Racismo e violência : a cidade desde a literatura ficcional contemporânea

Abstract

Propõe-se a investigação das relações entre espaço, racismo e violência enquanto problemática da cidade contemporânea, através da análise de obras ficcionais tomadas como discursos com potência instauradora da realidade. Analisam- se as obras Marrom e amarelo, de Paulo Scott (2019), O avesso da pele, de Jeferson Tenório (2020) e Os supridores, de José Falero (2020). Como método, descreve-se as condições sócio-demográficas, posição cartográfica e as paisagens dos lugares acionados nas obras, demonstrando a capacidade heurística da análise da ficção no campo dos estudos sócio-espaciais. Tem-se implicações epistemológicas, desde o reconhecimento da arte como constituinte da problemática sócio-espacial, superando a posição subordinada à legitimidade científica e paradigma representacional. Porto Alegre como lócus se torna relevante porque os estudos espaciais sobre a cidade historicamente ignoram a racialidade de sua segregação socioespacial. Também se analisa a relação direta entre segregação socioespacial racializada e violência. O artigo apresenta três níveis: 1) epistemológico, ao instaurar obras literárias ficcionais como referências para a investigação sócio-espacial; 2) demonstrativo, ao descrever características racializadas da segregação sócio-espacial; 3) relacional, ao situar a relação entre segregação espacial racializada e violência.

It is proposed to investigate the relationship between space, racism and violence as a problem in the contemporary city, through the analysis of fictional works taken as discourses with the power to establish the reality. The literary works Marrom e amarelo (Phenotypes) by Paulo Scott (2019), O avesso da pele (The flipside of skin) by Jeferson Tenório (2020), and Os supridores by José Falero (2020). Methodological, it describes socio-demographic conditions and the cartographic position as also the landscape of the places setting in the works, evidencing the heuristic power taken to analyze fiction in the field of socio-spatial studies. It has epistemological implications, from the recognized of art as constituent of the socio-spatial problematic, thus overcoming the position analytically subordinate to scientific legitimacy and representational paradigm. Porto Alegre, as locus, becomes significant because the spatial studies historically have ignored racialized aspects of its socio-spatial segregation. Also it analyzes the direct relationship between violence and socio-spatial segregation. The article presents three levels: 1) epistemological, when establishing literary works as a reference to socio-spatial research; 2) demonstrative, to describe racialized aspects to socio-spatial research; 3) relational, to setting the relationship between racialized spatial segregation and violence.