Carga de trabalho de enfermeiros em ambulatório de quimioterapia : aferição por atividades/intervenções realizadas

Abstract

Introdução: o câncer é a segunda principal causa de morte no mundo, sendo responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018. O tratamento antineoplásico mais utilizado é a quimioterapia, a qual ocorre predominantemente em ambiente ambulatorial. Este ambiente possui grande demanda de atendimentos, diversos protocolos de quimioterapia, pacientes complexos e recursos humanos por vezes limitados. O dimensionamento da equipe de enfermagem adequado às necessidades dos pacientes, baseado em métodos validados para elaboração do quadro de pessoal em ambulatórios, possibilita a prestação de cuidado seguro ao paciente oncológico. Para isso, é necessária a mensuração da carga de trabalho do enfermeiro, que se refere às atividades efetuadas em um certo período e o tempo empregado para realizar tais atividades/intervenções. Objetivo: aferir a carga de trabalho de enfermeiros em ambulatório de quimioterapia adulto e pediátrico. Método: estudo observacional, transversal, de abordagem quantitativa. Foi realizado na Unidade de Quimioterapia Ambulatorial do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) no período de 23 a 26 de setembro de 2024. Os dados foram obtidos por meio da técnica de amostragem do trabalho (work sampling), com observação direta das enfermeiras (n=13) em intervalos de 10 minutos em jornadas de trabalho diurnas de 6 horas. Foram analisados dois turnos de manhã e dois à tarde. Aplicou-se um instrumento baseado em atividades/intervenções validadas pela Nursing Intervention Classification (NIC). Os dados foram analisados por estatística descritiva. O número de intervenções observado foi deduzido em tempo, em minutos, conforme equação proposta em pesquisa anterior. O estudo respeitou os preceitos éticos e o projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Resultados: Foram analisadas 720 amostras de trabalho das enfermeiras na execução das intervenções/atividades de enfermagem. A intervenção que teve maior frequência (15,56%) foi a Documentação, seguida por Administrar medicação IV à taxa adequada (7,36%). A classe de intervenções “Cuidado Direto” foi a que demandou mais tempo (minutos) total de trabalho (2.290'). O tempo médio de destaque desta classe ocorreu nas intervenções: Cuidados na admissão (32,5'); Administrar medicação IV à taxa adequada (29,4'); Brinquedo terapêutico (25,0'); Inserção de agulha canulada em veia periférica (22,9'); Retirar infusor elastomérico (IE) (18,0'); Configurar bomba de infusão (16,7'); Puncionar cateter venoso central (15,7'); Controle do ambiente: conforto (15,0'); Controle da quimioterapia (13,3'); Preparar a dose correta de ampola, frasco ou seringa (13,3'); e Administrar injeção utilizando técnica asséptica e protocolo apropriado (13,3). As intervenções da classe “Cuidado Indireto”, a qual demandou 2.1190 minutos totais de trabalho. As intervenções com maior tempo médio foram: Preceptor: estudante (80,0'); Supervisão de funcionários (70,0'), Documentação (56,0'); Preparar material para punção de acesso venoso central (18,6'), Checagem de substância controlada (13,3'); e Preparar medicação (13,3'). A produtividade encontrada foi de 73,06%. Conclusão: a carga de trabalho dos enfermeiros no ambulatório de quimioterapia é consumida majoritariamente por atividades de cuidado, seja direto ou indireto. A produtividade dos profissionais é um dado importante, no entanto, o trabalho improdutivo - consumido com atividades pessoais - também é um fator a ser considerado na projeção de pessoal com base nos tempos aferidos. Assim, este estudo pode contribuir com a fundamentação de parâmetros para o dimensionamento de enfermeiras em ambulatórios de quimioterapia. Recomenda-se que novos estudos sejam realizados a fim de identificar tempos-padrão entre as atividades/intervenções de enfermagem nestes ambientes.

Introduction: cancer is the second leading cause of death worldwide, accounting for 9.6 million deaths in 2018. The most widely used antineoplastic treatment is chemotherapy, which predominantly takes place in outpatient clinics. This environment has a high demand for care, various chemotherapy protocols, complex patients and limited human resources. Sizing the nursing team appropriately to meet the needs of patients, based on validated methods for staffing outpatient clinics, makes it possible to provide safe care for cancer patients. To do this, it is necessary to measure the nurse's workload, which refers to the activities carried out over a certain period and the time spent carrying out these activities/interventions. Objective: to measure the workload of nurses in adult and pediatric chemotherapy outpatient clinics. Method: an observational, cross-sectional study with a quantitative approach. It was carried out in the Outpatient Chemotherapy Unit of the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) from September 23th to 26th, 2024. The data was obtained using the work sampling technique, with direct observation of the nurses (n=13) at 10-minute intervals, during a 6-hour day shift, in two shifts in the morning and two in the afternoon. An instrument based on activities/interventions validated by the Nursing Intervention Classification (NIC) was used. The data was analyzed using descriptive statistics. The study respected ethical precepts and the project was approved by the Research Ethics Committee (CEP) of the Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Results: 720 samples of nurses' work in carrying out nursing interventions/activities were analyzed. The intervention with the highest frequency (15.56%) was Documentation, followed by Administering IV medication at the appropriate rate (7.36%). The “Direct Care” class of interventions demanded the most total working time (minutes) (2,290'). The average highlight time of this class occurred in the interventions: Care on admission (32.5'); Administering IV medication at the appropriate rate (29.4'); Therapeutic toy (25.0'); Inserting cannulated needle into peripheral vein (22.9'); Removing elastomeric infuser (IE) (18.0'); Setting up infusion pump (16.7'); Central venous catheter puncture (15.7'); Control of environment: comfort (15.0'); Control of chemotherapy (13.3'); Prepare the correct dose of ampoule, vial or syringe (13.3'); and Administering injection using aseptic technique and appropriate protocol (13.3). The interventions in the “Indirect Care” class required 2,1190 total minutes of work. The interventions with the highest average time were: Preceptor: student (80.0'); Staff supervision (70.0'), Documentation (56.0'); Preparing material for central venous access puncture (18.6'), Checking controlled substances (13.3'); and Preparing medication (13.3'). The productivity percentage was 73.06%. Conclusion: the workload of nurses in chemotherapy outpatient clinics is mostly consumed by care activities, whether direct or indirect. The productivity of the professionals is important, but unproductive work - consumed by personal activities - is also a factor to be considered when projecting staff based on the times measured. This study can therefore contribute to establishing parameters for sizing nurses in chemotherapy outpatient clinics. It is recommended that further studies be carried out in order to identify standard times between nursing activities/interventions in these environments.