Ainda sonhar : rastros oníricos do nosso tempo

Abstract

Esta tese traz como campo problemático os sonhos, na intersecção entre psicologia, artes visuais, literatura, filosofia e comunicação. Dividida em quatro seções - Madrugada, Manhã, Tarde e Noite -, traz a noção de oniropolíticas para pensar o sonho e os modos de sonhar em uma dimensão coletiva. Não tendo como preocupação definir "o que é o sonho", a tese circula por diferentes abordagens teóricas e cosmológicas, estabelecendo um laço entre psicologia social, psicologia analítica e autores como Ailton Krenak e Davi Kopenawa, compreendendo os sonhos como constituição de comunidades. Trata-se de compor narrativas e produzir pensamento sobre o mundo, rompendo com a lógica ocidental vigente, que costuma situar a produção onírica desde a perspectiva do indivíduo. Para além da expressão de sintomas individuais, os sonhos são defendidos como potentes leitores e produtores de mundos, atingindo, portanto, uma dimensão estética e política. O sonho deixa um rastro, sobrevivendo através de palavras, imagens e sensações, reencontradas no despertar como fragmento de algo que foi vivido e que é recuperado pelo relato onírico. Como produto cultural da tese, criou-se um projeto de extensão que culminou na produção de um jornal de sonhos chamado O Onírico - o primeiro jornal oniropolítico do Brazil, com periodicidade anual, distribuído gratuitamente de forma impressa e digital, com um total de 1500 assinantes. Os sonhos, transformados em notícias com uma linguagem artística e surrealista, foram coletados por meio de Oficinas de Ativação Onírica (realizadas em diferentes espaços), chamadas públicas e contribuições espontâneas. Os jornais tradicionais, embora tragam notícias advindas de acontecimentos sociais e políticos, acabam desprezando uma outra forma de narrar a experiência, ou seja, os acontecimentos noturnos. Sonhos são contados no café da manhã ou mesmo para um psicanalista, mas não são tratados com a mesma importância de uma notícia ou um fato. Trata-se de pensar os sonhos como uma experiência compartilhada entre humanos e não-humanos há milhões de anos, um dos últimos refúgios da experiência humana que não pode ser totalmente colonizado pelo capitalismo.

This thesis addresses the problematic field of dreams, in the intersection between psychology, visual arts, literature, philosophy and communication. Divided into four sections – Nighttime, Morning, Afternoon and Evening -, it uses the notion of oniropolicies to think dreams and ways of dreaming in a collective dimension. Not concerned with defining "what a dream is", the thesis circulates through different theoretical and cosmological approaches, establishing a link between social psychology, analytical psychology and authors such as Ailton Krenak and Davi Kopenawa, understanding dreams as constitution of communities. The objective is to compose narratives and produce thoughts about the world, breaking with the prevailing Western logic, which usually deals with oneiric production from the perspective of the individual. Beyond the expression of individual symptoms, dreams are regarded as powerful readers and producers of worlds, thus reaching an aesthetic and political dimension. Dreams leave a trace, surviving through words, images and sensations, reencountered at awakening as a fragment of something that was lived and which is recovered through the oneiric account. As a cultural product of the thesis, we created an extension project that resulted in the making of a dream newspaper called O Onírico – o primeiro jornal oniropolítico do Brazil (The Oniric – the first oniropolicy newspaper in Brazil), with annual periodicity, distributed free of charge in print or digitally, with a total of 1500 subscribers. The dreams, transformed into news with an artistic and surrealist language, were collected through Oneiric Activation Workshops (which took place in different spaces), public calls and spontaneous contributions. Although traditional newspapers publish news from social and political events, they end up neglecting a different form of narrating experience, namely nocturnal events. Dreams are told over breakfast or even to a psychanalyst, but they are not treated with the same importance as news or facts. The objective is to think of dreams as an experienced shared between humans and non-humans for millions of years, one of the last refuges of human experience that cannot be totally colonized by capitalism.

Esta tesis tiene como campo problemático a los sueños, en la intersección entre psicología, artes visuales, literatura, filosofía y comunicación. Dividido en cuatro secciones -Madrugada, Mañana, Tarde y Noche-, trae la noción de oniropolíticas para pensar los sueños y las formas de soñar en una dimensión colectiva. Sin preocuparse por definir "qué es un sueño", la tesis transita por diferentes enfoques teóricos y cosmológicos, estableciendo un vínculo entre la psicología social, la psicología analítica y autores como Ailton Krenak y Davi Kopenawa, comprendiendo los sueños como constitución de comunidades. Se trata de componer narrativas y producir pensamientos sobre el mundo, rompiendo con la lógica occidental actual, que suele situar la producción de los sueños desde la perspectiva del individuo. Además de la expresión de síntomas individuales, los sueños son defendidos como poderosos lectores y productores de mundos, alcanzando así una dimensión estética y política. El sueño deja un rastro, sobreviviendo a través de palabras, imágenes y sensaciones, reencontradas al despertar como un fragmento de algo vivido y que es recuperado por el relato onírico. Como producto cultural de la tesis, se creó un proyecto de extensión que culminó con la producción de un periódico de ensueño llamado O Onírico - el primer periódico oniropolítico de Brasil, con periodicidad anual, distribuido gratuitamente en formato impreso y digital, con un total de de 1500 suscriptores. Los sueños, transformados en noticias con un lenguaje artístico y surrealista, fueron recogidos a través de Talleres de Activación Onírica (realizados en diferentes espacios), convocatorias públicas y contribuciones espontáneas. Los periódicos tradicionales, si bien traen noticias sobre acontecimientos sociales y políticos, terminan descuidando otra forma de narrar la experiencia, es decir, los acontecimientos nocturnos. Los sueños se cuentan en el desayuno o incluso a un psicoanalista, pero no se les trata con la misma importancia que una noticia o un hecho. Se trata de pensar los sueños como una experiencia compartida entre humanos y no humanos durante millones de años, uno de los últimos refugios de la experiencia humana que no puede ser completamente colonizado por el capitalismo.