Dimensões psicológicas, clínicas e sociodemográficas associadas à saúde mental de transgênero com disforia de gênero
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Data
2021Orientador
Nível acadêmico
Doutorado
Tipo
Assunto
Resumo
Nos últimos anos, pesquisadores envolvidos no contexto assistencial de indivíduos transgênero buscaram desvendar evidências relacionadas à etiologia, fisiopatologia e a fatores psicossociais nessa população. Já foram objeto de estudo dimensões biopsicossociais, marcadores biológicos, dados epidemiológicos e fatores de vulnerabilidade social relacionados a riscos de saúde. Entretanto, poucas pesquisas dedicaram-se a traçar medidas dimensionais relacionadas aos processos psicológicos e de funcion ...
Nos últimos anos, pesquisadores envolvidos no contexto assistencial de indivíduos transgênero buscaram desvendar evidências relacionadas à etiologia, fisiopatologia e a fatores psicossociais nessa população. Já foram objeto de estudo dimensões biopsicossociais, marcadores biológicos, dados epidemiológicos e fatores de vulnerabilidade social relacionados a riscos de saúde. Entretanto, poucas pesquisas dedicaram-se a traçar medidas dimensionais relacionadas aos processos psicológicos e de funcionamento cognitivo em transgênero no contexto de tratamento afirmativos de gênero. O termo transgênero, introduzido na literatura leiga por organizações não governamentais que defendem direitos de pessoas LGBT+, refere-se de forma ampla aos indivíduos que se identificam com gêneros variantes às expectativas sociais do seu sexo de nascimento, e tem atualmente sido utilizado pela literatura especializada. Entre transgênero, há um subgrupo de pessoas que recorre a tratamentos clínicos e cirúrgicos, a fim de minimizar o sofrimento e desconforto provocado por suas características físicas, além de afirmarem-se socialmente à sua identidade de gênero. Na prática clínica/hospitalar, esse sofrimento é abordado como disforia de gênero (DG) (DSM-5 APA 2013). Esta tese se insere na perspectiva clínico-demográfica, na modalidade da saúde pública hospitalar, em um serviço de atenção especializada em realizar procedimentos médicos para afirmação de gênero no Sul do Brasil. O estudo foi composto por mulheres e homens transexuais acima de 18 anos, com diagnóstico de DG que ingressaram nesse programa para acompanhamento clínico prévio à realização de cirurgias de afirmação de gênero (orquiectomia bilateral, penectomia, neovaginoplastia, mastectomia simples bilateral, histerectomia e colpectomia, por exemplo). Os participantes receberam os primeiros atendimentos pela equipe de saúde mental; e, a partir desses, quando indicado, eram encaminhados para seguimento assistencial na modalidade de grupos terapêuticos até a realização dos procedimentos cirúrgicos. Este trabalho visou como objetivo principal ampliar a compreensão sobre as características psicossociais, os sintomas emocionais e fatores de vulnerabilidade psicológica em uma amostra de transexuais com o diagnóstico de DG que ingressam nesse serviço, utilizando análise exploratória e descritiva das dimensões psicológicas relacionadas à estrutura de funcionamento da personalidade. Como objetivos secundários, objetivou (1) realizar levantamento epidemiológico regional de pessoas com o diagnóstico de DG que buscaram atendimento especializado, visando à realização de procedimentos cirúrgicos para transição de gênero (Estudo #1); (2) apurar a presença de estilos de funcionamento psicológico ruminativos, dimensão cognitiva que interage com eventos psicológicos negativos (Estudo #2); (3) avaliar a heterogeneidade de apresentações clínicas em indivíduos com o diagnóstico de DG, a fim de sugerir condutas clínicas individualizadas e preventivas quanto a desfechos negativos em saúde mental (Estudo #3). Com os resultados do Estudo #1, evidenciamos um aumento progressivo na procura por terapia hormonal e cirurgia de afirmação de gênero entre os anos de 2000 e 2018 em um serviço público de saúde especializado. A prevalência geral de indivíduos com DG foi de 9,3 por 100.000 indivíduos (IC 95%: 8,6 a 9,8), sendo 15 mulheres transexuais por 100.000 pessoas (IC 95%: 14 a 16) e 4,1 homens transexuais por 100.000 pessoas (IC 95%: 3,5 a 4,8). O Estudo #2 revelou a presença de pensamento ruminativo nessa população, especialmente nas mulheres transexuais (ruminação tóxica p = 0,014; ruminação reflexiva p = 0,052). A depressão, ansiedade, estresse e ideação suicida estiveram associados ao pensamento ruminativo na amostra total. O Estudo #3 constatou uma diferença no perfil de subgrupos de indivíduos transexuais, sendo que um grupo manifestou maior gravidade clínica quanto à desregulação emocional, sintomas agudos de depressão, ansiedade, estresse e padrão de pensamento ruminativo. Esse mesmo grupo demonstrou maior vulnerabilidade em termos de 9 história psiquiátrica, uso de psicofármacos, HIV positivo, abuso infantil e comportamento suicida. Esta tese fornece contribuições para a compreensão das características populacionais e apresenta os primeiros dados epidemiológicos da DG em uma amostra de indivíduos transexuais brasileiros, que acessam o serviço público de saúde especializado. Também amplia o entendimento e viabiliza condutas preventivas de saúde mental no que concerne o funcionamento desadapativo do pensamento ruminativo nesse grupo.E finalmente, exibe informações sobre a heterogeneidade de subgrupos com DG, sobretudo, diferenças em padrões de histórico psiquiátrico, clínico e de sintomatologias psicológicas. De maneira geral, os resultados desta tese descrevem características psicológicas, clínicas e sociodemográficas de uma amostra de transexuais com DG no âmbito da assistência em saúde especializada, e fornece dados para aprimorar as discussões sobre as individualidades e vulnerabilidades que afetam à saúde mental dessa população. ...
Abstract
In recent years, researchers within the context of care for transgender people have sort to untangle the various aspects related to etiology, physiopathology and the psychosocial factors of this sector of the population. This group has already been the subject for biopsychosocial dimension studies, biological markers, epidemiological data and social vulnerability factors related to health risks. However, few studies have focussed on outlining dimensional measures related to the phycological pro ...
In recent years, researchers within the context of care for transgender people have sort to untangle the various aspects related to etiology, physiopathology and the psychosocial factors of this sector of the population. This group has already been the subject for biopsychosocial dimension studies, biological markers, epidemiological data and social vulnerability factors related to health risks. However, few studies have focussed on outlining dimensional measures related to the phycological processes and the cognitive function in transgender people within the context of affirmative gender treatment. The term, transgender, introduced into lay literature by non-governmental organizations who defend the rights of the LGBT+ community, refers in a broad fashion to the people who identify themselves as variant genders regarding the social expectations of their sex, as defined at their birth, and which is currently being used in specialised literature. Within this transgender group there is a sub-group of people who look for clinical treatment and surgery in the hopes of reducing their suffering and discomfort regarding their physical characteristics and at the same time affirming themselves, socially speaking, with their generic identity. In clinical/hospital practice, this state of suffering is defined as Gender Dysphoria (GD) (DSM-5 APA 2013). This thesis falls within the framework of a clinical-demographic perspective in a public healthcare modality in a service of specialised patient treatment for the realization of medical procedures for gender affirmation in the South of Brazil. The study was made up of transexual men and women over 18 years of age, diagnosed with GD and who entered this programme for clinical treatment sessions prior to the realization of gender affirmation surgery (bilateral orchiectomy, penectomy, neovaginoplasty, simple bilateral mastectomy, hysterectomy and colpectomy, for example). The participants had their first sessions with the mental health team, and from there, when recommended, they were forwarded to the assistance sector within the modality of therapeutic groups up until the realization of their surgical procedures. The main aim of this work has been to widen comprehension of the psychosocial characteristics, emotional symptoms and psychological vulnerability factors in a sample of people diagnosed with GD who submitted themselves to this treatment service, using explorative and descriptive analysis of the psychological dimensions related to the functional structure of personality; and with secondary aims being (1) carry out a regional epidemiological survey of people diagnosed with GD who look for specialised treatment with a view to realizing gender transition surgical procedures (Study #1); (2) evaluate the presence of ruminative psychological functioning styles, cognitive dimension which interact with negative psychological events (Study #2); (3) evaluate the heterogeneity of clinical presentations in individuals diagnosed with GD with the aim of proposing individualized and preventative clinical conduct regarding negative outcomes in mental health (Study #3). With the results of Study #1, we evidenced a progressive increase in the demand for hormone therapy and gender affirmation surgery between the years 2000 and 2018 in a specialized public health service. The overall prevalence of individuals with GD was 9.3 per 100,000 individuals (95% CI: 8.6 to 9.8), with 15 transsexual women per 100,000 people (95% CI: 14 to 16) and 4.1 men transsexuals per 100,000 people (95% CI: 3.5 to 4.8). Study #2 revealed the presence of ruminative thinking in this population, especially in transsexual women (brooding p = 0.014; reflexion p = 0.052). Depression, anxiety, stress and suicidal ideation were associated with ruminative thinking in the total sample. The third study found a difference in the profile of subgroups of transsexual individuals, with one group showing greater clinical severity in terms of emotional dysregulation, acute symptoms of depression, anxiety, stress and ruminative thinking pattern. This same group showed greater vulnerability in terms of psychiatric history, use of psychotropic drugs, HIV positive, child abuse and 11 suicidal behavior. This thesis provides contributions to the understanding of population characteristics and presents the first epidemiological data from the GD in a sample of Brazilian transsexual individuals who access the specialized public health service. It also broadens the understanding and enables preventive mental health behaviors regarding the maladaptive functioning of ruminative thinking in this group. And finally, it displays information about the heterogeneity of GD subgroups, above all, differences in patterns of psychiatric, clinical and psychological symptoms. In general, the results of this thesis describe psychological, clinical and sociodemographic characteristics of a sample of transsexuals with GD in the context of specialized health care, and provide data to improve discussions on the individualities and vulnerabilities that affect the mental health of this population. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento.
Coleções
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Ciências da Saúde (9068)Psiquiatria (439)
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