Manifestação da ancestralidade corporificada no ato de trançar o cabelo : experiências de mulheres negras brasileiras e africanas residentes em Porto Alegre-RS (1960-2009)

Abstract

Este trabalho tem como objetivo discutir como a constituição histórica compreende a noção do cabelo próprio e trançado na população afro-brasileira. Queremos destacar que o semblante e a identidade expressos nas tranças africanas são históricos, sendo indicadores da idade e do estatuto social; constitui uma arqueologia de saberes que se diversifica em diferentes grupos sociais, pois o cabelo é um dos principais elementos da afirmação de identidade social. Como ponto de partida, analisaremos diferentes fontes primárias de estudo, concentrando-se na oralidade, na imagem, em vídeos e em escritos que possam contribuir no desenvolvimento desta pesquisa. Discutiremos a transição capilar que é, na atualidade, uma mudança bastante comum entre as mulheres negras que anos atrás alisavam os seus cabelos, com intuito de encaixar no padrão do racismo, dita beleza, que valorizava o cabelo liso, enquanto o cabelo crespo era visto como “ruim”. Diante de tanta luta, as pessoas negras voltaram a assumir o seu cabelo natural deixando de lado a química e iniciando cuidados capilares para o uso do cabelo de forma natural. A nossa problemática é entender a dimensão da identidade negra no arranjo dos cabelos e também considerar as manifestações ancestrais corporificadas no ato de trançar cabelo, que vai além da arquitetura do belo e do estético independentemente da raça, cor ou ocupação social. Queremos também compreender como podemos discutir a identidade negra por meio do uso das tranças na diáspora afro-gaúcha, a partir de entrevistas de história oral com mulheres negras residentes em Porto Alegre.

This paper aims to discuss how the historical constitution understands the notion of own and braided hair in the Afro-Brazilian population. That said, we want to point out that the countenance and identity expressed in African braids are historical, being indicators of age and social status; it constitutes an archaeology of knowledge that is diversified in different social groups, since hair is one of the main elements in the affirmation of social identity. As a starting point, we will analyze different primary sources of study, focusing on orality, image, videos and writings that can contribute to the development of this research. We will discuss the hair transition, which is currently a very common shift among black women who, years ago, straightened their hair in order to fit into the standard of racism, the so-called beauty, which valued straight hair, while curly hair was seen as "bad". In the face of so much struggle, black people have returned to their natural hair, abandoning chemical treatments and starting to take care of their natural hair. Our problem is to understand the dimension of black identity in the arrangement of hair and also to consider the ancestral manifestations embodied in the act of braiding hair, which goes beyond the architecture of beauty and aesthetics regardless of race, color or social occupation. We also want to understand how we can discuss black identity through the use of braids in the Afro-Gaucha diaspora, based on oral history interviews with black women living in Porto Alegre.