Hortas comunitárias urbanas e relações humanos e não humanos : habitar ruínas entre o campo e a cidade

Abstract

Situada no campo de estudos entre o desenvolvimento rural e suas problemáticas e os estudos multiespécie, esta dissertação teve como recorte de pesquisa a Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro, uma horta comunitária urbana, regida pelos princípios da agroecologia, aberta ao público, situada no bairro Lomba do Pinheiro, na Zona Leste de Porto Alegre/RS. A pesquisa de campo ocorreu do período de junho de 2021 a julho de 2022, período em que atuei como pesquisadora e trabalhadora do local. Em termos metodológicos, a pesquisa está alicerçada no método etnográfico, na observação participante, na elaboração dos diários de campo, por meio de gravações em áudio e fotografias, que foram as formas de apreensão das dinâmicas colocadas no campo. No que se refere ao conteúdo e aos objetivos deste trabalho, são apresentadas a relação rural e urbano e a possibilidade de abertura do campo dos estudos rurais para o estudo de relações que ultrapassam os humanos, bem como encontros e de narrativas que podem nos colocar a formular respostas mais interessantes ao que hoje é conceituado como Antropoceno. Este trabalho trata ainda sobre as formas de alimentação que se dão na Horta e como a produção de alimentos e do ato de alimentar-se está enredado com as formas de ser e estar no mundo dos humanos e que leva em conta o que os não humanos produzem nos humanos e com os humanos. Transversalmente a toda discussão usou-se como balizadores das análises os conceitos de atenção, cuidado e relacionalidade para a reflexão sobre as aberturas à diferença práticas e discursivas que a agricultura urbana agroecológica que o contexto local é capaz de produzir.

Situated in the field of studies between rural development and its problems and multispecies studies, this dissertation had as its ethnographic field the Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro, an urban community garden, ruled by the principles of agroecology, open to the public, located in the Lomba do Pinheiro neighborhood, in the East Zone of Porto Alegre. The ethnography took place from June 2021 to July 2022, period in which I acted as a researcher and worker at the site. Using the ethnographic method, participant observation, field diaries, audio recorded conversations, and photographs were the ways of apprehending the dynamics placed in the field. The first chapter contextualizes the rural-urban relationship and the need to open the field of rural studies to relationships that go beyond humans. It tells the story of Lurdes and Benjamin, farmers who migrated to Porto Alegre and are the founders of the Vegetable Garden project. In the second chapter, we thought about how urban agriculture and the Community Garden of Lomba do Pinheiro open possibilities of encounters and narratives that can help us formulate more interesting answers to what today is called the Anthropocene. In the last chapter we reflected on the ways of feeding that take place in the Horta and how the production of food and the act of feeding is entangled with the ways of being and being in the human world and that takes into account what non-humans produce in humans and with humans. Transversely to all the discussion, the concepts of attention, care, and relationality were used as a guide for the analysis to reflect on the openings to practical and discursive differences that agroecological urban agriculture and, locally, the Community Garden of Lomba do Pinheiro are able to produce.