Marcha das vadias : entre tensões, dissidências e rupturas nos feminismos contemporâneos

Abstract

Essa dissertação de mestrado partiu de um acontecimento – a ruptura da Marcha das Vadias de Porto Alegre no ano de 2014 – para, a partir das divergências, tensões e rupturas presentes nesse cenário, refletir sobre os atravessamentos políticos e as perspectivas feministas que se configuravam nesse momento no contexto feminista jovem da cidade. Este trabalho teve como objetivo considerar os diferentes feminismos em disputa a fim de pensar como as experiências das pessoas que compuseram o campo das “tretas” se interseccionam com a performatividade política. Com a perspectiva etnográfica, foram entrevistadas as personagens que compuseram esse cenário, descrevendo suas trajetórias envolvendo o feminismo, narrativas sobre a Marcha das Vadias e seus desdobramentos. Como parte da metodologia, destaca-se que foi importante unir o fazer político e o fazer pesquisa, a fim de demarcar o lugar de fala da pesquisadora. O estudo permitiu identificar que o movimento da Marcha das Vadias iniciou de um feminismo plural, mas que ocorreram “tretas” as quais evidenciaram as disputas em relação ao sujeito do feminismo nesse contexto. Ainda, pode-se observar, que os diferentes marcadores sociais, tais como raça, classe, pertencimento ou não ao meio universitário, maternidade, geração, trans ou cisgeneridade, contribuem para a formação desse sujeito colocado em disputa, uma vez que tais interseccionalidades marcam trajetórias de vida e lugares muitas vezes invisibilizados. Pode-se concluir que as “tretas” dos feminismos fazem parte da construção e da dinamicidade do movimento, contribuindo para sua constante transformação e para a manutenção da pluralidade dos feminismos no contexto feminista jovem da cidade.

This master's thesis came from an event - the breakdown of Slutwalk of Porto Alegre city in 2014, in which discrepancies, tensions and ruptures of this scenario caused reflections about political crossfires and feminist perspectives at that moment. This study aimed to consider different kinds of feminism in order to discuss how experiences of the ones who consolidated the disagreements, intersect with the political performativity. Using ethnographic referential, the characters who incorporate this scenario were mapped and interviewed, describing their trajectories involving feminism, Slutwalk narratives and its consequences. As part of the methodology, it was important to unite the act of doing politics with doing research in order to delimit the researcher speech. This work identified the start of the Slutwalk movement as plural feminism however disagreements occurred, revealing disputes in relation to the main subject of feminism in this context. Moreover, it was observed that the different social markers such as race, class, presence or absence in the university environment, motherhood, generation, and trans- or cis- gender, contribute to the development of the subject placed in the dispute, since these intersectionalities characterize their places and life trajectories which are often invisible. It can be concluded that feminism disagreements are part of the construction and dynamics of the movement, contributing to constant transformation and maintenance of the feminism plurality in the young feminist scene of this city.