Vidas e mortes em trabalhos: um estudo antropológico a partir de um presídio feminino

Abstract

Esta é uma tese etnográfica. Nela, são tecidas as histórias de vida de Débora, Dona Maria e Helena – as três principais interlocutoras deste estudo – considerando o regime fechado de cumprimento de pena de cada uma delas. Essas são histórias cheias de vida, de morte e de dores. O objetivo deste estudo é compreender os significados dos trabalhos e dos projetos – atividades disponíveis a algumas mulheres presas na Penitenciária Feminina Madre Pelletier (PFMP), localizada em Porto Alegre (RS) – na vida de cada uma das três principais interlocutoras desta pesquisa. As histórias de vida foram tecidas neste estudo tendo como eixo trabalhos ou projetos que as mulheres participaram na Penitenciária; essa última é entendida como um espaço heterogêneo, e assim, é provisório o modo como ela se define. Compreende-se que compõem essas histórias – tecidas ao longo de anos pelo encadeamento de muitos relatos narrados pelas mulheres – entrevistas em profundidade; observação participante; um cotidiano da Penitenciária; silêncios; textos escritos por uma das interlocutoras e muitas outras dimensões do trabalho de campo. Dessas histórias, foi possível compreender o significado das atividades na vida das mulheres. O tecer desses significados estabeleceu relações e limites entre os “dentros” e os “foras” da Penitenciária para cada uma delas. A formulação dessas relações e desses limites pode contribuir com uma perspectiva de estudos sobre prisões interessada e atenta aos entrelaçamentos do “dentro” e do “fora” dessas instituições e no que eles produzem na vida das pessoas.

This is an ethnographic thesis. In it, the life stories of Débora, Dona Maria and Helena – the three main interlocutors of this study – are knitted, considering the closed regime of serving time for each of them. These are stories full of life, death, and pain. The purpose of this study is to understand the meanings of works and projects – activities available to some women prisoners in the Madre Pelletier Female Penitentiary (PFMP), located in Porto Alegre (RS) – in the life of each of the three main interlocutors of this research. The life stories were knitted in this study having as pivot works or projects that women participated in the Penitentiary; the latter is understood as a heterogeneous space, and therefore, the way in which it is defined is provisional. It is understood that these stories – knitted over the years by the chain of many stories narrated by women – make up indepth interviews; participant observation; daily life at the Penitentiary; silences; texts written by one of the interlocutors, and many other dimensions of fieldwork. From these stories, it was possible to understand the meaning of activities in these women's lives. The knitting of these meanings established relationships and limits between the “inside” and the “outside” of the Penitentiary for each of them. The formulation of these relationships and limits may contribute to a perspective of studies on prisons interested and attentive to the intertwining of the “inside” and “outside” of these institutions and what they produce in people's lives.