As faces do empreendedorismo no Ensino Médio : uma análise documental da Reforma do Ensino Médio e do Ensino Médio Gaúcho

Abstract

Este trabalho se trata de uma pesquisa documental e qualitativa que visa a analisar os sentidos e mobilizações da categoria do empreendedorismo no âmbito da Reforma do Ensino Médio e do Ensino Médio Gaúcho. Em termos teóricos, trabalhou-se a partir da categoria de racionalidade neoliberal de Dardot e Laval, operacionalizando contribuições conceituais e insights sobre a relação entre crítica e discursos da ordem capitalista oriundos do trabalho de Boltanski e Chiapello acerca do novo espírito do capitalismo. Terminando a costura teórica, operacionalizou-se parte da discussão de Althusser acerca de como os Aparelhos Ideológicos de Estado interpelam determinadas subjetividades. A análise dos documentos nacionais foca principalmente na Base Nacional Comum Curricular e nos Referenciais Curriculares para a Elaboração de Itinerários Formativos focando principalmente na obrigação dos estudantes escolherem um currículo, a noção de empresa-de-si contida no empreendedorismo e a incorporação da crítica das ciências humanas por parte desses documentos. Quanto ao Ensino Médio Gaúcho, a análise foca no Referencial Curricular Gaúcho e nos demais documentos que estruturam disciplinas, trilhas e o currículo dessa etapa de ensino no estado, destacando principalmente as semelhanças formais e essenciais com os documentos nacionais; a organização curricular, a qual, ao estabelecer a metodologia das Feiras para a escolha de eletivas e trilhas, insere estudantes professores e escola em novas dinâmicas mercadológicas; e o empreendedorismo, o qual é dotado, principalmente aqui, de um forte caráter moralizante. Desse modo, o empreendedorismo é, nesses processos, consoante com a racionalidade neoliberal, onde o mercado é o principal meio de formação subjetiva e responsabilização do sucesso individual. A educação fomenta a subjetividade de “empreendedores de si”, alinhada à liberdade/obrigação de escolha e valorização de capital humano, mas um caráter éticopolítico e contradições de outra ordem surgem nos sentidos práticos. Por fim, apontam-se lacunas na análise, sugerindo futuras pesquisas para explorar a relação entre empreendedorismo e outros conceitos educacionais, além de resistências práticas ao Novo Ensino Médio.

This text is a documentary and qualitative research that aims to analyze the meanings and mobilizations of the category of entrepreneurship within the scope of the Brazilian High School Reform and the Gaúcho High School. Theoretically, it works from the category of neoliberal rationality from Dardot and Laval, operationalizing conceptual contributions and insights on the relationship between the criticism and the discourses of the capitalist order derived from Boltanski and Chiapello's work on the so-called new spirit of capitalism. Finishing the theoretical framework, part of Althusser's discussion on how the Ideological State Apparatuses interpellate certain subjectivities was operationalized. The analysis of national documents focuses mainly on the Common National Curriculum Base and the Curricular References for the Development of Formative Itineraries, emphasizing mainly the obligation for students to choose a curriculum, the concept self-enterprise within the entrepreneurship, and the incorporation of the critique of the humanities by these documents. Regarding the Gaúcho High School, the analysis focuses on the Gaucho Curriculum Reference and other documents that structure disciplines, routes, and the curriculum of this educational stage in the state, highlighting mainly the formal and essential similarities with the national documents; the curricular organization that, by establishing the methodology of Fairs for the choice of electives and trilhas, inserts students, teachers, and school into new market dynamics; and the entrepreneurship that is endowed, especially here, with a strong moralizing character. Thus, entrepreneurship, in these processes, is in line with neoliberal rationality, where the market is the main means of subjective formation and the responsibility for individual success. Education fosters the subjectivity of “entrepreneurs of the self”, aligned with the freedom/obligation to choose and the valorization of human capital, but an ethical-political character and contradictions of another order emerge in practical meanings. Finally, gaps in the analysis are pointed out, suggesting future research to explore the relationship between entrepreneurship and other educational concepts, as well as practical resistances to the Brazilian New High School.