Caracterização do desempenho aritmético e intervenção com estudantes com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade

Abstract

O Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) pode acarretar prejuízos ao desempenho matemático. Esses parecem estar relacionados aos sintomas presentes no transtorno e a déficits em funções cognitivas importantes ao aprendizado, principalmente à Memória de Trabalho (MT). A presente tese tomou como propósito avaliar intervenções que visam melhorar o desempenho aritmético de estudantes com TDAH, buscando antes caracterizar o desempenho desse grupo específico e verificar a influência da MT no desempenho. Para atender a esse propósito, foram realizados três estudos, apresentados no formato de artigo. O primeiro estudo teve como objetivo caracterizar e comparar o desempenho aritmético de 93 estudantes com TDAH e 447 pares sem o transtorno, frequentando do 3º ao 9º ano do Ensino Fundamental. O desempenho aritmético foi avaliado pelo Subteste de Aritmética (SA) do Teste de Desempenho Escolar que forneceu uma medida de precisão em cálculo e a tipologia de erros cometidos. O segundo estudo verificou a influência dos componentes da MT no desempenho aritmético de 42 estudantes do 3º e 4º ano do Ensino Fundamental com o transtorno. Neste estudo a avaliação do desempenho foi realizada pela aplicação do SA e da Tarefa de Avaliação de Habilidades Aritméticas, que avaliou o raciocínio aritmético. As medidas de MT foram o Digit Span, o Spatial Span e o Teste de Aprendizagem Auditivo-Verbal de Rey. O terceiro estudo verificou e comparou os efeitos de duas intervenções sobre o desempenho aritmético com 46 estudantes com TDAH, também frequentando o 3º e 4º ano. As medidas utilizadas foram as mesmas do segundo estudo. A amostra for pareada por idade e QI e randomizada para duas condições: Intervenção combinada em MT e raciocínio aritmético (n=24) e intervenção única em MT (n=22), ambas com 22 sessões de uma hora cada. Os resultados das avaliações foram comparados entre e intra grupos. Os resultados do primeiro estudo evidenciaram que os estudantes com TDAH apresentaram desempenho abaixo do esperado no SA e foram piores que seus pares sem TDAH. Eles também apresentaram mais erros de procedimento e resolveram menos problemas que os pares sem TDAH. O segundo estudo destacou que as medidas de MT não estavam relacionadas ao desempenho em cálculo aritmético, mas os componentes fonológico e buffer episódico estavam relacionados ao desempenho na tarefa de raciocínio. Entretanto, a MT não foi capaz de explicar a variação em nenhuma das modalidades de desempenho aritmético, quando controlados QI e idade. O terceiro estudo indicou que os estudantes que receberam a intervenção combinada apresentaram desempenho em raciocínio aritmético significativamente maior no pós-teste imediato do que os que participaram de intervenção única em MT. Ambos os grupos apresentaram melhora significativa em cálculo nos pós-testes. A caracterização do desempenho dos estudantes com TDAH e a falta de evidências claras de associação entre a MT e o desempenho aritmético, fortaleceram a proposta de avaliar os efeitos de uma intervenção combinada, sendo que foi confirmada a hipótese inicial que pressupunha ser essa modalidade mais eficaz na melhora no desempenho aritmético dos estudantes do que uma intervenção única em MT. Os resultados preliminares obtidos foram promissores, indicando esse modelo de intervenção como uma alternativa no tratamento psicopedagógico de estudantes com TDAH e prejuízos no desempenho aritmético.

Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) can impair mathematical performance. This appears to be related to the disorder’s symptoms and deficits in cognitive functions that are important for learning, especially the working memory (WM). The aim of this thesis is to assess interventions designed to improve the arithmetic performance of students with ADHD, while beforehand seeking to characterize the performance of this specific group and the influence of WM on performance. To achieve this purpose, three studies were conducted and presented in article form. The first study aimed to characterize and compare the arithmetic performance of 93 students with ADHD and 447 peers without the disorder, attending the 3rd to 9th grades of elementary school. Arithmetic performance was evaluated using the Arithmetic Subtest (AS) of the School Performance Test, which provided a measure of accuracy in calculation and a typology of the errors committed. The second study examined the influence of the WM components on the arithmetic performance of forty-two 3rd and 4th year elementary school students with the disorder. In this study, performance was assessed by applying the AS and the Arithmetic Skills Assessment Task, which evaluated the arithmetic reasoning. The WM measurements were the Digit Span, Spatial Span and the Rey Auditory-Verbal Learning Test. The third study analyzed and compared the effects of two interventions on the arithmetic performance in 46 students with ADHD, also attending the 3rd and 4th year. The measures used were the same as in the second study. The sample was paired by age and IQ and randomized for two conditions: combined intervention in WM and arithmetic reasoning (n = 24) and a single intervention in WM (n = 22), both consisting of 22 sessions of one hour each. The results of assessments were compared between and within groups. The results of the first study showed the students with ADHD performed poorly in the AS and were worse than their non-ADHD peers. They also presented a higher number of procedural errors and solved fewer problems than their non-ADHD peers. The second study noted that the WM measures were unrelated to the performance in arithmetic, but that the phonological components and episodic buffer were related to performance in the reasoning task. However, when IQ and age were controlled, WM was unable to explain the variation in any of the modes of arithmetic performance. The third study indicated that the students who received the combined intervention showed significantly higher performance in arithmetic reasoning in the immediate post-test than those who participated in the single intervention in WM. Both groups showed significant improvement in calculation in the post-test. The characterization of the performance of the students with ADHD and the lack of clear evidence of an association between WM and the arithmetic performance strengthen the proposal to assess a combined intervention, as the original hypothesis that presupposed its greater efficacy in improving the arithmetical performance of the students when compared to a single intervention in WM was supported. The preliminary results were promising, indicating this intervention model as an alternative in the psycho-pedagogical treatment of students with ADHD and impaired arithmetic performance.