Associação entre satisfação da mulher com a amamentação em diferentes momentos do primeiro ano de vida da criança e risco de interrupção do aleitamento materno e do aleitamento materno exclusivo

Abstract

Introdução: estudos demonstram que, sob o ponto de vista da mulher, a qualidade de sua experiência com a amamentação parece ser tão ou mais importante na sua percepção de sucesso do que a duração ou exclusividade dessa prática. Devido à escassez de estudos sobre essa temática, há muitas lacunas a serem preenchidas, entre elas a existência ou não de uma associação entre satisfação da mulher na amamentação e risco de desmame. É neste contexto que esta pesquisa foi conduzida. Objetivos: avaliar a associação entre satisfação da mulher em diferentes momentos do primeiro ano de vida da criança e risco de interrupção do aleitamento materno (AM) e do aleitamento materno exclusivo (AME). Métodos: foi realizado um estudo de coorte prospectivo, que acompanhou duplas mães-crianças desde o nascimento até os 24 meses de idade da criança. As mulheres foram selecionadas em até 24 horas após o parto, de forma aleatória, em duas maternidades de grande porte no município de Porto Alegre/RS, uma pública e outra privada. As entrevistas nos domicílios das mulheres aconteceram após as crianças completarem 1, 6 e 12 meses. Na primeira visita, as mulheres eram questionadas quanto à gestação, ao parto, ao período pós-parto imediato e ao primeiro mês após o parto. Em todas as entrevistas presenciais foi aplicado o instrumento Escala de Avaliação da Satisfação da Mulher com a Amamentação (MBFES). Informações sobre a alimentação da criança e aspectos relacionados foram obtidas aos 1, 2, 4, 6, 12 e 24 meses, sendo aos 2, 4 e 24 meses por contato telefônico. Foram comparadas as curvas de sobrevida de Kaplan-Meier do AME e do AM de mulheres com menor satisfação (escore do MBFES abaixo da mediana e do tercil inferior, respectivamente) com as daquelas com maior satisfação. Para estimar a associação de baixa satisfação com interrupção do AME e AM nos meses subsequentes, foram realizadas regressões de Cox multivariáveis para riscos proporcionais. Resultados: as mulheres menos satisfeitas (escore do MBFES abaixo da mediana) ao final do primeiro mês de vida da criança, quando comparadas com as mais satisfeitas, apresentaram menor mediana de duração do AME (mediana [IC95%] 26 dias [19-33] versus 120 dias [109-131]) e maior risco de interrupção do AME antes dos 6 meses de vida do lactente (HR ajustado [IC95%] 1,86 [1,41-2,46]). As mulheres com pontuação no MBFES no tercil inferior em diferentes momentos no primeiro ano de vida da criança tiveram risco aumentado de interrupção do AM da seguinte forma: menor stisfação com 1 mês, risco 65% maior de interrupção do AM antes de 6 meses; aos 6 meses, risco 70% maior antes dos 12 meses; e aos 12 meses, 117% maior risco de desmame antes dos 24 meses. Conclusão: a menor satisfação da mulher em amamentar está associada tanto com risco aumentado de interrupção do AME antes dos 6 meses de vida do lactente, quanto de interrupção do AM nos meses subsequentes à avaliação da satisfação.

Introduction: studies have demonstrated that, from the point of view of women, the quality of their experience with breastfeeding seems to be as important as or even more important for their perception of breastfeeding success than breastfeeding duration or exclusivity. Due to the scarcity of studies on this topic, several questions remain unanswered, for example, whether an association exists (or not) between women’s satisfaction with breastfeeding and risk of weaning. The present research was conducted in this context. Objectives: to investigate the association between women’s satisfaction with breastfeeding at different times in the infant’s first year of life and risk of breastfeeding or exclusive breastfeeding interruption. Methods: a prospective cohort study was conducted, in which mothers and their infants were followed from birth to the infants’ 24 months of life. Women were randomly selected up to 24 hours after they had given birth, at two large maternity hospitals (one public and one private) in the municipality of Porto Alegre, state of Rio Grande do Sul. Interviews were conducted in the women’s homes when the infants completed 1, 6, and 12 months of life. At the first visit, women were inquired about their pregnancy, immediate post-partum period, and first month post-partum. In all face-to-face interviews, the Maternal Breastfeeding Evaluation Scale (MBFES) was used. Information on the infant’s feeding habits and related aspects were obtained at 1, 2, 4, 6, 12, and 24 months of the infant’s life (at 2, 4, and 24 months, via telephone calls). Kaplan-Meier survival curves were calculated for exclusive breastfeeding and breastfeeding and compared between women with lower levels of satisfaction (MBFES scores below the median and in the lower tercile, respectively) vs. women with higher levels of satisfaction. The association between lower satisfaction with breastfeeding and interruption of exclusive breastfeeding and breastfeeding in the subsequent months was estimated using Cox proportional hazards multivariate regression model. Results: women with lower levels of satisfaction (MBFES scores below the median) at the end of the first month of the infant’s life presented a lower median duration of exclusive breastfeeding (median [95%CI] 26 days [19-33] versus 120 days [109-131]) and a higher risk of exclusive breastfeeding interruption before 6 months of the infant’s life (adjusted HR [95%CI] 1.86 [1.41-2.46]) when compared with women with higher levels of satisfaction. Women with MBFES scores in the lower tercile at different moments of the infant’s first year of life showed a higher risk of interrupting breastfeeding, as follows: lower satisfaction at 1 month, 65% higher risk of interrupting breastfeeding before 6 months; lower satisfaction at 6 meses, 70% higher risk of weaning before 12 months; lower satisfaction at 12 meses, 117% higher risk of weaning before 24 months. Conclusion: lower women’s satisfaction with breastfeeding is associated with an increased risk of both exclusive breastfeeding interruption before 6 months of the infant’s life, and interruption of breastfeeding in the months following the assessments.