Alterações nucleares em células esfoliadas da mucosa bucal clinicamente normal de alcoolistas e usuários de crack

Abstract

O tabaco e o álcool são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de boca, principalmente quando consumidos de forma combinada. O consumo de crack aumentou nos últimos anos, mas existem poucos estudos sobre o seu efeito na mucosa bucal. A citopatologia tem sido utilizada para avaliar a mucosa bucal clinicamente saudável de indivíduos que se expõe habitualmente a diferentes agentes externos como tabaco e álcool. A citopatologia permite a detecção de distúrbios precoces nas células esfoliadas do epitélio bucal, tanto em estruturas como os núcleos, tanto em eventos como o processo de maturação ou no comportamento proliferativo. O objetivo desse estudo foi, por meio de um estudo observacional transversal, avaliar a ocorrência de alterações nucleares (micronúcleo-MN, binucleação-BN, broken-egg-BE, cariorrexe-CR) em células esfoliadas da mucosa bucal de indivíduos que consumiam tabaco, álcool e crack. Noventa indivíduos foram divididos em três grupos: grupo controle (n=35), composto de indivíduos que não fumavam, consumiam menos do que 15g de álcool por semana e que estavam iniciando tratamento odontológico na Faculdade de Odontologia/UFRGS; grupo alcoolistas (Alc, n=29), composto de indivíduos dependentes de bebidas alcoólicas; e grupo usuários de crack (CrCo, n=26), composto de indivíduos que consumiam crack habitualmente. Alc e CrCo contaram com participantes do grupo de abandono de substâncias químicas do ambulatório da Cruz Vermelha/RS. Foram obtidos raspados da mucosa da borda de língua e do assoalho de boca. As amostras foram dispostas em lâminas histológicas e submetidas à reação de Feulgen. Avaliou-se a frequência das alterações nucleares (MN, BN, BE e CR) sendo analisadas 1000 células por lâmina. Observou-se aumento na frequência de MN nas células esfoliadas da borda de língua do indivíduos do CrCo quando comparado aos outros grupos (CrCo=51,31; controle=39,77; Alc=39,69; Kruskal Wallis/Dunn; p=0,013) e na frequência de cariorrexe nas células do assoalho de boca dos Alc quando comparado aos demais grupos (Alc=54,77; CrCo=41,15; controles=36,68; Kruskal Wallis/Dunn; p=0,013). Estes resultados sugerem que indivíduos que consomem crack apresentam mais quebras de DNA quando comparados com indivíduos que não fazem uso destas substâncias. Além disso, alcoolistas apresentam aumento da morte celular no epitélio bucal.

Tobacco and alcohol are the main risk factors for oral cancer development, especially when consumed in combination. The use of crack cocaine has increased in recent years, but there are few studies on its effect on the oral mucosa. Cytopathology has been used to evaluate the clinically healthy oral mucosa from individuals who habitually exposed to various external agents such as tobacco and alcohol. Cytopathology allows detection of early disturbances in the oral exfoliated cells, either in structures such as nuclei either in events such as maturation process or cell proliferation. The aim of this study was, by means of a cross-sectional observational study, to evaluate the occurrence of nuclear abnormalities (micronucleus-MN, binucleation-BN, broken-egg-BE, CR karyorrhexis) in exfoliated cells from oral mucosa of individuals who consumed tobacco, alcohol and crack. Ninety subjects were divided into three groups: control group (n=35), that was comprised by individuals who did not smoke, consumed less than 15g of alcohol per week and who were starting dental treatment at the Dental School / UFRGS. Alcoholic group (Alc, n=29), composed of alcoholics and crack cocaine users group (CrCo, n=26), individuals who habitually consume crack cocaine. Alc and CrCo included a group of participants of a abuse substances program attending Red Cross / RS. Oral cells were obtained from the tongue border and floor of the mouth. The samples were spread onto slides and subjected to the Feulgen reaction. We evaluated the frequency of nuclear abnormalities (MN, BN, BE and CR) were assessed 1000 cells per slide. There was an increase in the frequency of MN in CrCo when compared to the other groups (CrCo=51,31; controls=39,77; Alc=39,69; Kruskal Wallis/Dunn; p=0,013) and the frequency of karyorrhexis was higher in Alc when compared to the control and CrCo (Alc=54,77; CrCo=41,15; controles=36,68; Kruskal Wallis/Dunn; p=0,013). These results suggest that individuals who consume crack cocaine present more DNA breaks than individuals who do not use these substances. Furthermore, alcoholics display cell death increase in oral epithelium.