A linguagem e o precariado : práticas linguageiras de resistência à precariedade no trabalho plataformizado
Visualizar/abrir
Data
2025Autor
Orientador
Nível acadêmico
Mestrado
Tipo
Assunto
Resumo
Este relatório busca compreender as dinâmicas do mercado contemporâneo e as suas exigências para os trabalhadores das classes populares, considerando a escassez de reflexões sobre o tema na área de Linguística Aplicada, especialmente no que diz respeito aos estudos de educação linguística. Ancorado na proposta da Linguística Aplicada INdisciplinar (Moita-Lopes, 2006b), o estudo propõe-se a gerar inteligibilidades acerca das novas dinâmicas do mercado de trabalho e do papel da linguagem nesses e ...
Este relatório busca compreender as dinâmicas do mercado contemporâneo e as suas exigências para os trabalhadores das classes populares, considerando a escassez de reflexões sobre o tema na área de Linguística Aplicada, especialmente no que diz respeito aos estudos de educação linguística. Ancorado na proposta da Linguística Aplicada INdisciplinar (Moita-Lopes, 2006b), o estudo propõe-se a gerar inteligibilidades acerca das novas dinâmicas do mercado de trabalho e do papel da linguagem nesses espaços, com a colaboração de trabalhadores de plataformas digitais. O objetivo primário consiste em explorar o que os discursos desses trabalhadores revelam sobre as dinâmicas do mundo do trabalho contemporâneo, em especial, do trabalho plataformizado e sobre a concepção do precariado como categoria social. O enquadramento teórico estabelece um diálogo com a Economia Política, visando discutir o papel da linguagem na nova economia globalizada (Heller & McElhinny, 2017), e explora o trabalho ideológico de linguagem (Gal & Irvine, 2019) no contexto de pesquisa. Ademais, articula-se com a Sociologia e a Economia para compreender o mundo do mercado contemporâneo (Allan & McElhinny, 2017; Antunes, 2020) e a categoria do precariado (Standing, 2020). A investigação, de caráter exploratório, adotou uma metodologia qualitativa interpretativa (Heller et al., 2018; Mason, 2002) e realizou doze entrevistas semiestruturadas com dez participantes homens, entre 25 e 39 anos, cuja principal fonte de renda é o trabalho plataformizado. O exame dos dados revelou o reconhecimento, por parte dos participantes, da insuficiência comunicativa dos mecanismos de suporte e apoio ao trabalhador das plataformas e dos impactos disso na sua segurança, levando-os a desenvolver práticas e estratégias – individuais ou coletivas – para enfrentar essa carência de comunicação e proteção. Os participantes foram organizados analiticamente em dois grupos: os solitários, que apresentam maior adesão aos discursos neoliberais, pautados pela construção do sujeito autônomo, individual e flexível (Park, 2013), e que manifestam micro-práticas de segurança menos linguageiras, isto é, são menos verbais e comunicativas, e mais individuais e semióticas; e os solidários, que demonstram menor adesão a esses discursos, valorizam mais as redes de solidariedade e adotam micro-práticas de segurança mais linguageiras, são coletivas e verbalmente linguageiras. Argumenta-se que, ao compreender a precariedade como um sentimento de insegurança e angústia, o mundo do trabalho – especialmente, o trabalho plataformizado – configura-se como precário. Isso se evidencia pelos relatos dos participantes acerca de suas experiências, as quais são marcadas por micro-práticas de segurança (Rampton & Charalambous, 2020), as quais enregistram esperança (Silva & Lee, 2024) e resistem ao medo de ataques e à ameaça de morte, indiciando uma cultura de sobrevivência (Silva, 2023). ...
Abstract
This report seeks to understand the dynamics of the contemporary market and its demands on workers from popular classes, considering the lack of reflections on this topic in the field of Applied Linguistics, particularly regarding linguistic education studies. Anchored in the proposal of INdisciplinary Applied Linguistics (Moita-Lopes, 2006b), the study aims to generate insights into the new dynamics of the labor market and the role of language in these spaces, in collaboration with platform wo ...
This report seeks to understand the dynamics of the contemporary market and its demands on workers from popular classes, considering the lack of reflections on this topic in the field of Applied Linguistics, particularly regarding linguistic education studies. Anchored in the proposal of INdisciplinary Applied Linguistics (Moita-Lopes, 2006b), the study aims to generate insights into the new dynamics of the labor market and the role of language in these spaces, in collaboration with platform workers. The primary objective is to explore what these workers' discourses reveal about the dynamics of contemporary work, particularly platform-mediated work, and about the concept of the precariat as a social category. The theoretical framework establishes a dialogue with Political Economy to discuss the role of language in the new globalized economy (Heller & McElhinny, 2017) and examines the ideological work of language (Gal & Irvine, 2019) within the research context. Additionally, it engages with Sociology and Economics to understand the contemporary market (Allan & McElhinny, 2017; Antunes, 2020) and the category of the precariat (Standing, 2020). This exploratory investigation adopted a qualitative interpretative methodology (Heller et al., 2018; Mason, 2002) and conducted twelve semi-structured interviews with ten male participants aged between 25 and 39 years old, whose primary source of income is platform work. The data analysis revealed that participants recognize the insufficiency of support mechanisms for platform workers and the resulting impact on their safety, leading them to develop individual or collective practices and strategies to address this lack of communication and protection. The participants were analytically categorized into two groups: the solitary ones, who show greater adherence to neoliberal discourses, characterized by the construction of the autonomous, individualistic, and flexible subject (Park, 2013), and who exhibit less language-mediated micro-practices of safety, that is, they are less verbal and communicative, and more individual and semiotic; and the solidary ones, who show less adherence to such discourses, place greater value on solidarity networks, and adopt more language-mediated micro-practices of safety, which are collective and verbally expressive. It is argued that, by understanding precariousness as a feeling of insecurity and anxiety, the world of work – especially platform-mediated work – is precarious. This is evidenced by the participants' accounts of their experiences, marked by micro-practices of securitization (Rampton & Charalambous, 2020), which enregister hope (Silva & Lee, 2024) and resist the fear of attacks and the threat of death, indexing a culture of survival (Silva, 2023). ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Coleções
-
Linguística, Letras e Artes (2958)Letras (1817)
Este item está licenciado na Creative Commons License
