A batalha de Vukovar e a guerra de independência da Croácia : uma análise a partir dos níveis da guerra

Abstract

O objetivo deste trabalho é analisar se a Batalha de Vukovar, desde o nível da tática, teve impacto positivo para a Croácia no resultado político da Guerra de Independência da Croácia. A Batalha de Vukovar ocorreu entre agosto e novembro de 1991 no leste da Croácia. Dentro da cidade, cerca de 2.000 croatas a defendiam, enquanto cerca de 40.000 tropas iugoslavas e sérvias atacaram-na por três meses até a sua capitulação. Na literatura sobre a Guerra da Croácia e na memória popular desse país, Vukovar, apesar de perdida, é considerada essencial para a vitória croata. Ainda assim, essa perspectiva, contra-intuitiva e ousada, carece de explicação devida. Para averiguar a conexão entre a Batalha de Vukovar e o resultado da guerra, o trabalho emprega as categorias analíticas dos níveis da guerra derivados de Clausewitz. A partir dos níveis tático (relacionado ao emprego das forças para vitória no combate), estratégico (no qual vitórias tática são utilizadas na busca dos objetivos político) e político (onde os objetivos da guerra se formam e onde ela é gerida) é possível estabelecer uma conexão entre o combate e a política. No nível tático, as forças croatas, em pouca quantidade e parcamente armadas, conseguiram resistir por três meses ao ataque planejado para durar dias. Isso foi possível devido ao terreno urbano que destacou a vantagem da defesa em relação ao ataque na medida em que: a estrutura de comando e controle iugoslava tornou-se inefetiva no ambiente complexo da cidade; a técnica das operações de ataque iugoslavas não seguiam uma forma eficiente para uma cidade, permitindo que operações de defesa ativa croata causassem fortes danos; o emprego de armas combinadas iugoslavas não foi realizado a contento, preterindo a infantaria e utilizando blindados e artilharia sem a organização e precisão devidas; a moral e disciplina das forças sérvias e iugoslavas mostraram-se fracas, afetando a efetividade do combate; o treinamento das forças atacantes não era suficientemente especializado para permitir a organização de um ataque a meio urbano; e a logística do cerco afetou o avanço das forças iugoslavas e sérvias. No nível estratégico, a Batalha de Vukovar atrasou o ataque iugoslavo, permitindo que as forças croatas estruturassem-se e armassem-se, levou a altos custos físicos e morais e fez as perspectivas iugoslavas tornarem-se menos positivas na guerra. Assim, o avanço iugoslavo chegou em seu ponto culminante, sendo preferível seguir a negociação política. No nível político, foi selado o Plano Vance, que finalizou a primeira fase da guerra concedendo independência à Croácia. A integridade territorial croata seria conquistada na segunda fase da guerra, que só foi possível com a sua independência, com a estruturação de suas forças armadas e com o apoio internacional que conseguiu na primeira fase da guerra. Dessa forma, desde o nível tático a Batalha de Vukovar, mesmo tendo sido uma derrota tática, representou um incremento no plano estratégico que levou à negociação política positiva para a Croácia que conseguiu atingir seus objetivos de independência e integridade territorial.

The aim of this research is to analyze whether the Battle of Vukovar, from a tactical level, had an positive impact for Croatia on the political outcome of the Croatian War of Independence. The Battle of Vukovar took place between August and November 1991 in eastern Croatia. Inside the city, around 2,000 Croats defended it, whereas around 40,000 Yugoslav and Serb troops attacked it for three months until its capitulation. In literature about the Croatian War and in that country's popular memory, Vukovar, although lost, is considered essential to the Croatian victory. This counterintuitive and bold perspective lacks due explanation. To ascertain the connection between the Battle of Vukovar and the outcome of the war, the research employs the analytical categories of levels of war derived from Clausewitz. From the tactical levels (related to the use of forces to win in combat), strategic (in which tactical victories are used in the pursuit of political objectives) and political (in which the objectives of war are formed and where it is managed), it is possible to establish a connection between combat and politics. At the tactical level, Croatian forces, in small numbers and poorly armed, managed to resist the attack planned to last for days for three months. It was possible due to the urban terrain which highlighted the advantage of defense over attack to the extent that: the Yugoslav command and control structure became ineffective in the complex environment of the city; the technique of Yugoslav attack operations did not follow an efficient form for a city, allowing Croatian active defense operations to cause heavy damage; the use of Yugoslav combined arms was not carried out satisfactorily, neglecting infantry and using armor and artillery without due organization and precision; the morale and discipline of the Serbian and Yugoslav forces proved to be weak, affecting the effectiveness of the combat; the training of the attacking forces was not specialized enough to allow the organization of an attack in an urban environment; and the logistics of the siege affected the advance of Yugoslav and Serbian forces. At the strategic level, the Battle of Vukovar delayed the Yugoslav attack, allowed Croatian forces to structure and arm themselves, led to high physical and moral costs, and made Yugoslav prospects less positive in the war. Thus, the Yugoslav advance reached its culmination, and it was preferable to continue political negotiation. At the political level, the Vance Plan was accepted, which ended the first phase of the war by granting independence to Croatia. Croatian territorial integrity would be achieved in the second phase of the war, which was only possible with its independence, the structuring of its armed forces and the international support it achieved in the first phase of the war. Thus, from a tactical level, the Battle of Vukovar, even though it was a tactical defeat, represented an increase in the strategic plan that led to positive political negotiations for Croatia, which managed to achieve its objectives of independence and territorial integrity.