Desenvolvimento, validação de conteúdo e reprodutibilidade do protocolo de avaliação remota da postura estática (ARPE)

Abstract

Justificativa: Com a imposição do isolamento social em decorrência da pandemia surgiu a necessidade de realizar avaliação postural através do atendimento remoto já que identificamos a inexistência de um protocolo de avaliação postural completo. Objetivo: Desenvolver, validar o conteúdo e avaliar a reprodutibilidade intra-avaliador e interavaliador do protocolo ARPE. Métodos: Essa pesquisa possui três etapas: [1] Condução de uma revisão de escopo seguindo os passos metodológicos do PRISMA-ScR. Foi realizada uma busca por dois revisores independentes nas bases Pubmed, Embase e Scopus. Foram incluídos artigos com descrição da avaliação da postura estática por meio da telerreabilitação que apresentassem suas propriedades de medidas avaliadas. [2] Desenvolvimento do protocolo ARPE baseado na revisão de escopo; na experiência pessoal das pesquisadoras no que se refere ao atendimento remoto e ao desenvolvimento de novos instrumentos; e em um estudo piloto, com objetivo de identificar quais variáveis da avaliação presencial seriam passíveis de adaptação para a avaliação remota, utilizando as tecnologias de informação, como smartphones, notebooks e tablets. O protocolo ARPE foi inicialmente composto por: (a) um Checklist Postural para guiar a avaliação, com descrição dos parâmetros da postura nos planos frontal de frente e de costas e no plano sagital; (b) um Manual do Avaliador, com informações detalhadas de como realizar a avaliação do atendimento remoto; e (c) um Manual do Avaliado, com instruções para a pessoa que será avaliada. Para a validação de conteúdo do protocolo ARPE foram convidados seis experts em avaliação postural para avaliar os três itens do protocolo ARPE e 10 leigos para avaliar o Manual do Avaliado. O questionário de validação avaliava o protocolo em geral e cada item isolado, contendo espaço para sugestões dos experts e leigos. Foi utilizado o Índice de Validade de Conteúdo (CVI) como propriedade de medida para confirmação da validade do ARPE. [3] Avaliação das reprodutibilidades intra e Interavaliador do protocolo ARPE, que contou com uma amostra de 51 participantes e com dois pesquisadores para realizar a avaliação. A reprodutibilidade intra-avaliador foi realizada com intervalo de 7-10 dias pelo primeiro avaliador. A reprodutibilidade interavaliador foi realizada por dois avaliadores independentes. Foi utilizada estatística Kappa (k) e percentual de concordância (%C). Resultados: Na revisão de escopo foram encontrados apenas três estudos que realizaram avaliação postural por meio de assistência remota, cujos instrumentos utilizados apresentavam as propriedades de medida descritas, mas a avaliação postural não era completa, apenas de alguns segmentos corporais. Dois estudos recomendaram a realização da avaliação postural remotamente. As principais limitações relatadas foram dificuldades técnicas, desempenho em ambiente simulado e constrangimento dos avaliados em se despir. A validade de conteúdo foi realizada em 2 rounds de avaliações com os experts e um round com os leigos. No primeiro round com os experts os CVI variaram de 83% a 98,6%. Após ajustes na descrição da vestimenta, descrição do posicionamento das escápulas e da “cintura”, os CVI atingiram 100%. No primeiro round com os leigos os CVI foram de 100%. No segundo round com os experts, os CVI foram de 100%. Na reprodutibilidade intra-avaliador foram encontrados k de 0,9 para todo o Checklist Postural. Na reprodutibilidade interavaliador, k de 0,4, exceto para: plano frontal de frente cinturas(k=0,353), plano frontal de costas escápulas (k=0,310), plano frontal de costas joelhos linhas poplíteas (k=0,270) e plano frontal de costas pés (k=0,271). No entanto, os %C foram superiores a 50%, com exceção do plano frontal de costas escápulas (47%). Conclusão: Os achados da revisão de escopo sugerem que há evidências limitadas para orientar os fisioterapeutas na realização de avaliações posturais remotamente. A concordância entre os experts e leigos sobre o conteúdo do protocolo ARPE confirma sua validade de conteúdo e de acordo com os valores, o protocolo ARPE é reprodutível, podendo ser usado pelo mesmo avaliador ou por avaliadores diferentes.

Justification: With the imposition of social isolation as a result of the pandemic, the need to perform a postural assessment through remote assistance arose, as we identified the lack of a complete postural assessment protocol. Objective: To develop, validate the content and evaluate the intra-rater and inter-rater reproducibility of the ARPE protocol. Methods: This research has three stages: [1] Conducting a scoping review following the methodological steps of PRISMA-ScR. A search was carried out by two independent reviewers in Pubmed, Embase and Scopus databases. Articles with a description of the assessment of static posture through telerehabilitation that presented their properties of evaluated measures were included. [2] Development of the ARPE protocol based on the scoping review; in the researchers' personal experience with regard to remote assistance and the development of new instruments; and in a pilot study, with the aim of identifying which face-to-face assessment variables could be adapted for remote assessment, using information technologies, such as smartphones, notebooks and tablets. The ARPE protocol was initially composed of: (a) a Postural Checklist to guide the assessment, with a description of posture parameters in the front and back planes and in the sagittal plane; (b) an Assessor's Manual, with detailed information on how to perform the remote assistance assessment; and (c) an Assessee Handbook, with instructions for the person being assessed. For content validation of the ARPE protocol, six experts in postural assessment were invited to assess the three items of the ARPE protocol and 10 laypeople to assess the Subject's Manual. The validation questionnaire evaluated the protocol in general and each item separately, containing space for suggestions by experts and laypeople. The Content Validity Index (CVI) was used as a measurement property to confirm the validity of the ARPE. [3] Assessment of intra and inter-rater reproducibility of the ARPE protocol, which had a sample of 51 participants and two researchers to carry out the assessment. Intra-rater reproducibility was performed with an interval of 7-10 days by the first rater. Inter-rater reproducibility was performed by two independent raters. Kappa statistics (k) and percentage of agreement (%C) were used. Results: In the scope review, only three studies were found that performed postural assessment through remote assistance, whose instruments used had the described measurement properties, but the postural assessment was not complete, only of some body segments. Two studies recommended performing the postural assessment remotely. The main limitations reported were technical difficulties, performance in a simulated environment and embarrassment of the subjects to undress. Content validity was performed in 2 rounds of evaluations with experts and one round with laypeople. In the first round with the experts, the CVI ranged from 83% to 98.6%. After adjustments in the description of clothing, description of the positioning of the shoulder blades and the “waist”, the CVI reached 100%. In the first round with lay people the CVI were 100%. In the second round with the experts, the CVI were 100%. In the intra-evaluator reproducibility, a k of 0.9 was found for the entire Postural Checklist. In the inter-rater reproducibility, k of 0.4, except for: frontal plane of front waist (k=0.353), frontal plane of back scapulae (k=0.310), frontal plane of back knees popliteal lines (k=0.270) and frontal plane back to feet (k=0.271). However, the %C were greater than 50%, with the exception of the frontal plane of back scapulae (47%). Conclusion: Findings from the scoping review suggest that there is limited evidence to guide physical therapists in performing remote postural assessments. The agreement between experts and laypeople on the content of the ARPE protocol confirms its content validity and, according to the values, the ARPE protocol is reproducible and can be used by the same evaluator or by different evaluators.