O (anti)guia do Peregrino das galáxias : população de rua e produção de si como obra de arte

Abstract

Esta dissertação interroga como se dão os encontros das pessoas em situação de rua com as políticas públicas, e qual o lugar relegado à arte e cultura no cuidado e constituiçãode si como obra de arte e cuidado de si entre estes, que se auto-intitulam peregrinos, usuários do Centro Pop 1, em Porto Alegre. O presente trabalho objetiva, a partir de uma bricolagem cartográfica entre cuidado de si, decolonialidade e ficção científica, ao propor uma viagem com um OVNI, acompanhado do personagem Arlindo, um usuário do serviço que contava histórias sobre ufologia no cotidiano do serviço em questão, no qual fui educador social de 2020 a 2021, e atende pessoas em situação de rua do município. São f(r)iccionados vários personagens, cenas e conceitos em diálogo com a perspectiva de produção de si como obra de arte, pensando nas potências e dobras que circulam no serviço, e na contraposição da necropolítica, e seus atravessamentos de produção política de morte, ampliados pela pandemia. Foi possível perceber que são necessárias torções conceituais e decoloniais na visão foucaultiana de cuidado de si, levando em conta um contexto latino-americano, e de situação de rua de Porto Alegre. Pensar não apenas nas faltas desta população, mas questionando que potências, alianças e sensibilidades são possíveis também, a partir da agência da arte e seu papel na produção de si dos peregrinos (como nomeiam-se as pessoas em situação de rua), nos aponta uma possibilidade ético-estético e política de uma “arte peregrina de si”.

On the wall of the dining hall at Centro Pop 1 in Porto Alegre, there was a flying saucer. The service in question, where I worked as a social educator from 2020 to 2021, serves individuals experiencing homelessness in the city. With the significant increase in the homeless population, exacerbated by the Covid-19 pandemic, within a context where the possibilities of care were further weakened by the pandemic, this dissertation sought to question the encounters of individuals experiencing homelessness with public policies, and the place relegated to art and culture in care of the self and self-construction as a work of art among the pilgrims who frequented Centro Pop 1 in Porto Alegre. This work aims, through a cartographic bricolage between care of the self, decoloniality, and science fiction, here referred to as a "thaumatrope," to take a journey with a UFO, accompanied by the character Arlindo, a service user and author of the flying saucer on the wall. Various characters, scenes, and concepts are (re)created in dialogue with the perspective of self-production as a work of art, considering the powers and folds circulating within the service and the opposition to necropolitics, with its intersections of political production of death, amplified by the pandemic. It was possible to perceive that conceptual and decolonial twists are necessary in the Foucauldian view of care of the self, taking into account a Latin American context and the situation of homelessness people in Porto Alegre. Thinking not only about the shortcomings of this population but also questioning what powers, alliances, and sensibilities are possible through the agency of art and its role in the self-production of the pilgrims (as individuals experiencing homelessness call themselves) points us towards an ethical-aesthetic and political possibility of an "art of self-pilgrimage.