Séries infinitas, existência de Deus e criação do mundo em Tomás de Aquino

Abstract

O objetivo geral deste trabalho é construir uma investigação sobre como a perspectiva de Tomás de Aquino a respeito das séries causais regressivas ao infinito desafia as suas próprias posições sobre a criação ex nihilo e sobre as três primeiras vias para provar a existência de Deus. O objetivo específico é mostrar que a posição tomista, que consiste na aceitação da possibilidade lógica da tese aristotélica da eternidade do mundo, é um compromisso desnecessário para Tomás de Aquino, pois, além de ser uma tese que enfrenta sérios problemas, ela o restringe a defender a criação ex nihilo apenas devido a um compromisso pessoal com a fé cristã. Este texto propõe-se a argumentar a favor da tese de que, no contexto intelectual do século XIII, há fortes razões para não aceitar a possibilidade lógica de séries causais acidentalmente ordenadas regressivas ao infinito, em que um existente atual qualquer seja o resultado desse percurso causal que remonta ao infinito. Investigaremos se razões que levaram Tomás a rejeitar a possibilidade lógica de séries causais essencialmente ordenadas regressivas ao infinito poderiam sustentar também a rejeição da possibilidade lógica de séries causais acidentalmente ordenadas regressivas ao infinito, as quais Tomás aceita. Tendo Tomás aceito esse tipo de série causal, ele aceitou a possibilidade lógica da eternidade do mundo, como apresentou Aristóteles. Daí que Tomás na Suma, na 1ª parte, questão 46, afirme que seria por fé que defenderia o início da existência do mundo. Entretanto, se for correta a argumentação a favor da impossibilidade lógica das séries causais acidentalmente ordenadas regressivas ao infinito, que respondem pelo percurso infinito que conduziu à existência atual de um ente qualquer, então Tomás de Aquino não poderia ter considerado plausível a tese aristotélica da eternidade do mundo.

The general objective of this work is to build an investigation on how Thomas Aquinas’ perspective about the infinite regressive causal series challenges his own positions about the ex nihilo creation and about the three first ways in order to prove God’s existence. The specific objective of this work is to show that his position, which consists of the acceptance of the logical possibility concerning the Aristotelian thesis about the eternity of the world, is an unnecessary commitment assumed by Thomas Aquinas. Beyond being a thesis, which faces serious problems, it restricts him to defend the creation of ex nihilo only as a personal commitment to the Christian faith. This text proposes the defense of the thesis which sees strong reasons for not accepting the logical possibility of the infinite regress of accidentally ordered causal series, where an actual being is the result of this causal course which proceeds in infinitum. In this sense, it is proposed that Aquinas, within the intellectual context of the 13th Century, could not have accepted the logical possibility of the infinite regress of accidentally ordered causal series, in a series which comprehends the previous causes that conducted to the existence of an actual being. We will investigate the reasons why Aquinas rejected the logical possibility that the infinite regress of essentially ordered causal series could also support the rejection of the logical possibility of the infinite regress of accidentally ordered causal series, whose logic Aquinas accepts. Since Aquinas accepted such type of causal series, he accepted the logical possibility of the world eternity as presented by Aristotle. Therefore, in the Summa, First Part, question 46, Aquinas affirms he would defend the beginning of the world existence due to his faith. However, if we consider correct the argumentation which points the logical impossibility of the infinite regress of accidentally ordered causal series, which responds f