Porto Alegre, cidade inteligente : análise crítica de uma agenda urbana

Abstract

Esta pesquisa sociológica tem como objetivo analisar os elementos que impulsionam e sustentam a agenda de cidades inteligentes em Porto Alegre, Brasil, entre 2010 e 2022. Embasado nos fundamentos da teoria crítica urbana, o estudo emprega uma abordagem qualitativa focada em um único caso, combinando a análise de conteúdo em documentos e a observação em eventos ligados à agenda das cidades inteligentes. A pesquisa interpreta essa agenda como uma ideologia urbana de desenvolvimento ancorada em um guarda-chuva de estratégias baseadas no vocabulário corporativo, bastante associada ao uso de tecnologias urbanas, mas não apenas. Essas estratégias, enquanto discurso e prática, abordam problemas urbanos e suas soluções que acabam por reforçar e reproduzir a produção capitalista do espaço urbano, criando checkpoints, metas e hierarquias para as cidades no contexto de competitividade interurbana. Essa agenda, embora hegemônica e imperativa no atual estágio de neoliberalização e desenvolvimento tecnológico, apresenta-se com nuances a depender do contexto analisado. Neste trabalho, os debates globais em torno dessa agenda são analisados, identificando tanto consensos quanto controvérsias. Em âmbito local, o estudo ressalta as iniciativas a partir de uma coalizão pró-inovação que dissemina a agenda inteligente em sintonia com o aprofundamento do urbanismo neoliberal na cidade. Os resultados apontam para tensões entre o valor de uso e o valor de troca no contexto de mercantilização do espaço urbano. Além disso, a pesquisa aponta estratégias de empreendedorismo urbano e planejamento pró-mercado, que influenciam a absorção de uma nova "cultura da inovação" na gestão municipal, associada à linguagem corporativa.

This sociological research aims to analyze the elements driving and sustaining the smart city agenda in Porto Alegre, Brazil, between 2010 and 2022. Grounded in the principles of urban critical theory, the study employs a qualitative approach focused on a single case, combining content analysis of documents and observation at events related to the smart city agenda. The research interprets this agenda as an urban development ideology anchored in a range of strategies based on corporate vocabulary closely associated with the use of urban technologies, but not limited to it. These strategies, as both discourse and practice, address urban issues and their solutions that ultimately reinforce and reproduce the capitalist production of urban space, creating checkpoints, goals, and hierarchies for cities in the context of interurban competitiveness. This agenda, though hegemonic and imperative in the current stage of neoliberalization and technological development, presents nuances depending on the analyzed context. In this work, global debates around this agenda are analyzed, identifying both consensus and controversies. At the local level, the study highlights initiatives from a pro-innovation coalition that disseminates the smart agenda in line with the deepening of neoliberal urbanism in the city. The results point to tensions between use value and exchange value in the context of the commodification of urban space. Additionally, the research identifies strategies of urban entrepreneurship and pro-market planning influencing the absorption of a new "culture of innovation" in municipal management, associated with corporate language.