A apropriação global de terras na África Subsaariana : uma análise sobre os efeitos socioeconômicos nas mulheres das comunidades locais

Abstract

O presente trabalho busca analisar o fenômeno da apropriação global de terras na região da África Subsaariana a partir de 2008 e as consequências sociais e econômicas sentidas pela população feminina. Diante da crescente crise ambiental e a escassez de recursos naturais, como água e terra arável, a importância da posse de terras se vê cada vez maior no contexto da política internacional. Neste sentido, a compra ou arrendamento em larga escala de terras em países em desenvolvimento, dinâmica cujo presente trabalho optou por denominar de land grabbing ou apropriação de terras, cresceu consideravelmente a partir da crise econômica mundial de 2008. Na sua maioria, essas apropriações são realizadas por estrangeiros de países ricos em capital mas pobres em recursos naturais, ao passo em que os países que têm as suas terras apropriadas são pobres em capital e ricos em recursos naturais. Neste sentido, a região do globo em que esse fenômeno mais ocorre é a África Subsaariana. Ainda, dados mostram que, nesta região, a população feminina é a maioria entre os mais pobres e os agricultores. Desta forma, a pergunta de pesquisa que guiou esta monografia foi: “Como as apropriações de terras, a partir de 2008, por parte de atores estrangeiros, têm afetado socioeconomicamente as mulheres das comunidades locais da África Subsaariana?”, cuja hipótese era de que a dinâmica do land grabbing, além de afetar de maneira desvantajosa de forma geral as nações africanas cujas terras são apropriadas, gera consequências prejudiciais de maneira ainda mais intensa nas mulheres. Para realização da pesquisa, portanto, foi utilizada a análise qualitativa de literatura encontrada em livros, artigos científicos e relatórios de organizações internacionais, e se serviu da teoria Feminista Crítica de Relações Internacionais. Desta forma, para cumprir o objetivo central desta monografia, pôde-se inferir que as mulheres são mais afetadas pela apropriação de terras por enfrentarem desafios particulares por causa de seu gênero, como a dificuldade de possuir legalmente terras, a consequente menor probabilidade de serem recompensadas após as desapropriações e a sua falta de participação em espaços de tomada de decisão.

This paper analyzes the land grabbing phenomenon in sub-Saharan Africa and its socioeconomic impacts on women since 2008. With the rise of the environmental crisis and the scarcity of natural resources, such as water and arable land, the importance of land ownership has grown within international politics. Large-scale land acquisitions in developing countries, in this paper referred to as “land grabbing,” have considerably increased since 2008 due to the global economic crisis. Most of these land acquisitions are made between investors from capital rich and natural resource poor countries and capital poor and natural resource rich countries. In this sense, sub-Saharan Africa is where these transactions occur the most. Data also shows that the female population in this region is the majority among farmers and people living in poverty. Therefore, the guiding question for this work is: “How have land grabs from foreign investors impacted women from sub-Saharan African communities since 2008?”. The hypothesis is that, compared to the population as a whole, land grabbing harms women the most in these communities. To carry out this research, apart from the Critical Feminist Theory of International Relations, the qualitative analysis of literature from books, articles, and reports from international organizations was used. Therefore, to accomplish the main objective of the research, it can be implied that women are more affected by land grabbing due to the implications of gender inequality such as barriers to land ownership, the lack of monetary rewards after the expropriations, and the lack of participation in the decision-making spaces.