Racionalidade neoliberal, empreendedorismo e trabalho no ensino médio : um ensaio a partir das pesquisas nas ciências sociais

Abstract

As condições de vida hoje, marcadas pela precariedade para enormes contingentes da população se explica, em grande medida, pela hegemonização de uma política pautada pela racionalidade neoliberal, que se consolida a partir da década de 1980, tendo contornos particulares no Brasil. No campo da educação, há anos testemunhamos diversos retrocessos, mas que se aceleraram particularmente a partir de 2017 com a imposição do Novo Ensino Médio. Este pode ser considerado o produto acabado do antigo projeto neoliberal de educação, que bebe da teoria do capital humano, mas se diferencia substancialmente desta já que não se está mais em um contexto de expansão do mercado de trabalho, mas sim da necessidade da formação para competências em um mercado altamente competitivo e flexível. Uma vez que os jovens são mais negativamente afetados pelas desigualdades sociais e pelo desemprego estrutural, o tema "juventude e trabalho" é de grande relevância para a leitura da realidade e, mais do que isso, para traçar políticas que atendam às demandas por melhores condições de desenvolvimento e vida dessa parte da população. Dentro disso, as pesquisas conduzidas no âmbito das Ciências Sociais são o foco deste ensaio, por ser campo privilegiado para a investigação da realidade social. A partir de revisão bibliográfica na plataforma Scielo, reflete-se sobre a produção na área a respeito do tema e busca-se destacar a importância da pesquisa empírica, da escuta dos jovens, para a compreensão da realidade. As reflexões aqui presentes se inserem no contexto do fortalecimento do discurso do empreendedorismo, aqui compreendido como um elemento da racionalidade neoliberal, o autoempreendedorismo (self enterprise). Dessa forma, sendo o ethos empreendedor um fator importante hoje na organização de projetos de vida dos sujeitos, buscamos demonstrar a relevância da pesquisa empírica, da escuta de jovens, para a compreensão da realidade atual do mundo do trabalho e do papel que a educação desempenha enquanto formadora de sujeitos.

The living conditions today, marked by precariousness for huge contingents of the population are largely explained by the hegemony of a policy guided by neoliberal rationality, which has been consolidated since the 1980s, with particular features in Brazil. In the field of education, for years we have witnessed several backlashes, but these have particularly accelerated since 2017 with the imposition by law of new education guidelines (Novo Ensino Médio). Such policy can be considered the finished product of the old neoliberal education project, which draws on the human capital theory, but differs substantially from it since we are no longer in a context of labor market expansion, but rather of a need for skills training in a highly competitive and flexible market. Since young people are more negatively affected by social inequalities and structural unemployment, the topic "youth and work" is of great relevance for the interpretation of reality and, more than this, to trace policies that meet the demands for better development and living conditions for this part of the population. Within this context, research conducted in the Social Sciences is the focus of this essay, as it is a privileged field for investigating social reality. Based on a bibliographic review on the Scielo platform, we reflect on the production in the field about the theme and seek to highlight the importance of empirical research, of listening to young people, for the understanding of reality. The reflections presented here are inserted in the context of strengthening the discourse of entrepreneurship, understood here as an element of neoliberal rationality, a self-entrepreneurship (self-enterprise). In this way, as the entrepreneurial ethos is an essential factor today in the organization of subjects' life projects, we seek to demonstrate the relevance of empirical research, of listening to young people, for the understanding of the current reality of the world of work and the role that education plays as a source of subjects' formation.