Associação entre práticas parentais na alimentação infantil e seletividade alimentar na infância

Abstract

Introdução: a seletividade alimentar se caracteriza pela recusa de uma grande quantidade de alimentos, familiares ou novos, e por determinadas preferências alimentares, resultando na ingestão de uma baixa variedade de alimentos. Práticas parentais na alimentação possuem um papel importante no desenvolvimento das preferências alimentares e do comportamento alimentar das crianças. Entender os fatores associados à seletividade alimentar é essencial para contribuir com uma melhor orientação para os pais e responsáveis, diminuindo assim os impactos negativos desse comportamento na saúde a curto e a longo prazo. Objetivo: analisar a relação entre práticas parentais e a seletividade alimentar de crianças de 12 meses de idade. Metodologia: trata-se de um estudo transversal aninhado a um ensaio clínico randomizado (ECR). Foram selecionadas variáveis de informações sociodemográficas, estado nutricional da criança, grau de seletividade alimentar, práticas parentais (práticas centradas nos pais / alto controle, práticas centradas nos pais / manejo de contingências, práticas centradas na criança) e uso de eletrônicos durante as refeições. Os dados foram coletados por meio de questionários. O grau de seletividade alimentar foi avaliado através da versão traduzida e validada do Children's Eating Behaviour Questionnaire (CEBQ), e as práticas parentais através do Questionário de Estilos Parentais na Alimentação (QEPA). Um modelo de regressão linear foi utilizado para análise da associação entre as práticas parentais e a seletividade alimentar. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre sob o nº 2019-0230. Resultados: foram analisados os dados de 139 pares mães-lactentes. O uso de práticas centradas nos pais / manejo de contingências foi maior em lactentes do sexo feminino e em crianças classificadas como eutróficas (p<0,05). As práticas centradas nos pais / alto controle e as práticas centradas na criança apresentaram associação positiva com a seletividade alimentar (p<0,05). A seletividade foi maior entre aquelas crianças que faziam uso de telas durante as refeições, porém essa diferença não foi estatisticamente significativa (p>0,05). Conclusão: as práticas parentais estão associadas à seletividade alimentar da criança, e o seu uso pode estar relacionado com o sexo e com o estado nutricional da criança. Nossos resultados reforçam a importância de iniciativas que visem a adequada orientação dos pais nessa fase da vida. Mais pesquisas são necessárias para investigar a bidirecionalidade das variáveis e as melhores formas de alterar o comportamento alimentar infantil.

food, familiar or new, and by certain food preferences, resulting in the ingestion of a low variety of foods. Parental feeding practices play an important role in the development of children's food preferences and eating behavior. Understanding the factors associated with food fussiness is essential to contribute to better guidance for parents and guardians, thus reducing the negative impacts of this behavior on health in the short and long term. Objective: to analyze the relationship between parenting practices and food fussiness in 12-month-old children. Methodology: this is a cross-sectional study nested within a randomized clinical trial (RCT). Variables of socio demographic information, child nutritional status, degree of food fussiness, parenting practices (parent-centered practices / high control, parent-centered practices / contingency management, child-centered practices) and use of electronic devices during meals were selected. Data were collected through questionnaires. Food fussiness was assessed using the translated and validated version of the Children's Eating Behavior Questionnaire (CEBQ), and parental practices were assessed using the Caregiver's Feeding Styles Questionnaire (CFSQ). A linear regression model was used to analyze the association between parent feeding practices and food fussiness. The study was approved by the ethics committee of Hospital de Clínicas de Porto Alegre under number 2019-0230. Results: data from 139 mother-infant pairs were analyzed. The use of parent-centered practices / contingency management was higher in female infants and in children classified as eutrophic (p<0.05). Parent-centered practices / high control and child-centered practices were positively correlated with food fussiness (p<0.05). Fussiness was greater among those children who used screens during meals, but this difference was not statistically significant (p>0.05). Conclusion: parenting practices are associated with the child's food fussiness, and its use may be related to the child's gender and nutritional status. Our results reinforce the importance of initiatives aimed at adequately guiding parents at this stage of life. More research is needed to investigate the bidirectionality of the variables and the best ways to change children's eating behavior.