Comer intuitivo e mindful eating e suas relações com qualidade da alimentação e desfechos em saúde : uma revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados

Abstract

Antecedentes: As práticas de comer intuitivo (CI) e mindful eating (ME) foram desenvolvidas a fim de minimizar consequências deletérias à saúde física e mental da cultura da dieta restritiva baseada em regras racionais apenas. Objetivo: Revisar sistematicamente a literatura de ensaios clínicos randomizados testando intervenções baseadas em comer intuitivo e mindful eating sobre desfechos relacionados à qualidade da dieta e desfechos em saúde. Métodos: A seleção de estudos foi feita conforme o processo de revisão sistemática, segundo o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Foram incluídos ensaios clínicos randomizados que utilizaram as abordagens de comer intuitivo e mindful eating sobre desfechos em saúde e/ou relacionados à qualidade da dieta, publicados a partir de 2020. A intervenção poderia ser unicamente ME e/ou CI ou poderia incluir complementarmente outros componentes de intervenção (como meditação). Os critérios de exclusão foram estudos sem acesso ao texto completo, com crianças e adolescentes, com desfechos que não relacionados à saúde ou comportamento alimentar, e estudos que envolveram apenas mindfulness ou intuição não relacionados à alimentação. Foram buscados os artigos disponíveis na base de dados PubMed em agosto de 2023, onde foram encontrados 555 artigos. Resultados: Três de 11 estudos incluídos apresentaram intervenção CI, 8 apresentaram ME. Os estudos com controle ativo dizem respeito a intervenções como grupo de aconselhamento comportamental na perda de peso, automonitoramento dietético, treinamento de habilidades de afeto positivo, psicoeducação sobre dieta e comer programado. A duração das intervenções variaram de 5 dias à 2 anos. Cinco estudos avaliaram apenas desfechos comportamentais, 6 estudos avaliaram também parâmetros fisiológicos como peso, índice de massa corporal (IMC), pressão arterial, composição corporal, colesterol e controle glicêmico e apenas 1 estudo avaliou qualidade da dieta. Os principais resultados positivos encontrados foram relacionados a comportamento alimentar, incluindo aspectos como comer emocional e comer externo, e também houve algumas melhoras modestas em IMC e níveis de compulsão alimentar e bulimia. Conclusão: As evidências sobre os efeitos do mindful eating e, especialmente, do comer intuitivo são heterogêneas e derivam de estudos ainda bastante limitados, demonstrando especialmente que tem efeito sobre o comer intuitivo ou mindful em si, com modestas melhoras em comportamento alimentar, mas não para outras variáveis em saúde.

Background: The practices of intuitive eating (IE) and mindful eating (ME) were developed in order to minimize harmful consequences to physical and mental health of the restrictive diet culture based on rational rules only. Objective: To systematically review the literature of randomized clinical trials testing interventions based on intuitive eating and mindful eating on outcomes related to diet quality and health outcomes. Methods: The selection of studies was carried out according to the systematic review process, according to the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Randomized clinical trials on intuitive eating and mindful eating with health outcomes and/or related to diet quality, published since 2020, were included. The intervention could be solely ME and/or IE or could additionally include other intervention components (like meditation). The exclusion criteria were studies without access to the full text, with children and adolescents, with outcomes not related to health or eating behavior, and studies that involved only mindfulness or intuition not related to food. Articles available in the PubMed database were searched in August 2023, where 555 articles were found. Results: Three of 11 included studies presented IE intervention, 8 presented ME. Active-controlled studies concern interventions such as group behavioral weight loss counseling, dietary self-monitoring, positive affect skills training, psychoeducation about diet, and programmed eating. The duration of interventions varied from 5 days to 2 years. Five studies evaluated only behavioral outcomes and 6 studies also evaluated physiological parameters such as weight, body mass index (BMI), blood pressure, body composition, cholesterol and glycemic control. The main positive results found concern eating behavior, including aspects such as emotional eating and external eating, and there were also some modest improvements in BMI and levels of binge eating and bulimia. Conclusion: The evidence on the effects of mindful eating and, especially, intuitive eating is heterogeneous and derives from studies that are still quite limited, demonstrating especially that it has an effect on intuitive or mindful eating itself, with modest improvements in eating behavior, but not for other variables in healthcare.