Marcadores de lipofagia em pacientes com doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica submetidos à cirurgia bariátrica : alterações secundárias ao bypass gástrico no metabolismo hepático de lipídeos

Abstract

Introdução: o processo intracelular derivado dos lisossomos que é utilizado no catabolismo de organelas, componentes celulares ou proteínas é conhecido como autofagia. A Metabolic dysfunction-associated steatotic liver disease (MASLD) apresenta um espectro que pode não apenas envolver formas mais brandas com apenas a deposição isolada de gordura nos hepatócitos como também pode evoluir com inflamação, fibrose e em estágios mais avançados pode culminar no desenvolvimento do hepatocarcinoma. O tratamento cirúrgico da obesidade, centrado principalmente em cirurgias metabólicas, como o bypass gástrico em y-de-roux demonstra melhora nos parâmetros de injúria hepática, em pacientes com MASLD, marcado como regressão não somente da esteatose, mas também da balonização hepatocitária, da inflamação e da fibrose. Os mecanismos envolvidos na fisiopatologia da MASLD oriundos das alterações promovidas pela autofagia/lipofagia permanecem obscuros em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica pela falta de evidências científicas. Métodos: um estudo transversal de comparação com uma coorte histórica de pacientes submetidos à CBA no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) no estudo inicial realizado por Pereira et al. A análise da expressão proteica dos marcadores P62/SQSTM1, LC3B e do TFEB foi realizada através da técnica de imuno-histoquímica após desparafinização e desidratação dos blocos que contém as amostras de tecido hepático dos pacientes que foram submetidos a cirurgia bariátrica. Resultados: houve uma associação significativa entre a balonização hepatocitária pós-operatória e o P62 ductular na cirurgia (valor-p=0,049). Quando comparados com aqueles com balonização hepatocitária ausente, os pacientes com balonização hepatocitária leve apresentaram uma maior proporção do P62 ductular positivo difuso (60,0% vs 26,3%) e uma menor proporção de positividade focal ductular (40,0 vs 68,4%). Observou-se uma associação significativa entre a hiperglicogenização nuclear pós-operatória e a presença do LC3B ductular na cirurgia (valor-p=0,043). A proporção de LC3B ductular negativo (33,8%) e de positividade difusa (58,3%) foi maior nos pacientes com hiperglicogenização nuclear leve, em comparação aos pacientes com hiperglicogenização nuclear ausente (18,8% e 31,3%, respectivamente). Conclusão: os marcadores intraoperatórios de autofagia foram relacionados a marcadores histológicos de lesão hepática um ano após o bypass gástrico. Essa perspectiva pode permitir uma avaliação para identificar pacientes com risco aumentado de resultados desfavoráveis no pós-operatório.

Introduction: The intracellular lysosome-derived process used in the catabolism of organelles, cellular components, or proteins is known as autophagy. The Metabolic dysfunction-associated steatotic liver disease (MASLD) encompasses a spectrum that may not only involve milder forms characterized by isolated fat deposition in hepatocytes but can also progress with inflammation, fibrosis, and, in more advanced stages, culminate in the development of hepatocellular carcinoma. Surgical treatment of obesity, primarily focused on metabolic surgeries such as Roux-en-Y gastric bypass (RYGB), has shown improvement in hepatic injury parameters in patients with MASLD, marked by regression not only of steatosis but also of hepatocyte ballooning, inflammation, and fibrosis. The mechanisms involved in the pathophysiology of MASLD stemming from alterations promoted by autophagy/lipophagy remain obscure in patients undergoing bariatric surgery due to the lack of scientific evidence. Methods: a cross-sectional study comparing a historical cohort of patients who underwent bariatric surgery (BS) at the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) in the initial study conducted by Pereira et al. The protein expression analysis of the markers P62/SQSTM1, LC3B, and TFEB was performed using immunohistochemistry after deparaffinization and dehydration of the tissue blocks containing liver samples from patients who underwent bariatric surgery. Results: there was a significant association between postoperative hepatocyte ballooning and ductular P62 during surgery (p-value = 0.049). Compared to those with absent hepatocyte ballooning, patients with mild hepatocyte ballooning had a higher proportion of diffuse positive ductular P62 (60.0% vs. 26.3%) and a lower proportion of focal positive ductular P62 (40.0% vs. 68.4%). A significant association was observed between postoperative nuclear glycogenation and the presence of ductular LC3B during surgery (p-value = 0.043). The proportion of negative ductular LC3B (33.8%) and diffuse positivity (58.3%) was higher in patients with mild nuclear glycogenation compared to those with absent nuclear glycogenation (18.8% and 31.3%, respectively). Conclusion: autophagy intraoperative markers were related to histologic markers of liver injury one year after the RYGB. This perspective may enable an assessment to identify patients at increased risk of unfavorable liver postoperative outcomes.