
Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Esse trabalho de investigação consistiu no rastreamento dos processos de materialização da raça nas narrativas e práticas dos profissionais de saúde. Na expectativa de uma abordagem do objeto que oferecesse uma alternativa analítica às disputas em torno da existência/inexistência biológica, que resultam na ênfase de uma versão discursiva/construída da categoria, persegui uma analítica da raça que a tomasse como efeito material-semiótico, e à sua materialidade somática como efeito ou somatização ...
Esse trabalho de investigação consistiu no rastreamento dos processos de materialização da raça nas narrativas e práticas dos profissionais de saúde. Na expectativa de uma abordagem do objeto que oferecesse uma alternativa analítica às disputas em torno da existência/inexistência biológica, que resultam na ênfase de uma versão discursiva/construída da categoria, persegui uma analítica da raça que a tomasse como efeito material-semiótico, e à sua materialidade somática como efeito ou somatização de processos de racialização. Para tanto, procedi à etnografia das práticas de geneticistas e profissionais do campo biomédico (aulas, reuniões de grupo de pesquisa, trabalho de bancada nos laboratórios, cursos de extensão, congressos profissionais). Também estabeleci interlocuções com profissionais de outros âmbitos institucionais, participando de grupos de trabalhos de instâncias municipais e federais, cursos de formação de promotores em saúde da população negra na atenção básica, eventos promovidos pelos movimentos sociais, audiências públicas, conselhos profissionais e bancas de aferição racial em concursos. Inspirada em certa vertente teórico-metodológica dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia, busquei as conexões que conformavam estabilizações provisórias da raça, visando a tomada de decisões nas práticas destes profissionais – fossem tais práticas relacionadas à formação, à pesquisa, à intervenção ou à política. Desse modo, lancei mão de metáforas como "interferência" e "performance", inspiradas por Annemarie Mol, para falar sobre as diversas versões da raça; "objetos dobrados" e "presença ausente", conforme empregados por Amade M‘Charek; e "modos de sincretismo", de John Law, que se me afiguraram como ferramentas analíticas adequadas ao desafio de capturar um objeto tentacular, fugidio e difuso. Por meio destes instrumentos analíticos, demonstrei como, apesar das tentativas de interdição discursiva e esvaziamento material, a raça fica subsumida na ausência do não dito, no tabu que ratifica a norma, nas lacunas tecnológicas e na ignorância deliberada e estrategicamente produzida sobre o protagonismo da raça e do racismo na orientação das práticas de profissionais de saúde. Assim, a raça resulta em um objeto que está em permanente disputa material, simbólica e, particularmente, política. Tais disputas lhe conferem um caráter fugaz. Porém, a despeito de sua aparente fragilidade e instabilidade ontológica, a raça é dotada do poder de produzir efeitos muito concretos, sejam eles estruturais, somáticos ou discursivos. Rastrear as conexões por estas diferentes mediações possibilitou abordar a raça de modo a evidenciar como esta se substancializa na prática e vai ganhando estabilidade duradoura de modo a sustentar o racismo estrutural. ...
Abstract
This research work traces the materialization processes of race in the narratives and practices of health professionals. It is common for disputes over race's biological existence/inexistence to result in an emphasis on the category's discursive/constructed version. Seeking an alternative analytical approach, I pursued an analysis of race that considered it for its materialsemiotic effect and its somatic materiality as effect or somatization of racialization processes. To this end, I have condu ...
This research work traces the materialization processes of race in the narratives and practices of health professionals. It is common for disputes over race's biological existence/inexistence to result in an emphasis on the category's discursive/constructed version. Seeking an alternative analytical approach, I pursued an analysis of race that considered it for its materialsemiotic effect and its somatic materiality as effect or somatization of racialization processes. To this end, I have conducted an ethnography of the practices of geneticists and professionals in the biomedical field (classes, research group meetings, bench work in laboratories, extension courses, professional congresses). I have also established dialogues with professionals from other institutional bodies, participating in working groups of municipal and federal State agencies, training courses for promoters of the black population's health in primary care, events promoted by social movements, public audiences, professional councils, and racial heteroidentification committees. Inspired by a theoretical-methodological axis of Science and Technology Studies, I looked for the connections that made provisional stabilizations of race. I focused on the decision-making processes involved in the professionals' practices, whether such practices relate to training, research, intervention, or politics. To do so, I have engaged with a few analytical tools suited to the challenge of capturing a tentacular, elusive, and diffuse object. Inspired by Annemarie Mol's work, I used metaphors such as "interference" and "performance" to talk about the various versions of race; the concepts of "folded objects" and "absent presence," as employed by Amade M'Charek; and "modes of syncretism" by John Law were crucial for this proposal. Through these analytical instruments, I demonstrate how, despite attempts at discursive interdiction and material emptying, race is subsumed in the absence of the unspoken, in the taboo that ratifies the norm, in technological gaps, and in the deliberate and strategically produced ignorance about the protagonism of race and racism in guiding the practices of health professionals. Thus race results in an object that is in permanent material, symbolic and, particularly, political dispute; disputes that give it a fleeting character, but which despite its apparent fragility and ontological instability, is endowed with the power to produce very concrete effects, whether structural, somatic or discursive. By tracing the connections through these different mediations, it was possible to address race emphasizing how it is substantialized in practice and gains lasting stabilization that sustains structural racism. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social.
Coleções
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Ciências Humanas (7516)Antropologia Social (476)
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