As políticas da criatividade : graffiti, street art e desenvolvimento urbano-cultural no Brasil e em Portugal

Abstract

A ideia de criatividade tem sido apropriada enquanto política em diversos locais do mundo. Uma das facetas dessa curiosa apropriação são os novos valores dados a intervenção artísticas urbanas caracterizadas desde sua gênese como ilegais, efêmeras e não comissionadas. Quando a criatividade se tornou uma retórica nas políticas das gestões públicas, empresas e museus abriram-se as portas para o graffiti e street art. Estes dois modos de expressão na cidade carregam em si diferenças ontológicas que busco abordar nesse trabalho e são bons exemplos para entendermos as dinâmicas sociais e estéticas do que chamamos de cidades moderno-contemporâneas. Como focos de interesse empírico elegi Porto Alegre - cidade onde conheci uma comunidade heterogênea de artistas urbanos - e Lisboa, capital global na qual fiz o doutorado sanduíche. A questão central que norteou toda a produção dessa tese foi como as políticas da criatividade, relacionadas ao graffiti e a street art, fizeram e fazem parte do desenvolvimento urbano-cultural destas cidades? Meu argumento é que tais políticas são gestadas e narradas por diferentes instituições, mas há algo de libertário nas suas práticas que pode ser intendido como duração das trangressionalidades que estão nas origens diversas destas práticas de expressão urbana. Por fim, reflito sobre as “partilhas do sensível” operadas nas políticas da criatividade: dimensões artísticas, estéticas e políticas de expressões visuais na cidade.

The idea of creativity has been appropriated as a policy in different parts of the world. One of the facets of this curious appropriation is the new values given to urban artistic intervention characterized since its genesis as illegal, ephemeral and non-commissioned. When creativity became a rhetoric in public administration policies, companies and museums opened the door to graffiti and street art. These two modes of expression in the city carry ontological differences that I seek to address in this work and are good examples for understanding the social and aesthetic dynamics of what we call modern-contemporary cities. As focuses of empirical interest, I chose Porto Alegre - a city where I met a heterogeneous community of urban artists - and Lisbon, the global capital where I did my sandwich doctorate. The central question that guided the entire production of this thesis was how the policies of creativity, related to graffiti and street art, were and are part of the urban-cultural development of these cities? My argument is that such policies are managed and narrated by different institutions, but there is something libertarian about their practices that can be understood as the duration of the transgressionalities that are at the different origins of these urban expression practices. Finally, I reflect on the “shares of the sensitive” operated in the politics of creativity: artistic, aesthetic and political dimensions of visual expressions in the city.