“Images of our insane presence on the surface of the earth” : insanidade e literatura como crítica do progresso na obra de W. G. Sebald
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Data
2021Autor
Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
A obra do escritor alemão, que viveu a maior parte da sua vida na Inglaterra, W. G. Sebald tornou-se uma das mais estudadas no âmbito da literatura europeia contemporânea. Quando ainda estava vivo, Sebald experimentou o crescente interesse por sua obra, especialmente a partir da publicação das traduções para o inglês, e depois de sua morte prematura, em 2001, o interesse por ela só fez crescer ainda mais. Esses estudos estão concentrados na sua grande maioria nos países de língua inglesa e alem ...
A obra do escritor alemão, que viveu a maior parte da sua vida na Inglaterra, W. G. Sebald tornou-se uma das mais estudadas no âmbito da literatura europeia contemporânea. Quando ainda estava vivo, Sebald experimentou o crescente interesse por sua obra, especialmente a partir da publicação das traduções para o inglês, e depois de sua morte prematura, em 2001, o interesse por ela só fez crescer ainda mais. Esses estudos estão concentrados na sua grande maioria nos países de língua inglesa e alemã, embora já se encontre uma quantidade crescente de trabalhos também em espanhol e francês. No nosso país, a obra de Sebald ainda não alcançou o reconhecimento público, crítico e acadêmico que já têm lá fora, e são ainda poucos os trabalhos dedicados ao autor por aqui. Em meio a uma verdadeira torrente de livros, artigos, ensaios, coletâneas, compêndios entre outras obras dedicadas à produção de Sebald no mundo da língua inglesa, por exemplo, alguns temas passaram a dominar esses trabalhos críticos, e passaram a ser chavões para o reconhecimento da obra do autor: memória, holocausto, catástrofe, melancolia, a relação entre texto e imagem, testemunho; literatura e historiografia; esses são provavelmente os que mais se destacam. Esses caminhos abertos tornaram-se também sendas fáceis para se seguir, petrificando-se, assim, como espécies de pontos de sinalização seguros para o crítico que se aventura no estudo de sua multifacetada e complexa obra. Mais recentemente tem havido, inclusive, um crescente interesse por análises de seus livros que seguem a chamada ecocrítica, certamente atraídas pela presença marcante da natureza em sua obra. Além disso, tornou-se conhecido também o pequeno cânone de outros autores e de pensadores que passaram a ser associados a sua obra, tanto pelas referências explícitas e implícitas a eles nos seus livros, quanto pelo vasto material biográfico que também passou a circular no meio acadêmico, tendo o seu espólio se tornado acessível no Arquivo Alemão de Literatura de Marbach. Entre os que brilham nesse panteão, estão as figuras dominantes de Walter Benjamin, Franz Kafka e Theodor Adorno. Em meio a esse crescente volume de pesquisa, torna-se quase impossível encontrar uma entrada e uma saída desse labirinto, mais ainda um caminho seguro que não tenha ainda sido percorrido por tantos pés. Uns dos temas que ainda não foi tão explorado por esses estudos, ao menos até onde eu conseguir ver, é o da insanidade, ou das patografias na obra de Sebald. A relação de sua obra com o tema da insanidade pode ser vista não só no modo como essa questão aparece nas suas ficções, mas também em como ela é um elemento crítico constante na abordagem de Sebald à literatura. Como estudante e professor de literatura, e como crítico literário, Sebald nos legou também uma vasta obra crítica, que nos permite ver o quanto sua formação como escritor de ficção se deu a partir das suas inúmeras leituras, e das suas visões críticas sobre os autores que ele admirava. Nesse ponto, destaca-se o seu interesse de entender os sujeitos que escrevem como sintomas de seu tempo, o que o levou a uma crítica não só da ideologia nas obras culturais, como também a uma visão das relações psíquicas entre o criador, a sociedade em que vive e sua obra. Assim, seus ensaios críticos nos fornecem eles mesmo um rico material teórico para a análise de sua obra ficcional. O tema da insanidade será abordado nesse trabalho a partir da ideia da “doença do pensamento”, termo usado por Sebald para descrever a constante produção de nossos cérebros, que compulsivamente tentam criar esquemas de pensamento e de representação para lidar com a realidade. A partir de sua leitura de Adorno e Horkheimer, veremos como ele entende essa doença do pensamento como um dos aspectos da relação entre conhecimento e poder. Essa relação será aprofundada a partir da leitura que Sebald fez da obra de Elias Canetti, especialmente sobre a ligação entre poder e paranoia no caso Schreber. A partir da ideia de que nosso pensamento tem seus aspectos patológicos, e que a literatura, como produto de nossas construções mentais, também participa da insanidade de nosso pensamento, mostrarei como Sebald entende a relação entre literatura e esquizofrenia a partir de duas linhas: uma que mostra a falha de autores modernos, como Alfred Döblin, em criar uma obra crítica da realidade sem com isso cair na regressão também destrutiva, o que se relaciona com os erros de Döblin quanto a como ele incorpora aspectos das psicopatologias em sua obra; a outra que mostra o sucesso de autores como Kafka, Ernst Herbeck, Peter Handke e Elias Canetti, no modo como eles conseguiram fazer uma crítica da sociedade e do progresso, sem que suas obras recaíssem no mito apocalíptico. Nesse segundo caso, mostrarei como a relação entre os modos de pensamento e de criação linguística em autores esquizofrênicos como Herbeck, com a noção de pensamento selvagem e de bricolagem, de Lévi-Strauss, permite-nos ver modelo que Sebald encontrou para sua forma narrativa, para criar uma literatura crítica do progresso e do poder sem se tornar uma literatura destrutiva, e conseguindo, assim, efetuar seu projeto de uma literatura de restituição. ...
Abstract
The work of W. G. Sebald, a German writer who lived most part of his life in England, has become one of the most studied works in contemporary European literature. While he was still alive, Sebald experienced growing interest in his work, especially after the publication of his English translations, and after his untimely death in 2001, interest in his work has only grown further. These studies are mostly concentrated in English and German-speaking countries, although one can also find a growin ...
The work of W. G. Sebald, a German writer who lived most part of his life in England, has become one of the most studied works in contemporary European literature. While he was still alive, Sebald experienced growing interest in his work, especially after the publication of his English translations, and after his untimely death in 2001, interest in his work has only grown further. These studies are mostly concentrated in English and German-speaking countries, although one can also find a growing number of productions in Spanish and French. In our country, Sebald's work has not yet achieved the public, critical and academic recognition that it already has abroad, and there are still few works dedicated to the author here. Even so, it has also started to have a certain growth in the last few years. Amidst a veritable torrent books, articles, essays, collections, compendiums, and other works dedicated to Sebald's production in the English-speaking world, for example, some themes have come to dominate these critical works, and have become buzzwords for recognition of the author's oeuvre: memory, holocaust, catastrophe, melancholy, the relationship between text and image, testimony; literature and historiography; these are probably the ones that stand out the most. These open roads have also become easy paths to follow, thus petrifying themselves as safe signposts for the critic who ventures into the study of his multifaceted and complex work. More recently there has even been a growing interest in analyses of his books that follow the so-called ecocriticism, certainly attracted by the striking presence of nature in his work. In addition, the small canon of other authors and thinkers who have become associated with his work has also become known, both through explicit and implicit references to them in his books, and through the vast biographical material that has also come into circulation in academia; his estate having become accessible in the German Literature Archive in Marbach. Among those who shine in this pantheon were the dominant figures of Walter Benjamin, Franz Kafka and Theodor Adorno. Amidst this growing volume of research, it becomes almost impossible to find a way in and out of this labyrinth, let alone a safe path that has not yet been traversed by so many feet. One of the themes that has not been explored so much by these studies, at least as far as I can see, is that of insanity, or the pathographies in Sebald's work. The relationship of his work to the theme of insanity can be seen not only in the way this issue appears in his fictions, but also in how it is a constant critical element in Sebald's approach to literature. As a student and teacher of literature, and as a literary critic, Sebald also bequeathed us a vast critical work, which allows us to see how much his formation as a fiction writer came from his numerous readings, and his critical views on the authors he admired. In this point, the interest in understanding the subjects that write as symptoms of their time stands out, which led him to a critique not only of the ideology in cultural works, but also to a view of the psychic relations between the creator, the society in which he lives, and his work. Thus, his critical essays themselves provide us with a rich theoretical material for the analysis of his fictional work. The theme of insanity will be approached in this work from the idea of the “disease of thought”, a term used by Sebald to describe the constant production of our brains, which compulsively try to create schemes of thought and representation to deal with reality. From his reading of Adorno and Horkheimer, we will see how he understands this disease of thought as one aspect of the relationship between knowledge and power. This relationship will be deepened with Sebald's reading of Elias Canetti's work, especially about the link between power and paranoia in the Schreber case. From the idea that our thinking has its pathological aspects, and that literature, as a product of our mental constructions, also participates in the insanity of our thinking. I will show how Sebald understands the relation between literature and schizophrenia from two lines: one that shows the failure of modern authors, such as Alfred Döblin, to create a work critical of reality without thereby falling into regression that is also destructive, which relates to Döblin's errors as to how he incorporates aspects of psychopathologies into his work; the other that shows the success of authors such as Kafka, Erns Herbeck, Peter Handke, and Elias Canetti, in the way they managed to critique society and progress without their works also becoming apocalyptic myths. In this second case, I will show how the relationship between the modes of thought and linguistic creation in schizophrenic authors like Herbeck, with Lévi-Strauss' notion of wild thought and bricolage, allows us to see the model that Sebald found for his narrative form, to create a literature critical of progress and power without becoming a destructive literature, and thus succeeding in effecting his project of a literature of restitution. ...
Zusammenfassung
Das Werk des deutschen Schriftstellers, der die meiste Zeit seines Lebens in England gelebt hat, W. G. Sebald ist zu einem der meist studierten im Bereich der zeitgenössischen europäischen Literatur geworden. Schon zu Lebzeiten erlebte Sebald ein wachsendes Interesse an seinem Werk, vor allem nach der Veröffentlichung seiner englischen Übersetzungen, und nach seinem frühen Tod im Jahr 2001 ist das Interesse daran nur noch größer geworden. Diese Studien konzentrieren sich meist auf den englisch- ...
Das Werk des deutschen Schriftstellers, der die meiste Zeit seines Lebens in England gelebt hat, W. G. Sebald ist zu einem der meist studierten im Bereich der zeitgenössischen europäischen Literatur geworden. Schon zu Lebzeiten erlebte Sebald ein wachsendes Interesse an seinem Werk, vor allem nach der Veröffentlichung seiner englischen Übersetzungen, und nach seinem frühen Tod im Jahr 2001 ist das Interesse daran nur noch größer geworden. Diese Studien konzentrieren sich meist auf den englisch- und deutschsprachigen Raum, obwohl man auch eine wachsende Zahl von Arbeiten in spanischer und französischer Sprache findet. In unserem Land haben Sebalds Werke noch nicht die öffentliche, kritische und akademische Anerkennung erlangt, die sie im Ausland bereits haben, und es gibt hierzulande immer noch wenige Werke, die den Autoren gewidmet sind. Dennoch hat auch sie in den letzten Jahren ein gewisses Wachstum zu verzeichnen. Inmitten einer wahren Flut von Büchern, Artikeln, Essays, Sammlungen, Kompendien und anderen Werken, die Sebalds Schaffen in der englischsprachigen Welt gewidmet sind, begannen einige Themen diese kritischen Arbeiten zu dominieren und wurden zu Schlagworten für die Anerkennung des Werks des Autors: Erinnerung, Holocaust, Katastrophe, Melancholie, das Verhältnis von Text und Bild, Zeugnis; Literatur und Geschichtsschreibung; das sind wohl die, die am meisten hervorstachen. Diese offenen Wege sind auch zu leicht zu beschreitenden Pfaden geworden und versteinern so als sichere Wegweiser für den Kritiker, der sich an das Studium seines vielschichtigen und komplexen Werkes wagt. In jüngster Zeit gibt es sogar ein wachsendes Interesse an Analysen seiner Bücher, die dem sogenannten Ökokritizismus folgen, sicherlich angezogen von der auffälligen Präsenz der Natur in seinem Werk. Darüber hinaus ist der kleine Kanon anderer Autoren und Denker, die mit seinem Werk in Verbindung gebracht werden, bekannt geworden, sowohl durch explizite und implizite Verweise auf sie in seinen Büchern als auch durch das umfangreiche biografische Material, das auch in der Wissenschaft in Umlauf gekommen ist, nachdem sein Nachlass im Deutschen Literaturarchiv in Marbach zugänglich geworden ist. Zu denjenigen, die in diesem Pantheon glänzen, gehören die dominanten Figuren von Walter Benjamin, Franz Kafka und Theodor Adorno. Inmitten dieser wachsenden Menge an Forschung wird es fast unmöglich, einen Weg in und aus diesem Labyrinth zu finden, geschweige denn einen sicheren Pfad, der noch nicht von so vielen Füßen durchquert wurde. Eines der Themen, das in diesen Studien nicht so sehr erforscht wurde, zumindest soweit ich das sehen kann, ist das des Wahnsinns oder der Pathographien in Sebalds Werk. Die Beziehung seines Werks zum Thema Wahnsinn zeigt sich nicht nur darin, wie dieses Thema in seinen Fiktionen auftaucht, sondern auch darin, dass es ein konstantes kritisches Element in Sebalds Herangehensweise an die Literatur ist. Als Student und Professor der Literatur und als Literaturkritiker hat Sebald uns auch ein umfangreiches kritisches Werk hinterlassen, das uns erkennen lässt, wie sehr sich seine Ausbildung als belletristischer Schriftsteller aus seinen zahlreichen Lektüren und seinen kritischen Ansichten über die von ihm bewunderten Autoren ergab. An dieser Stelle sticht das Interesse hervor, die schreibenden Subjekte als Symptome ihrer Zeit zu verstehen, was ihn zueiner Kritik nicht nur an der Ideologie in den Kulturwerken, sondern auch zu einer Vision der psychischen Beziehungen zwischen dem Schöpfer, der Gesellschaft, in der er lebt, und seinem Werk führte. So liefern uns seine kritischen Essays selbst ein reiches theoretisches Material für die Analyse seines fiktionalen Werks. Das Thema des Wahnsinns wird in dieser Arbeit von der Idee der "Krankheit des Denkens" her angegangen, ein Begriff, mit dem Sebald die ständige Produktion unseres Gehirns beschreibt, das zwanghaft versucht, Denk- und Darstellungsschemata zu schaffen, um mit der Realität fertig zu werden. Aus seiner Lektüre von Adorno und Horkheimer werden wir sehen, wie er diese Krankheit des Denkens als einen der Aspekte des Verhältnisses von Wissen und Macht versteht. Diese Beziehung wird durch Sebalds Lektüre des Werks von Elias Canetti vertieft, insbesondere über den Zusammenhang von Macht und Paranoia im Fall Schreber. Von der Idee, dass unser Denken seine pathologischen Seiten hat und dass die Literatur als Produkt unserer mentalen Konstruktionen auch am Wahnsinn unseres Denkens teilhat. Ich werde zeigen, wie Sebald die Beziehung zwischen Literatur und Schizophrenie aus zwei Linien versteht: eine, die das Scheitern moderner Autoren wie Alfred Döblin zeigt, ein realitätskritisches Werk zu schaffen, ohne dabei in eine ebenfalls destruktive Regression zu verfallen, was sich auf Döblins Fehler bezieht, wie er Aspekte von Psychopathologien in sein Werk einfließen lässt; die andere, die den Erfolg von Autoren wie Kafka, Erns Herbeck, Peter Handke und Elias Canetti darin zeigt, wie sie es geschafft haben, Gesellschafts- und Fortschrittskritik zu üben, ohne dass ihre Werke auch zu apokalyptischen Mythen wurden. In diesem zweiten Fall werde ich zeigen, wie die Beziehung zwischen den Denkmodi und der Sprachschöpfung bei schizophrenen Autoren wie Herbeck mit Lévi-Strauss' Begriff des wilden Denkens und der Bricolage es uns ermöglicht, das Modell zu sehen, das Sebald für seine Erzählform gefunden hat, um eine fortschritts- und machtkritische Literatur zu schaffen, ohne zu einer destruktiven Literatur zu werden, und so sein Projekt einer Literatur der Restitution zu verwirklichen. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Coleções
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