Prevalência de HIV em gestantes em hospital público de Porto Alegre : tendêcia de uma década

Abstract

Introdução: A infecção pelo HIV continua sendo um problema de saúde pública global. A prevalência de HIV entre gestantes tem influência nas taxas de HIV entre crianças pois a transmissão do vírus da mãe para o bebê é a principal causa de infecção neste grupo etário. Porto Alegre é a capital do Brasil com a maior taxa de detecção de HIV em gestantes. Objetivo: O objetivo deste estudo é avaliar a prevalência do HIV entre parturientes atendidas em uma maternidade de Porto Alegre e descrever as características epidemiológicas dessa população, comparando gestantes com e sem infecção por este vírus. Métodos: Estudo retrospectivo de banco de dados de gestantes com parto ou aborto na maternidade do Hospital Nossa Senhora da Conceição no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2020. Resultados: A prevalência de HIV no período do estudo foi de 2,8% (43.811 gestantes HIV negativas e 1.283 gestantes HIV positivas). Não houve diferença estatisticamente significativa nessa prevalência ao longo dos anos. A média de idade foi de 28,5 anos (DP: 6,5 anos) para as gestantes vivendo com HIV e 26,5 anos (DP: 6,5 anos) para as gestantes não infectadas pelo HIV. Em ambos os grupos houve uma tendência linear estatisticamente significativa de aumento da média de idade durante o período do estudo (p< 0,01). Embora a raça caucasiana/latina tenha sido mais frequente em ambos os grupos (72,4% nos HIV negativos e 57,4% nos HIV positivos), a proporção de outras raças foi maior no grupo HIV positivo (p < 0,001). Ambos os grupos mostraram tendência a diminuir desfechos desfavoráveis (natimortos e abortos espontâneos) ao longo dos anos do estudo (p < 0,05). Observou-se ainda uma maior proporção de cesáreas nas pacientes HIV positivas em relação às HIV negativas (p < 0,001). Conclusão: A prevalência de HIV entre gestantes em Porto Alegre não mudou significativamente na última década, mas permanece em um patamar bastante elevado. Isso pode ser explicado em parte devido ao uso de medicamentos antirretrovirais por mulheres vivendo com HIV (MVHIV), o que promoveu uma redução da mortalidade e morbidade destas mulheres, levando ao aumento do número de MVHIV em idade fértil. Ao mesmo tempo, mostra que a epidemia de HIV ainda apresenta grandes lacunas em seu controle. É extremamente necessário o desenvolvimento de políticas de saúde públicas voltadas para esse grupo vulnerável.

Background: HIV infection remains a global public health problem. HIV prevalence among pregnant women also affects HIV rates among children due to vertical transmission. Porto Alegre is the capital of Brazil with the highest rate of HIV-infected pregnant women. Objective: The aim of the study is to assess the prevalence of HIV among women giving birth in a maternity hospital in the city of Porto Alegre and to describe epidemiological characteristics of this population comparing pregnant women with and without this infection. Methods: Retrospective study of database of pregnant women with delivery or abortion in the maternity of Nossa Senhora da Conceição Hospital from January 2011 to December 2020. Results: The HIV prevalence in the study period was 2.8% (43,811 HIV-negative pregnant women and 1,283 HIV positive pregnant women). There was no statistically significant difference in this prevalence over the years. The mean age was 28.5 years (SD: 6.5 years) for the pregnant women living with HIV and 26.5 years (SD: 6.5 years) for the pregnant women not infected with HIV. In both groups, there was a statistically significant linear trend toward an increase in the mean age during the study period (p< 0.01). Even though Caucasian/latin race was more frequent in both groups (72.4% in HIV negative and 57.4% in HIV positive), the proportion of others races was higher in the HIV positive group (p< 0.001). Both groups showed a tendency to decrease unfavorable outcomes (stillbirth and miscarriage) over the years (p <0.05). A higher proportion of cesarean sections was observed in HIV-positive compared to HIV-negative patients (p<0,001). Conclusion: The HIV prevalence among pregnant women in Porto Alegre has not changed significantly over the past decade, but remains at a high level. This can be explained in part because the use of antiretroviral drugs by women living with HIV, which enable these women to stay alive and healthy enough to become pregnant. At the same time, it shows that the HIV epidemic currently still has major gaps in its control. Public health measures are absolutely necessary to be addressed to these vulnerable group.