Criações sensoriais de realidade mista

Abstract

A investigação aqui apresentada se insere no campo das poéticas interdisciplinares, tecnológicas e sensoriais e tem por tema desorientações perceptivas acerca do tempo, do espaço e da posse do próprio corpo do público em composições artísticas contemporâneas. A questão central diz respeito às estratégias cênicas de alteração da experiência sensorial habitual dos sujeitos que suscitam seu imaginário por meio de sensações. A pesquisa adotou, como princípio fundamental do processo, a composição de uma experiência artística de realidade mista (Benford e Giannachi, 2011), ou seja, uma realidade onde recursos tangíveis e virtuais se articulam, promovendo camadas espaço-temporais simultâneas. No intuito de reconhecer o campo artístico voltado à exploração da sensorialidade do público e, assim, fundamentar a pesquisa-criação, realizou-se um estudo analítico de: A Máquina de Ser Outro (2012), dispositivo do coletivo BeAnotherLab, nas versões Troca de Corpos (2014) e A Livraria de nós mesmos (2015); O Encontro (2015), espetáculo da companhia Complicite e a instalação coreografada Eterno Retorno (2019), de Lundalh&Seilt e ScanLab Projects. A análise foi feita a partir da vivência da pesquisadora nas criações, registradas em diários de bordo, e de entrevistas semi-estruturadas realizadas com os artistas. Encontra-se articulada ao material, a reflexão sobre o experimento da pesquisa que gera uma instalação performativa e uma exposição de nome O que se vê ao fechar os olhos (2023). O estudo vislumbra novos arranjos estéticos, de provocações da imaginação do público deslocadas de uma completa referencialidade.

The current investigation is set up in the field of interdisciplinary, technological and sensorial poetics and brings a discussion about perceptual disorientations regarding time, space and the audience's ownership of their own body in contemporary artistic compositions. The main question refers to scenic strategies of altering the habitual sensory experience of subjects who raise their imagination through sensations. The research adopted, as a fundamental principle of the process, the composition of a mixed reality artistic experience (Benford and Giannachi, 2011), that is, a reality where tangible and virtual resources are articulated, promoting simultaneous spatio-temporal layers. In order to recognize the artistic field focused on exploring the public's sensoriality and, thus, supporting the arts-based-research an analytical study was carried out: The Machine to be Another, device from the collective BeAnotherLab, in the versions Body Swap (2014) and The Library of ourselves (2015); the spectacle The Encounter (2015), by Complicite company and the choreographed installation Eternal Return (2019), by Lundalh&Seilt and ScanLab Projects. The analysis was made by the researcher’s experience in the creations, reported in journals and the semi-structured interviews carried out with the artists. Linked to the material is a reflection on the research experiment that generates a performative installation and an exhibition called What is seen when eyes are closed (2023). The study envisions new aesthetic arrangements, provocations of the public's imagination displaced from complete referentiality.