Comportamento alimentar infantil e indicadores antropométricos a partir dos 12 meses de idade

Abstract

Introdução: A alimentação na infância é fundamental para o crescimento e a formação de hábitos saudáveis, sendo recomendado a prática do aleitamento materno exclusivo até os seis meses. Além de fornecer nutrientes essenciais, uma alimentação adequada favorece comportamentos alimentares saudáveis ao longo da vida. Tais comportamentos podem impactar no estado nutricional e composição corporal das crianças. Objetivo: Avaliar a associação entre o comportamento alimentar infantil e indicadores antropométricos no primeiro ano de vida. Métodos: Estudo transversal aninhado a um ensaio clínico randomizado (ECR) envolvendo três grupos distintos de crianças randomizadas quanto ao método de introdução da alimentação complementar (ReBEC: RBR-229SCM nº U1111-1226-9516). Para avaliação do comportamento alimentar das crianças, foi aplicado um questionário retrospectivo denominado Baby Eating Behavior Questionnaire (BEBQ). Dados antropométricos de peso e estatura dos lactentes foram obtidos e os escores-z dos índices antropométricos peso/idade, estatura/idade, peso/estatura e índice de massa corporal/idade – (IMC/idade) foram calculados. Também foram mensuradas e calculados os escores-z das dobras cutâneas tricipital/Idade (DCT/idade) e subescapular/idade (DCSE/idade). A classificação nutricional de acordo com os índices antropométricos e DCT/idade e DCSE/idade foi realizada de acordo com as curvas de crescimento infantil da Organização Mundial de Saúde. Análise de regressão linear foi utilizada para avaliar a associação entre as variáveis de exposição (pontuação nas subescalas do BEBQ) e os desfechos contínuos, enquanto a regressão de Poisson foi empregada para avaliar a associação entre as variáveis de exposição e os desfechos categorizados. As análises foram ajustadas para fatores de confusão, identificados por meio da construção de um DAG (Directed Acyclic Graph). O projeto foi aprovado pelo comitê de ética institucional, nº 2019- 02300 (CAAE: 01537018.5.0000.5327). Resultados: Das 140 crianças que receberam a intervenção no ECR, 125 tinham dados completos do BEBQ, das quais 118 tinham dados disponíveis de peso e estatura e 66 das dobras cutâneas. A média (DP) das subescalas do BEBQ resposta à comida, prazer ao comer, resposta à saciedade, lentidão ao comer e apetite geral foi de 16.5 (DP: 3.8), 15.8 (DP: 1.2), 6.6 (DP: 2.0), 10.7 (DP: 2.0), 1.4 (DP: 0.7), respectivamente. Foi observada uma prevalência de muito baixa/baixa estatura 9,2% (n=8) e de sobrepeso/obesidade de 7,7% (n=7) nas crianças avaliadas. A média (DP) dos escores-z das DCT/idade e DCSE/idade foi de 2,02 (DP: 1,6) e 0,86 (DP: 1,7), respectivamente. Após ajuste para fatores de confusão, foi observado que cada ponto adicional na subescala de resposta à saciedade o escore-z da DCSE/idade dos lactentes reduz, em média, 0,19 (β ajustado: -0,19; IC95%: -0,37 a -0,01; P=0,040). Na análise ajustada observou-se que, para cada ponto adicional da subescala prazer ao comer, a prevalência de sobrepeso/obesidade, medida pelo índice peso/estatura, aumentou em 103% (RP ajustada 2,03; IC95%: 1,02 a 4,02; P=0,042). Conclusão: O comportamento alimentar infantil, mais especificamente quanto as subescalas resposta à saciedade e prazer ao comer, foi positivamente associado a DCSE/idade e a uma maior prevalência de sobrepeso/obesidade pelo índice peso/estatura em lactentes com 12 meses de idade ou mais, respectivamente.

Introduction: Childhood nutrition is essential for growth and to form healthy habits, with exclusive breastfeeding recommended up to six months. Beyond providing essential nutrients, proper nutrition supports healthy eating behaviors throughout life. Such behaviors can impact children’s nutritional status and body composition. Objective: To assess the association between infant eating behavior and anthropometric indicators in the first year of life. Methods: A cross-sectional study nested within a randomized controlled trial (RCT) involving three distinct groups of children, randomized according to the complementary feeding introduction method (ReBEC: RBR-229SCM nº U1111-1226-9516). To assess the eating behavior of the infants, a retrospective questionnaire, the Baby Eating Behavior Questionnaire (BEBQ), was administered. Anthropometric data on infant weight and height were collected, and z-scores for weight-for-age, height-for-age, weight-for-height, and body mass index-for-age (BMI-for-age) were calculated. Additionally, the triceps skinfold-for-age (TSF-for-age) and subscapular skinfold-for-age (SSF-for-age) zscores were measured and calculated. Nutritional classification based on anthropometric indices and TSF-for-age and SSF-for-age was conducted according to the World Health Organization’s 2006 child growth standards. Linear regression analysis was used to evaluate associations between exposure variables (BEBQ subscale scores) and continuous outcomes, while Poisson regression assessed the associations between exposure variables and categorical outcomes. Analyses were adjusted for confounding factors identified through Directed Acyclic Graph (DAG) construction. The study was approved by the ethics committee of Institutional, no. 2019-02300 (CAAE: 01537018.5.0000.5327). Results: Among the 140 children receiving the RCT intervention, 125 had complete BEBQ data, with 118 having weight and height data available and 66 having skinfold measurements. The mean (SD) of the BEBQ subscales—food responsiveness, enjoyment of food, satiety responsiveness, slowness in eating, and general appetite were 16.5 (SD: 3.8), 15.8 (SD: 1.2), 6.6 (SD: 2.0), 10.7 (SD: 2.0), and 1.4 (SD: 0.7), respectively. A prevalence of very low/low height of n=8 (9.2%) and overweight/obesity of n=7 (7.7%) was observed among the evaluated children. The mean (SD) z-scores for TSF-for-age and SSF-for-age were 2.02 (SD: 1.6) and 0.86 (SD: 1.7), respectively. After adjusting for confounding factors, each additional point in the satiety responsiveness subscale was associated with an average reduction of 0.19 in the SSF-for-age z-score (adjusted β: -0.19; 95%CI: -0.37 to -0.01; P=0.040). In adjusted analyses, each additional point in the enjoyment of food subscale increased the prevalence of overweight/obesity, measured by the weight-for-height index, by 103% (Prevalence Ratio 2.03; 95%CI: 1.02 to 4.02; P=0.042). Conclusion: Infant’s eating behavior, specifically regarding the subscales of satiety responsiveness and enjoyment of food, was positively associated with SSF-for-age and a higher prevalence of overweight/obesity based on the weight-for-height index in infants aged 12 months or older, respectively.