Doença pulmonar pós-tuberculose em uma coorte de pacientes de um hospital universitário brasileiro

Abstract

Introdução: A despeito do término do tratamento e de critérios microbiológicos de cura, pacientes com tuberculose pulmonar podem apresentar sequelas crônicas, incluindo declínio da função pulmonar, alterações radiológicas, limitação de atividades diárias e redução da qualidade de vida. No entanto, a prevalência, gravidade, tipo de dano e prognóstico dessas sequelas ainda não são claros. O objetivo do presente estudo é avaliar a função pulmonar em uma coorte de pacientes com história de tuberculose pulmonar no Brasil, bem como o declínio da função pulmonar ao longo do tempo. Métodos: Estudo de coorte retrospectiva. Pacientes > 18 anos, com tuberculose pulmonar com confirmação microbiológica, foram avaliados imediatamente após o término do tratamento e novamente ao final do acompanhamento ambulatorial (média de 8,3±4,9 anos). Nos dois momentos, foram avaliados resultados dos testes de função pulmonar, do teste de caminhada de seis minutos e da gasometria arterial, além de características demográficas, sintomas e alterações radiológicas. Resultados: Foram incluídos 114 pacientes. Ao término do tratamento, distúrbio ventilatório obstrutivo foi o padrão ventilatório mais frequente, presente em 58 pacientes (50,9%). Dispneia estava presente em 96 pacientes (84,2%). Ao final do acompanhamento, quase todos os parâmetros de função pulmonar se deterioraram ao longo do tempo. Conclusões: Sequelas pulmonares são frequentes após o término do tratamento em casos de tuberculose pulmonar, podendo ocorrer progressivo declínio da função pulmonar mesmo naqueles que preenchem critério de cura microbiológica. Pacientes com diagnóstico de tuberculose pulmonar devem ser avaliados ao término do tratamento o quanto antes e, caso se estabeleça o diagnóstico de sequelas pulmonares da tuberculose, é preciso tratá-los e oferecer-lhes reabilitação pulmonar, pois há evidências de que ela é eficaz nesses pacientes.

Introduction: Despite finishing the treatment with a bacteriologically confirmed cure, a number of patients with pulmonary tuberculosis will have tuberculosis sequelae, with loss of lung function and chronic respiratory symptoms as well as decreased exercise capacity and quality of life. However, the frequency and severity of post-tuberculosis lung disease, as well as the type of damage, severity and prognosis is not clear. Therefore, the objective of the present study was to evaluate lung function in a cohort of patients with a history of pulmonary tuberculosis in Brazil, as well as to evaluate the decline in lung function over time. Methods: Retrospective cohort study. Patients with 18 years or older, with a history of bacteriologically confirmed pulmonary tuberculosis, were evaluated right after the end of tuberculosis treatment and at the end of the follow-up period (mean 8.3 ± 4.9 years). We retrospectively reviewed pulmonary function test results, six-minute walk test results, and arterial blood gas results at these two different time points. We also collected demographic data, about symptoms and radiological abnormalities. Results: 114 patients were included in the analysis. At the end of tuberculosis treatment, 58 patients (50,9%) had obstructive ventilatory pattern. Dyspnea was present in 96 patients (84,2%). At the end of the follow-up, almost all functional parameters deteriorated over time. Conclusions: Post-tuberculosis lung disease is frequent and progressive decline of lung function presents even in cases with a bacteriologically confirmed cure. At the end of tuberculosis treatment, patients should be evaluated as early as possible and, if they present with signs of post-tuberculosis lung disease, they should be managed and offered pulmonary rehabilitation because there is evidence that it is effective in these patients.