Insatisfação do idoso com o serviço de saúde : um produto da fragilidade nas relações de cuidado?

Abstract

Este estudo se propõe a investigar a associação entre a percepção dos idosos de que os trabalhadores de saúde responsáveis pelo seu cuidado o conhecem mais como um problema de saúde do que como uma pessoa e a insatisfação dos mesmos para com o serviço de saúde. Essa associação está ajustada para confundidores de acordo com um modelo teórico conceitual. Trata-se de um estudo de base populacional, de delineamento transversal, que avaliou uma amostra de 848 idosos com 60 anos ou mais, independentes, e moradores dos distritos Lomba do Pinheiro e Partenon, em Porto Alegre/RS. As medidas utilizadas foram: Informações sociodemográficas e comportamentais, Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15), Informações sobre o Uso dos Serviços e Percepções a respeito do cuidado e Questionário de Condições de Saúde. Os resultados, obtidos através da análise estatística realizada através da regressão de Poisson com variância robusta, mostraram que: ser percebido como alguém com problema de saúde, e não como uma pessoa (RP=1,48, IC 95% 1,00-2,17, p= 0,04), não participar, através de suas ideias e opiniões, do planejamento de seu tratamento e cuidado (RP=2,36, IC 95% 1,32-4,19, p=0,00) e acessar Unidade Básica de Saúde (RP= 2,47, IC 95% 1,66-3,67, p=0,00) aumentaram a prevalência de insatisfação com o serviço de saúde acessado. Conclusão: Considerando o desenvolvimento de uma cultura de cuidado, onde as práticas sejam centradas nas pessoas e não nos problemas de saúde, este trabalho pode contribuir, uma vez que demonstra a associação entre falhas na relação de cuidado e a insatisfação por parte dos idosos, o que pode indicar a necessidade de mudanças no que tange o processo de trabalho em saúde.

The aim of this study is to investigate the association between the elderly perceptions about what health worker, responsible for their care, thinks the seniors are: a health problem or a person, and the elderly dissatisfaction with the health service. This association is adjusted for confounders according to a conceptual theoretical model. This is a population-based study, cross-sectional, that evaluated a sample of 848 elderly, with 60 years of age or more, living independently, and residents of the districts cooled Lomba do Pinheiro and Parthenon in Porto Alegre, RS, Brazil. The used measures were: Sociodemographic and behavioral information, Mini Mental Status Examination (MMSE), Geriatric Depression Scale (GDS-15), information about the health service used and elderly perceptions about their health care, and a questionnaire about health conditions. The results were revealed through the statistical analysis using Poisson regression with robust variance: to be perceived as someone with health problem and do not be perceived as a person (PR = 1.48, 95% CI 1.00 to 2.17, p = 0.04), do not participate with their ideas and opinions to planning their treatment and care (OR = 2.36, 95% CI 1.32 to 4.19, p = 0.00) and to access the unit that provides the primary healthcare (PR = 2.47, 95% CI 1.66 to 3.67, p = 0.00) increases the prevalence of dissatisfaction with the health services accessed. Conclusion: Considering the development of a care culture, where the practices are centered on people, and do not focused on health issues, this study contributes to demonstrate the association between the gaps on relationships of care and the dissatisfaction among seniors, which indicates the necessity to change the work process in health care.