Memória e histórias na palma da mão : inscrições biográficas numa epistemologia feminista antirracista

Abstract

De que maneira inscrições biográficas podem ser estratégias de produção de conhecimento em psicologia social? Esta é a pergunta que se faz nesta tese. Parto do conceito de memória elaborado por Silvia Cusicanqui, com o objetivo de narrar histórias produzidas em encontros com jovens em socioeducação e, posteriormente, com mulheres negras estudantes de programas de pós-graduação em universidades do sul do Brasil, para discutir sobre violências de sexismo e racismo. Há uma combinação entre o real e o ficcional nas histórias na palma da mão - que cabem na palma da mão e que carrego ao longo da minha jornada. Com base nessas histórias, aponto a necessidade de produzir alianças com masculinidades não violentas, a partir de autoras como bell hooks e Françoise Vergès. Ao discutir histórias sobre racismo em espaços acadêmicos, destaco algumas estratégias para lidar com violências. Ressalto a importância das comunidades amorosas e práticas de autorrecuperação entre mulheres negras. Por fim, discuto utopias do presente: políticas do sonho, da imaginação e do sossego. Proponho pensarmos as inscrições biográficas como uma epistemologia feminista antirracista, que concebe a experiência como uma condição para a teorização. As inscrições biográficas vão além da dimensão individual, pois permitem coletivizar e politizar experiências de mulheres negras. Quando falo em inscrição biográfica, entendo que existem especificidades em relação a uma biografia no sentido comum do termo, pois narro histórias relacionadas aos objetivos da tese, por vezes disruptivas e descontínuas. Não sigo um fio cronológico de modo a contar uma certa totalidade da minha história, mas recolho da memória acontecimentos, cenas e histórias situadas em uma política feminista de escrita e vida.

In what way can biographical inscriptions be taken as strategies of knowledge production in social psychology? This is the question posed in this thesis. Drawing on the concept of memory elaborated by Silvia Cusicanqui, aiming to narrate stories produced in meetings with young people in socio-educational measures and, later, with black women in post-graduate programs in Southern Brazil universities, to discuss sexism and racism violence. There is a combination between reality and fiction in the stories in the palm of the hand – that fit in the palm of the hand and that I carry throughout my journey. Based in these stories, I point out the need of building alliances with non-violent masculinities, drawing on authors such as bell hooks and Françoise Vergès. When discussing stories about racism in academic spaces, I point out some strategies to deal with violences. I highlight the importance of loving communities and self-recovering practices to black women. Finally, I discuss present utopias: dream, imagination and tranquility politics. I propose thinking about biographical inscriptions as a condition for theorization. Biographical inscriptions go beyond the individual scope, since they allow us to collectivize and politicize black women’s experience. When I talk about biographical inscription, I understand that there are specificities in relation to a biography in the common sense of the term, as I narrate stories related to the objectives of the thesis, sometimes disruptive and discontinuous. I do not follow a chronological thread in order to tell a certain totality of my story, but I collect from memory events, scenes and stories situated in a feminist policy of writing and life.