Regime de informação e memória : as narrativas da Comissão Nacional da Verdade na construção da cidadania dos povos indígenas

Abstract

A pesquisa trata do documento em sua relação com o direito à memória no contexto da justiça de transição na história recente brasileira, tendo como objeto a Comissão Nacional da Verdade (CNV) no que se refere às graves violações dos direitos humanos dos povos indígenas. O problema consiste em: como os conteúdos informacionais contidos nos documentos produzidos pela CNV se constituem em um projeto de memória dos povos indígenas, auxiliando na promoção dos direitos humanos e na construção da cidadania? Teve como objetivo geral compreender como os documentos produzidos pela CNV auxiliam na construção da memória social dos povos indígenas, contribuindo para a promoção dos direitos humanos e na construção da cidadania. Através do trabalho da CNV, pretende dar visibilidade às violações cometidas pelo Estado brasileiro aos povos indígenas. Discorre os conceitos referentes aos povos indígenas no Brasil, às práticas documentais e o regime de informação e à relação destes com a construção da memória e da cidadania. Emprega metodologia qualitativa e exploratória. Consiste no levantamento e análise bibliográfica e documental através da análise textual discursiva proposta por Moraes (1999; 2003). Contextualiza a criação da CNV, identificando os atores sociais, a metodologia e os tipos de documentos, bem como a disseminação das informações produzidas. Faz a análise das narrativas indígenas que prestaram seus depoimentos à CNV, examinando a relevância da produção e disseminação desses relatos para a construção da memória social e da cidadania. Examina o texto final sobre os povos indígenas, como se dá a construção das memórias desses sujeitos e de que modo são legitimadas no documento. Considera: os regimes de informação ajustados em práticas documentais e sustentados pela institucionalização da CNV mostram como o exercício social da memória se compõe a partir de redes transversais entre atores sociais, artefatos informacionais e dispositivos de informação; as práticas documentais empreendidas em um regime de informação apontam três possibilidades: reconstruir a experiência de si e do coletivo; possibilitar processos de empoderamento pessoal, coletivo e político; caminhar para o “nunca mais”; as redes transversais constituídas e os efeitos produzidos pelas relações intersubjetivas dadas no exercício da memória permanecem como possibilidade de resistência aos retrocessos sócio-políticos percebidos hoje na sociedade brasileira; o trabalho da CNV foi relevante à produção e disseminação de documentos, 7 contribuindo para a ressignificação da memória social dos povos indígenas e para o aprofundamento democrático. Aponta à Ciência da Informação e às áreas da Biblioteconomia, Museologia e Arquivologia um papel relevante na organização e representação do conhecimento produzido e para a formulação de políticas de memória, tanto numa perspectiva epistemológica, como nos campos tecnológico e regulatório; e para estudos sobre os modos de produção da informação das redes organizacionais da sociedade civil e dos portais dispostos a partir do trabalho da CNV.

La investigación aborda el documento en su relación con el derecho a la memoria en el contexto de la justicia transicional en la historia brasileña reciente, trayendo el trabajo de la Comisión Nacional de la Verdad (CNV) con respecto a las violaciones graves de los derechos humanos de pueblos indígenas. El problema es: ¿Cómo los contenidos informativos contenidos en los documentos producidos por CNV constituyen un proyecto de memoria de los pueblos indígenas, ayudando a promover los derechos humanos y construir la ciudadanía? El objetivo general fue: comprender cómo los documentos producidos por la CNV ayudan a construir la memoria social de los pueblos indígenas, contribuyendo a la promoción de los derechos humanos y la construcción de la ciudadanía. A través del trabajo de la CNV, objetiva dar visibilidad a las violaciones cometidas por el Estado brasileño a los pueblos indígenas. Discute los conceptos relacionados con los pueblos indígenas en Brasil, las prácticas documentales y el régimen de información y su relación con la construcción de la memoria y la ciudadanía. Emplea metodología cualitativa y exploratoria. Consiste en levantamiento y análisis bibliográfico y documental a través del análisis textual discursivo propuesto por Moraes (1999; 2003). Contextualiza la creación de la CNV, identificando los actores sociales, la metodología y los tipos de documentos, así como la difusión de la información producida. Analiza las narrativas indígenas, examinando la relevancia de la producción y difusión de estos informes para la construcción de la memoria social y la ciudadanía. Examina el texto final sobre los pueblos indígenas, cómo se construyen los recuerdos de estos temas y de que modo se legitiman en el documento. Considera: los regímenes de información ajustados en las prácticas documentales y respaldados por la institucionalización de la CNV muestran cómo el ejercicio social de la memoria está compuesto entre actores sociales, artefactos informativos y dispositivos de información; las prácticas documentales realizadas en un régimen de información apuntan a tres posibilidades: reconstruir la experiencia de uno mismo y de lo colectivo; posibilitar procesos de empoderamiento personal, colectivo y político; avanzar hacia el "nunca más"; las redes transversales constituidas y los efectos producidos por las relaciones intersubjetivas dadas en el ejercicio de la memoria permanecen como una posibilidad de resistencia a los reveses sociopolíticos que se perciben hoy en la sociedad brasileña; el trabajo de la CNV fue relevante para la producción y difusión de 9 documentos, contribuyendo a la resignificación de la memoria social de los pueblos indígenas y a la profundización de la democracia. Apunta a la Ciencia de la Información y a las áreas de Bibliotecología, Museología y Archivología un papel relevante en la organización y representación del conocimiento producido y en la formulación de políticas de memoria, tanto en una perspectiva epistemológica, como en los campos tecnológico y regulatorio; y para estudios sobre los modos de producción de información en las redes organizacionales de la sociedad civil y los portales organizados a partir del trabajo de CNV.