Transgeneridade e docência de música : narrativas de pessoas trans* e travestis sobre o processo de tornar-se professor(as) de música

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo geral compreender a trajetória de pessoas trans* e travestis para tornarem-se docentes de música. Teoricamente, a tese se sustenta em ideias de Judith Butler sobre heteronormatividade, conceito ampliado por transfeministas a partir da ideia de cisgeneridade, performatividade de gênero, sujeição, abjeção e precariedade. Tais ideias dizem respeito à constituição de sujeitos inteligíveis, a partir de normas de gênero e sexualidade. Sob a perspectiva da pesquisa (auto)biográfica, os dados foram produzidos por meio da técnica de entrevista narrativa. Foram realizadas, ao todo, seis entrevistas narrativas com duas professoras travestis e um professor transmasculino licenciadas/o em música. As entrevistas serviram de base para a compreensão da trajetória de cada pessoa na docência de música, considerando o percurso até o ingresso no curso de licenciatura em música, a transição de gênero, o tornar-se professora travesti ou professor transmasculino e os desafios da atuação na profissão docente. Os resultados evidenciam a escolha pela graduação em música, diferentes graus de investimento nas carreiras docentes, a precariedade experienciada na infância, as temporalidades diferentes das transições de gênero, a emergência da violência, o engajamento das três pessoas entrevistadas em construírem ambientes acolhedores para atuarem, as relações e negociações com pessoas inseridas em seus contextos profissionais e a busca pelo reconhecimento na profissão docente. A pesquisa sugere que as trajetórias das pessoas trans* e travestis para tornarem-se docentes de música se dá por meio de movimentos para alcançar a existência de si antes ou durante a atuação docente. Assim, para existir como docente de música, é necessário manejar, em um processo contínuo, a própria existência como sujeito, negociando com pessoas constituintes do processo educativo e com o contexto em que estão inseridas/o.

This research aims to understand the journeys of trans* and travesti people in becoming music educators. The thesis is theoretically grounded in Judith Butler's concepts of heteronormativity, which have been further developed by transfeminists through the lens of cisgender identity, as well as ideas of gender performativity, subjection, abjection, and precarity. These concepts relate to the formation of intelligible subjects based on gender and sexuality norms. These ideas relate to the constitution of intelligible subjects based on gender and sexuality norms. From an (auto)biographical research perspective, data were produced using the narrative interview technique. A total of six narrative interviews were conducted with two travestis and one transmasculine man, all licensed music educators. These interviews served as a foundation for understanding each interviewee’s journey in music education, including their entry into music education programs, their gender transitions, the process of becoming a travesti or transmasculine teacher, and the challenges they face in the teaching profession. The findings highlight their motivations pursuing a music degree, varying levels of investment in their teaching careers, the precarity experienced during childhood, the different timelines of gender transitions, the emergence of violence, the efforts of all three interviewees to create safe spaces for their work. The study also explores their relationships and negotiations with individuals within their professional contexts, as well as their pursuit of recognition in the teaching field. The research suggests that the paths of trans* and travestis people in becoming music educators involve efforts to affirm their self-existence both before or during their teaching careers. Thus, to exist as a music educator, it is essential to continuously navigate one’s own existence as a subject, negotiating with others involved in the educational process and within the broader context in which they operate.