Política externa e movimentos sociais : uma análise da República Islâmica do Irã

Abstract

A trajetória da mobilização social iraniana se entrelaça com as interações do país na política mundial. Apesar disso, há uma tendencia na literatura de Relações Internacionais em ignorar o dinamismo social do Irã. Ao delegar à mobilização social um papel às margens na análise da política externa iraniana, essas perspectivas escondem a complexidade do seu comportamento internacional. Buscando superar esses limites, esta tese conferiu aos movimentos sociais iranianos um protagonismo na análise da política externa da República Islâmica. Adotando uma abordagem construtivista das relações internacionais, buscou-se responder à pergunta: “Os movimentos sociais e política externa iraniana vem se constituindo mutuamente desde 1979?”. Por meio de uma abordagem interpretativa e da aplicação da Análise Qualitativa de Documentos (QDA), a pesquisa procurou identificar convergências entre a mobilização social e a política externa do Irã que nos permitissem estabelecer uma relação de coconstituição. Foram analisadas três esferas da atuação internacional iraniana: (i) cooperação internacional; (ii) relações regionais; e (iii) política nuclear. Com base no material empírico consultado, conclui-se que há uma relação de coconstituição entre política externa e movimentos sociais no Irã. A análise nos permite afirmar que a política externa condiciona os movimentos sociais iranianos, enquanto estes são parte constitutiva do comportamento internacional da República Islâmica. A política externa afeta as origens, os objetivos e a trajetória dos movimentos sociais do Irã, incentivando e limitando suas demandas. Embora outros fatores também influenciem o comportamento internacional iraniano, observa-se uma convergência entre as demandas desses movimentos e as ações externas do país, o que sugere uma influência mútua entre esses processos. O reconhecimento dessas intersecções entre a mobilização social e a atuação internacional da República Islâmica confere uma compreensão mais abrangente e multidimensional à política externa iraniana.

The trajectory of Iranian social mobilization is closely intertwined with the country’s interactions in global politics. However, there is a tendency in the field of International Relations to overlook the social dynamism of Iran. By relegating social mobilization to a marginal role in the analysis of Iran's foreign policy, these perspectives obscure the complexity of its international behavior. This research seeks to overcome these limitations by giving Iranian social movements a central role in the analysis of the Islamic Republic’s foreign policy. Adopting a constructivist approach to international relations, the study aimed to answer the question: “Have social movements and Iranian foreign policy been mutually constituting each other since 1979?” Through an interpretive approach and the application of Qualitative Document Analysis (QDA), the research sought to identify convergences between social mobilization and Iran’s foreign policy that could establish a relationship of coconstitution. Three areas of Iran’s international engagement were analyzed: (i) international cooperation, (ii) regional relations, and (iii) nuclear policy. Based on the empirical material examined, the study concludes that there is indeed a relationship of co-constitution between foreign policy and social movements in Iran. The analysis shows that foreign policy shapes Iranian social movements, while these movements are a constitutive part of the Islamic Republic’s international behavior. Foreign policy shapes the origins, objectives, and trajectory of Iran’s social movements. While other factors also influence Iranian international behavior, the convergence between these movements' demands and the country's foreign actions indicates a mutual influence. Recognizing the intersections between social mobilization and Iran’s international actions offers a more comprehensive and multidimensional understanding of the country’s foreign policy.