A trajetória de uma escuta entre o literal e o literário no sistema prisional

Abstract

O objetivo desta pesquisa é investigar o percurso de um psicólogo no papel de técnico penitenciário, inserido no quadro de funcionários do estado do Rio Grande do Sul. Notam-se nessa trajetória, três etapas significativas: primeiramente, analiso a postura do psicólogo/técnico penitenciário envolvido pela ideia de se tornar um “soldado do desencarceramento”; em seguida, analiso as crises diante dos obstáculos institucionais e da própria intenção do psicólogo de praticar a psicanálise no meio penitenciário; por fim, analiso o processo de deserção, que emerge juntamente com a consciência de que é sim possível fazer psicanálise naquele contexto, desde que se assuma uma ótica mais literária e menos literal na lida com os problemas sociais e mentais envolvidos. Foi possível chegar a essa conclusão graças ao método utilizado na pesquisa e na prática sobre as quais disserto, qual seja, o reconhecimento de que a literatura influencia profundamente o método psicanalítico. Assim, busquei relacionar técnicas literárias como a escrevivência e o conceito de biografema com minhas percepções e anotações no trabalho na penitenciária. Ao longo da dissertação, identifico uma tradição psicanalítica de voltar se para o literário a fim de investigar questões da psique humana, partindo de Freud. Por meio de diversas articulações entre a prática de técnico penitenciário, de psicanalista, juntamente com a supervisão psicanalítica recebida durante a pesquisa, bem como do grupo de pesquisa e do próprio desenrolar da escrita desta dissertação, chega-se à conclusão de que a psicanálise pode ser feita em todos os âmbitos e que a psicanálise é, em essência, uma postura literária diante de problemas psíquicos.

The objective of this research is to investigate the trajectory of a psychologist in the role of a penitentiary technician, a state employee in Rio Grande do Sul. In this trajectory, we note three significant steps: first, I analyze the posture of the psychologist/penitentiary technician involved by the idea of becoming a “soldier against mass incarceration”; then, I analyze the crises in the face of institutional obstacles and the psychologist's own intention to practice psychoanalysis in the penitentiary environment; finally, I analyze the process of desertion, which emerges along with the awareness that it is indeed possible to do psychoanalysis in that context, provided that a more literary and less literal perspective is assumed in dealing with the social and mental problems involved. It was possible to reach this conclusion thanks to the method used in the research, that is, the recognition that literature profoundly influences the psychoanalytic method. Thus, I try to relate literary techniques and the concept of biographeme with my perceptions and notes at work in the penitentiary. During this research, I identify a psychoanalytic tradition of turning to the literary in order to investigate questions of the human psyche, a tradition that we can find back in Freud. Through several articulations between the practice of penitentiary technician and psychoanalyst, combining with the psychoanalytic supervision received during the research, as well as the research group and the development of the writing of this dissertation, we reach the conclusion that psychoanalysis can be done in all areas and that psychoanalysis is, in essence, a literary posture in the face of psychic problems.