Hierarquias do cuidado : a experiência das trabalhadoras domésticas em Nova Déli - Índia

Abstract

Este estudo visa compreender as complexas dinâmicas sociais na vida de mulheres trabalhadoras domésticas na cidade de Nova Déli, Índia, especificamente aquelas que migraram de suas aldeias para participar de trabalhos que envolvem a reprodução e manutenção das relações familiares nas casas de classes média e alta em Déli. O objetivo principal da tese é desafiar as noções prevalentes de hierarquia e desigualdade nas estruturas sociais, particularmente no contexto da Índia. Argumento, a partir dos estudos da antropologia da moral e do gênero, que a hierarquia pode servir como uma fonte de esperança e ambição social, em vez de ser apenas uma força opressora. Utilizei me da pesquisa etnográfica, realizando um extenso trabalho de campo de 18 meses na organização Adivasi Jeevan Vikas Sanstha (em português, Organização da Vida e do Desenvolvimento das Tribos) em Nova Déli. Além disso, busquei compreender o raciocínio moral por trás da posição social das mulheres e seus relacionamentos com a família, os empregadores e a AJVS. Os resultados sugerem que muitas trabalhadoras domésticas veem as estruturas hierárquicas como benéficas para a busca de vidas melhores, ao contrário da crença de que as hierarquias perpetuam apenas a desigualdade. As trabalhadoras domésticas navegam por uma rede complexa de interdependência que influencia sua mobilidade social e aspirações, sugerindo dois sentidos de sua transformação, um pessoal e outro coletivo. Embora a entrada das mulheres para o mercado de trabalho do care reitere um contexto de precariedade, falta de direitos e assimetrias sociais, as trabalhadoras reinventam um sentido para o cuidado que perpassa a manutenção de seus laços de parentesco. O cuidado, nesse sentido, aparece atrelado a obrigações morais das mulheres para com as futuras gerações, intensificando, dessa forma, suas estratégias de sobrevivência e ambições sociais.

This study aims to understand the complex social dynamics in the lives of domestic workers in New Delhi, India, specifically those who have migrated from their villages to engage in work that involves the reproduction and maintenance of family relationships in middle and upper class homes in Delhi. The main objective of the thesis is to challenge prevailling notions of hierarchy and inequality within social structures, particularly in the context of India. I argue, based on Moral and Gender Anthropology, that hierarchy can serve as a source of hope and social ambition rather than merely an oppressive force. I employed ethnographic research, conducting extensive fieldwork over 18 months with the Adivasi Jeevan Vikas Sanstha (Organization for Life and Development of Tribes) in New Delhi. Additionally, I sought to understand the moral reasoning behind the social position of women and their relationships with family, employers, and the AJVS. The results suggest that many domestic workers view hierarchical structures as beneficial for pursuing better lives, contrary to the belief that hierarchies solely perpetuate inequality. Domestic workers navigate a complex network of interdependence that influences their social mobility and aspirations, suggesting two senses of transformation: one personal and the other collective. Although women’s entry into the care labor market reiterates a context of precarity, lack of rights, and social asymmetries, these workers reinvente a sense of care that permeates the maintenance of their kinship ties. In this sense, care is linked to women’s moral obligations toward generations, thereby intensifying their survival strtegies and social ambitions.