Do ponto final ao ponto e vírgula : adolescência, trauma e automutilação no caso Blue

Abstract

Ocorrências de automutilação (principalmente os cortes na pele) têm sido alvo do olhar de diversos setores da nossa sociedade, como gestão pública, escolas, a comunidade acadêmica e os círculos de pesquisa. Este comportamento que cresce em uma velocidade alarmante entre os adolescentes parece denotar o sofrimento psíquico dessa geração, tomada por uma angústia irrepresentável que só tem encontrado vazão pelo corpo, pelo ato. Destaca-se na fala dessas "vítimas/autoras" que tais atos não aparecem revestidos de qualquer simbolismo, demonstrando seu caráter compulsivo. Mas afinal, o que tem feito esses ataques dirigidos a própria carne aumentarem tão significativamente? O que há de tão angustiante ao ponto de nossos jovens se cortarem? Quais as vicissitudes psíquicas que esses talhes na pele se põe a representar e o que a clínica psicanalítica tem a dizer sobre isto? Estas e outras perguntas foram surgindo conforme o atendimento clínico de uma jovem de 13 anos que pratica automutilação, tendo sua infância marcada pelo testemunho do suicídio de seu avô - paciente que chamaremos de Blue. Recorrendo a textos clássicos de Freud e Lacan, tanto quanto autores contemporâneos como Rassial e Douville, analisaremos o quadro desta analisante para refletir sobre a adolescência, experiências traumáticas e a automutilação. A partir deste caso, pensaremos sobre como esses temas parecem conversar, buscando contribuir com a literatura sobre essa questão tão relevante atualmente, evocando a arte e a figura do "ponto e vírgula" como metáfora para a criação de sentidos em momentos que o sujeito não traz narrativas sobre sua conduta.