Albert Camus, pensador da história entre o absurdo e a revolta : Sobre os (não)sentidos da história na reflexão estético-filosófica camusiana (1937 - 1951)

Abstract

Esta pesquisa tem por finalidade investigar a problemática da história no pensamento do escritor, artista, ensaísta e filósofo franco-argelino Albert Camus (1913-1960). Por problemática da história, compreende-se o seguinte questionamento orientador de base: como Camus sente, compreende, descreve e reflete sobre a história (sobre a experiência histórica)? Com isso, pretendo argumentar que o pensamento camusiano da história vem à luz em função de sua reflexão existencial de caráter estético-filosófico. Visada pela angulação existencial, a história é tematizada a partir de um pensamento que prioriza uma compreensão imagética e simbólica da experiência individual e coletiva em correlações junto ao mundo dos fenômenos. Todos esses elementos, estruturantes dessa perspectivação da história, encontram nas noções de absurdo e revolta duas dimensões existenciais presentes ao humano. Abarcando textos estratégicos do período que compreende sobretudo os anos de 1937 e 1951, esta pesquisa é estruturada a partir de três eixos, espelhando os três capítulos da dissertação: (i) Eixo/Capítulo 1: indicar a função central que uma temporalização do tempo pela experiência temporal do instante-presente ocupa no pensamento camusiano e extrair um pressuposto teórico e imagem de absurdidade-da-história enquanto ausência de sentido e contradição potencial; (ii) Eixo/Capítulo 2: extrair a elaboração de imagens de história pela negativação de sentido (História-Terror) e pela positivação de sentido (história-revoltada-resistente); (iii) Eixo/Capítulo 3: através da indicação de uma escrita revoltada da história a partir do romance La Peste (1947), ampliar o escopo da perspectivação estético-filosófica da história por meio do debate em torno de tópicos como testemunho, transfiguração, escrita e representação da história, história e ficção. Em Camus, portanto, pela angulação existencial, temos entradas para pensar a história enquanto um fenômeno temporal e social vinculado à ação humana individual e coletiva, contribuindo a reflexões de natureza ontológica, estética e ético-política que dialogam com discussões no âmbito da filosofia e teoria da história.

This research seeks to investigate the problematics of history in the thought of the Franco-Algerian writer, artist, essayist, and philosopher Albert Camus (1913–1960). By problematics of history, I refer to the following foundational question: how does Camus perceive, understand, describe, and reflect on history (that is, on historical experience)? In addressing this question, I argue that Camus's reflections on history emerge as part of an existential inquiry rooted in an aesthetic-philosophical perspective. Viewed through an existential lens, history is approached as a phenomenon that prioritizes an imagistic and symbolic understanding of individual and collective experience in relation to the world of phenomena. These elements, which structure this historical perspective, are anchored in the existential dimensions of absurdity and revolt, both central to the human condition. This research focuses on key texts from the period spanning primarily 1937 to 1951 and is organized into three thematic axes, corresponding to the three chapters of the dissertation: (i) Axis/Chapter 1: to identify the central role played by the temporalization of time through the temporal experience of the present instant in Camus's thought, and to propose a theoretical premise and an image of the absurdity-of-history as marked by the absence of meaning and potential contradiction; (ii) Axis/Chapter 2: to explore the construction of historical images through the negation of meaning (History-Terror) and the affirmation of meaning (resistant-revolted-history); (iii) Axis/Chapter 3: to expand the aesthetic-philosophical perspective of history by analyzing La Peste (1947) as an example of a revolted writing of history, addressing themes such as testimony, transfiguration, the writing and representation of history, and the relationship between history and fiction. In Camus’s thought, the existential lens offers a framework for conceptualizing history as a temporal and social phenomenon tied to individual and collective human action. This perspective contributes to ontological, aesthetic, and ethical, political reflections that engage with key debates in the philosophy and theory of history.

Cette recherche a pour objectif d'examiner la problématique de l'histoire dans la pensée de l'écrivain, artiste, essayiste et philosophe franco-algérien Albert Camus (1913-1960). Par problématique de l'histoire, on entend la question fondamentale suivante : comment Camus ressent-il, comprend-il, décrit-il et réfléchit-il sur l'histoire (sur l'expérience historique) ? À travers cette enquête, je propose de démontrer que la pensée camusienne de l'histoire émerge dans le cadre de sa réflexion existentielle d'ordre esthético-philosophique. Vue sous l'angle existentiel, l'histoire est thématisée à partir d'une pensée qui privilégie une compréhension imagée et symbolique de l'expérience individuelle et collective, en corrélation avec le monde des phénomènes. Tous ces éléments, qui structurent cette perspective de l'histoire, trouvent dans les notions d'absurde et de révolte deux dimensions existentielles inhérentes à la condition humaine. Cette recherche s'appuie sur des textes stratégiques datant principalement de la période 1937-1951 et s'organise autour de trois axes, reflétant les trois chapitres de la thèse : (i) Axe/Chapitre 1 : identifier le rôle central que joue la temporalisation du temps par l'expérience temporelle de l'instant-présent dans la pensée camusienne et en tirer un postulat théorique et une image de l'absurdité-de-l'histoire comme absence de sens et contradiction potentielle ; (ii) Axe/Chapitre 2 : analyser l'élaboration d'images de l'histoire à travers la négation de sens (Histoire-Terreur) et l'affirmation de sens (histoire-révoltée-résistante) ; (iii) Axe/Chapitre 3 : à travers l'indication d'une écriture révoltée de l'histoire dans le roman La Peste (1947), élargir la portée de la perspective esthético-philosophique de l'histoire en engageant un débat autour de thèmes tels que le témoignage, la transfiguration, l'écriture et la représentation de l'histoire, ainsi que les relations entre histoire et fiction. Ainsi, dans la pensée de Camus, l'angle existentiel offre des entrées pour conceptualiser l'histoire comme un phénomène temporel et social lié à l'action humaine, tant individuelle que collective. Cette perspective contribue à des réflexions d'ordre ontologique, esthétique et éthico-politique, en dialogue avec des débats dans les domaines de la philosophie et de la théorie de l'histoire.