Caminhos e conexões do fazer saúde nos territórios : um olhar sobre as experiências municipais de saúde no Rio Grande do Sul – 2018 a 2022

Abstract

Introdução: A dissertação parte da compreensão histórica e sociopolítica do trabalho em saúde no Brasil, com ênfase na descentralização e na valorização do território como espaço de produção do cuidado. No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), marcado pela pluralidade cultural e desigualdades regionais, a pesquisa buscou analisar as práticas locais que revelam a implementação concreta dos princípios do SUS no cotidiano dos municípios do Rio Grande do Sul. Objetivo: Compreender as complexidades e dinâmicas das práticas de cuidado à saúde nos municípios do Rio Grande do Sul, por meio da sistematização e análise dos relatos de experiências da Mostra "Brasil, aqui tem SUS" dos anos de 2018, 2019 e 2022, identificando tendências, padrões e inovações nas práticas municipais. Metodologia: Estudo de abordagem mista, com análise qualitativa e quantitativa de 76 relatos sistematizados. Os dados foram coletados no repositório público do CONASEMS. A análise qualitativa seguiu a técnica de análise de conteúdo de Bardin, com categorização temática. A quantitativa descreveu frequência e distribuição das experiências por porte populacional e macrorregião de saúde. As experiências foram organizadas em seis categorias: atualização do trabalho frente à complexidade do cuidado, diálogos com práticas ancestrais, trabalho multiprofissional, modelagens tecnoassistenciais inovadoras, autonomia local e capacidade de gestão do trabalho. Resultados e discussão: As análises revelam a diversidade e potência das práticas municipais, com protagonismo de municípios de pequeno porte. As experiências evidenciam estratégias de enfrentamento às adversidades e arranjos inovadores construídos a partir do território. Identificou-se forte presença de práticas baseadas na escuta ativa, acolhimento, vínculo e valorização da cultura local. A sistematização das narrativas mostrou-se potente como ferramenta de aprendizagem e fortalecimento das práticas em saúde. Foram destacados também os limites estruturais como escassez de profissionais, rotatividade de equipes e desafios de institucionalização das experiências. Aplicabilidade no campo da Saúde Coletiva: A pesquisa reforça o valor das experiências locais como fontes legítimas de produção de conhecimento em saúde coletiva. Evidencia a importância da escuta dos territórios para a formulação de políticas públicas sensíveis às realidades locais. Também aponta a necessidade de políticas de valorização do trabalho em saúde, educação permanente e fortalecimento da gestão local. Os resultados dialogam diretamente com os princípios do SUS e oferecem subsídios concretos para estratégias de formação, planejamento e gestão em saúde coletiva. Considerações finais: A dissertação demonstra que as práticas de cuidado desenvolvidas nos municípios analisados materializam os princípios do SUS, revelando formas inovadoras e resolutivas de organização do trabalho em saúde. As experiências relatadas são expressão viva da capacidade criativa e política dos territórios. Conclui-se que a valorização dessas práticas e sua sistematização são essenciais para o fortalecimento do SUS e para o enfrentamento das desigualdades em saúde. O estudo contribui para o reconhecimento do saber do território como estratégia formativa, política e técnica, reafirmando o compromisso da saúde coletiva com a vida, a justiça social e a democracia.

This dissertation analyzes health care practices in the territories of Rio Grande do Sul, based on experience reports submitted to the "Brasil, aqui tem SUS" (Brazil, SUS is here) exhibition, organized by the National Council of Municipal Health Secretariats (CONASEMS) in the years 2018, 2019, and 2022. The introduction discusses the historical trajectory of health work and the relevance of decentralization as a strategy to strengthen Brazil’s Unified Health System (SUS), highlighting the territory as a fundamental space for the production of care. The general objective was to understand the complexities and dynamics of health care practices in Rio Grande do Sul municipalities through the systematization and analysis of experience reports, identifying trends, patterns, and innovations that reflect SUS principles and guidelines in local territories. A mixed-methods study was conducted, combining qualitative and quantitative approaches. Content analysis, based on Bardin’s method, was used to categorize and interpret the narratives, and descriptive statistics were applied to assess the frequency and distribution of experiences by territory, population size, and health macro-region. The results revealed the diversity and strength of local health initiatives, organized into six analytical categories: updating practices to address the complexity of care; dialogue with ancestral practices; multiprofessional work; innovative techno-assistance models; local autonomy; and workforce management capacity. Quantitative analysis highlighted the significant participation of small municipalities and the recurrence of experiences in certain locations over time. The discussion shows that these reports highlight singular forms of care organization shaped by local needs and potentials. Health professionals emerge as key actors in addressing challenges and implementing strategies that embody equity, integrality, social participation, and cultural sensitivity. It is concluded that systematizing these experiences contributes to the strengthening of SUS by recognizing transformative and innovative practices as fundamental tools for public health policymaking tailored to local realities.