Fatores associados aos desfechos desfavoráveis relacionados à sífilis congênita em Porto Alegre : coorte retrospectiva

Abstract

Introdução: A sífilis congênita (SC) resulta da transmissão vertical da sífilis durante a gestação, sendo uma importante causa de desfechos desfavoráveis ao nascimento. Apesar de ser uma condição prevenível e tratável por meio da atenção perinatal, seus índices de desfechos desfavoráveis (óbitos, abortos e natimortos) seguem em elevação no Brasil. Porto Alegre apresentou, em 2023, a maior taxa da doença entre as capitais do país (39,4 casos/1.000 nascidos vivos), apesar disso, não foram encontrados estudos que avaliaram esses desfechos desfavoráveis no município. Objetivo Geral: investigar os fatores associados aos desfechos desfavoráveis em crianças notificadas com SC em Porto Alegre, no período de 2012 até 2022. Métodos: estudo de coorte retrospectiva de janeiro de 2012 até dezembro de 2022. Foram utilizados dados secundários disponíveis nas fichas de notificação de SC de Porto Alegre, RS, disponíveis no banco do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). A população do estudo foram as 5456 crianças notificadas no período e a amostra foi composta por 5398 casos, após as perdas amostrais. Para a análise de regressão, considerou-se a amostra de 3510, após a exclusão de casos por falta de registro das variáveis avaliadas. Foram consideradas as seguintes variáveis maternas: escolaridade, idade, raça/cor, bairro de residência, realização de pré-natal, momento do diagnóstico de sífilis e a adequação do tratamento prescrito. Também foi considerada a variável relacionada ao tratamento do parceiro. As variáveis neonatais foram a data de nascimento e o diagnóstico clínico (se sintomático ou assintomático). Para a investigação dos fatores de risco, criaram-se modelos conceituais com estratégia hierárquica, analisados a partir do modelo de regressão de Poisson com variância robusta. Os dados foram analisados no software RStudio®. Para a distribuição espacial dos casos, utilizou-se o software ArcGIS®. O estudo foi aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Resultados: a incidência de desfechos desfavoráveis foi de 13,67% (n=738). Os bairros com o maior número absoluto de casos de SC foram Restinga (n=507), Lomba do Pinheiro (n=404) e Rubem Berta (n=374). Na análise de regressão, observou-se associação estatisticamente significativa entre o risco de desfechos desfavoráveis e o diagnóstico de sífilis no momento do parto/curetagem (RR 3,450; IC 1,297 - 9,174) e a não realização do pré-natal (RR 2,724; IC 1,370 - 5,416). Além disso, observou-se que mais de nove anos de estudo foi um fator protetor para o risco de desfechos desfavoráveis por SC (RR 0,000000632; IC 0,000000295 - 0.00000135). Na análise dos três bairros com o maior número de casos de SC, observou-se associação estatisticamente significativa com o diagnóstico de sífilis após o parto (RR 8,655; IC 1,214 - 61,684), raça/cor não branca (RR 3,338; IC 1,185 - 9,397) e parceiro não tratado concomitantemente à gestante (13,494,870 IC 6,541,752 - 27,838,340). A maior escolaridade (> 9 anos) também foi considerada fator protetor para o risco de desfechos desfavoráveis por SC (RR 0.0000000172; IC 0.00000000381 - 0.0000000779). Conclusões: os resultados demonstram que o diagnóstico tardio da sífilis e a ausência de pré-natal podem aumentar o risco de desfechos desfavoráveis por sífilis congênita, enquanto a maior escolaridade materna atua como fator protetor. A análise espacial demonstrou maior concentração de casos de SC em bairros periféricos da cidade, em que a raça/cor não branca, o tratamento inadequado do parceiro e o diagnóstico pós-parto elevaram o risco de desfechos desfavoráveis. Os resultados demonstram a necessidade de ações integradas para a ampliação do acesso ao pré-natal de qualidade, diagnóstico precoce e tratamento oportuno das gestantes e parcerias, principalmente em populações vulneráveis, a fim de reduzir desfechos desfavoráveis no município.

Introduction: Congenital syphilis (CS) results from vertical transmission of syphilis during pregnancy and is an important cause of adverse birth outcomes. Although it is a preventable and treatable condition through perinatal care, its rates of adverse outcomes (deaths, abortions, and stillbirths) continue to rise in Brazil. Porto Alegre had the highest disease rate among Brazilian capitals in 2023 (39.4 cases/1,000 live births); however, no studies evaluating these adverse outcomes were found in the municipality. Objective: To investigate factors associated with adverse outcomes in children reported with CS in Porto Alegre from 2012 to 2022. Methods: Retrospective cohort study from January 2012 to December 2022. Secondary data from CS notification forms in Porto Alegre, RS, available in the Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) database were used. The study population consisted of 5,456 children reported during the period, and the sample comprised 5,398 cases after sample losses. For regression analysis, the sample of 3,510 was considered after excluding cases due to missing data for the evaluated variables. The following maternal variables were considered: education, age, race/color, neighborhood of residence, receipt of prenatal care, timing of syphilis diagnosis, and adequacy of prescribed treatment. The variable related to partner treatment was also considered. Neonatal variables were date of birth and clinical diagnosis (symptomatic or asymptomatic). For risk factor investigation, conceptual models with hierarchical strategy were created, analyzed using Poisson regression with robust variance. Data were analyzed in RStudio®. For spatial distribution of cases, ArcGIS® was used. The study was approved by the Research Ethics Committee of the Universidade Federal do Rio Grande do Sul and the Porto Alegre Municipal Health Department. Results: The incidence of adverse outcomes was 13.67% (n=738). The neighborhoods with the highest absolute number of CS cases were Restinga (n=507), Lomba do Pinheiro (n=404), and Rubem Berta (n=374). Regression analysis showed statistically significant associations between the risk of adverse outcomes and syphilis diagnosis at delivery/curettage (RR 3.450; 95% CI 1.297–9.174) and no prenatal care (RR 2.724; 95% CI 1.370–5.416). Additionally, more than nine years of education was a protective factor against the risk of adverse outcomes due to CS (RR 0.000000632; 95% CI 0.000000295–0.00000135). In the analysis of the three neighborhoods with the highest number of CS cases, statistically significant associations were observed with post-delivery syphilis diagnosis (RR 8.655; 95% CI 1.214–61.684), non-white race/color (RR 3.338; 95% CI 1.185–9.397), and partner not treated concomitantly with the pregnant woman (RR 13,494,870; 95% CI 6,541,752–27,838,340). Higher education (>9 years) was also considered a protective factor against the risk of adverse outcomes due to CS (RR 0.0000000172; 95% CI 0.00000000381–0.0000000779). Conclusions: The results demonstrate that late diagnosis of syphilis and lack of prenatal care may increase the risk of adverse outcomes due to congenital syphilis, while higher maternal education acts as a protective factor. Spatial analysis showed a higher concentration of CS cases in peripheral neighborhoods of the city, where non-white race/color, inadequate partner treatment, and post-delivery diagnosis increased the risk of adverse outcomes. The results demonstrate the need for integrated actions to expand access to quality prenatal care, early diagnosis, and timely treatment for pregnant women and partners, especially in vulnerable populations, to reduce adverse outcomes in the municipality.

Introducción: La sífilis congénita (SC) resulta de la transmisión vertical de la sífilis durante la gestación, siendo una causa importante de desenlaces adversos al nacimiento. A pesar de ser una condición prevenible y tratable mediante la atención perinatal, sus índices de desenlaces adversos (óbitos, abortos y mortinatos) siguen en aumento en Brasil. Porto Alegre presentó, en 2023, la mayor tasa de la enfermedad entre las capitales del país (39,4 casos/1.000 nacidos vivos), a pesar de ello, no se encontraron estudios que evaluaran estos desenlaces adversos en el municipio. Objetivo General: investigar los factores asociados a los desenlaces adversos en niños notificados con SC en Porto Alegre, en el período de 2012 hasta 2022. Métodos: estudio de cohorte retrospectiva de enero de 2012 hasta diciembre de 2022. Se utilizaron datos secundarios disponibles en las fichas de notificación de SC de Porto Alegre, RS, disponibles en la base del Sistema de Información de Agravos de Notificación (SINAN). La población del estudio fueron los 5456 niños notificados en el período y la muestra estuvo compuesta por 5398 casos, tras las pérdidas muestrales. Para el análisis de regresión, se consideró la muestra de 3510, después de la exclusión de casos por falta de registro de las variables evaluadas. Se consideraron las siguientes variables maternas: escolaridad, edad, raza/color, barrio de residencia, realización de control prenatal, momento del diagnóstico de sífilis y la adecuación del tratamiento prescrito. También se consideró la variable relacionada al tratamiento de la pareja. Las variables neonatales fueron la fecha de nacimiento y el diagnóstico clínico (si sintomático o asintomático). Para la investigación de los factores de riesgo, se crearon modelos conceptuales con estrategia jerárquica, analizados a partir del modelo de regresión de Poisson con varianza robusta. Los datos fueron analizados en el software RStudio®. Para la distribución espacial de los casos, se utilizó el software ArcGIS®. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul y de la Secretaría Municipal de Salud de Porto Alegre. Resultados: la incidencia de desenlaces adversos fue del 13,67% (n=738). Los barrios con el mayor número absoluto de casos de SC fueron Restinga (n=507), Lomba do Pinheiro (n=404) y Rubem Berta (n=374). En el análisis de regresión, se observó asociación estadísticamente significativa entre el riesgo de desenlaces adversos y el diagnóstico de sífilis en el momento del parto/legrado (RR 3,450; IC 1,297 - 9,174) y la no realización del control prenatal (RR 2,724; IC 1,370 - 5,416). Además, se observó que más de nueve años de estudio fue un factor protector para el riesgo de desenlaces adversos por SC (RR 0,000000632; IC 0,000000295 - 0,00000135). En el análisis de los tres barrios con el mayor número de casos de SC, se observó asociación estadísticamente significativa con el diagnóstico de sífilis después del parto (RR 8,655; IC 1,214 - 61,684), raza/color no blanca (RR 3,338; IC 1,185 - 9,397) y pareja no tratada concomitantemente con la gestante (13,494,870 IC 6,541,752 - 27,838,340). La mayor escolaridad (> 9 años) también fue considerada factor protector para el riesgo de desenlaces adversos por SC (RR 0,0000000172; IC 0,00000000381 - 0,0000000779). Conclusiones: los resultados demuestran que el diagnóstico tardío de la sífilis y la ausencia de control prenatal pueden aumentar el riesgo de desenlaces adversos por sífilis congénita, mientras que la mayor escolaridad materna actúa como factor protector. El análisis espacial demostró una mayor concentración de casos de SC en barrios periféricos de la ciudad, en los que la raza/color no blanca, el tratamiento inadecuado de la pareja y el diagnóstico posparto elevaron el riesgo de desenlaces adversos. Los resultados demuestran la necesidad de acciones integradas para ampliar el acceso al control prenatal de calidad, diagnóstico precoz y tratamiento oportuno de las gestantes y sus parejas, principalmente en poblaciones vulnerables, con el fin de reducir desenlaces adversos en el municipio.