Demetrio Ribeiro e o realismo socialista : arquitetura e política em Porto Alegre nos anos 1950

Abstract

O realismo socialista, de certa forma, foi um freio na vertente artística de sua geração [...]”(MARQUES, 2012, p.138). O arquiteto Cláudio Luís Go mes Araújo disse a frase anterior em uma conversa com o pesquisador Sergio Marques em 2008. Para entender seu significado, no contexto de Porto Alegre, capital do estado mais ao sul do Brasil, na década de 1950, precisamos investigar um personagem com influência no campo da arquitetura local, Demetrio Ribeiro: arquiteto premiado em concurso em 1950, professor paraninfo em 1951 e 1952, diretor do Instituto dos Arquitetos do Brasil (Departamento do Rio Grande do Sul) em 1948, fi liado ao Partido Comunista Brasileiro. Seus artigos “Sobre Arquitetura Brasileira”, publicados no ano de 1951 na Revista Horizonte, evidenciam sua atuação sob a influência ideológica e estético-cultural do Partido Comunista Soviético. As orientações direcionadas ao campo artístico e arquitetônico advindas de Moscou e disseminadas pelo mundo atra vés da rede dos partidos comunistas, receberam a alcunha de realismo socialista, o qual teve seu auge no Brasil no ano de 1950. Referindo-se à ideia expressa na frase inicial deste resumo, fica claro que frear a tendência artística de uma geração não é pouco. Esta tese busca, por tanto, trazer luz a esses episódios arquitetônico-políticos do início dos anos 50 em Porto Alegre, com foco no arquiteto Demetrio Ribeiro e sua conexão com o realismo socialista. A investigação da obra de Ribeiro, inspirada na ideologia comunista, revela as complexidades do contex to teórico e prático da primeira fase da arquitetura moderna em Porto Alegre. Esta foi a época em que a geração de Cláudio Araújo arriscava os primeiros exemplares modernos de “arquitetura brasileira”, expressão que qualificou certas manifestações pertencentes à “escola carioca” ou seus cânones, em um tecido urbano ainda conservador.

Socialist realism was a brake on the artistic trend of its generation [...]”(MARQUES, 2012, p.138). Architect Cláudio Luís Gomes Araújo stated the previous sentence in a conversation with researcher Sergio Marques in 2008. To understand its meaning, in the context of Porto Alegre, Bra zil’s southernmost state capital, in the 1950s, we need to investigate the architect Demetrio Ribeiro, who had significant influence in the field of local architecture. The architect gained recognition for his contribution as a professor at the School of Architecture at UFRGS, his directorship of the regional branch of the Institute of Architects of Brazil, and achie vements in winning competitions. In addition, he was affiliated to the Brazilian Communist Party. In his articles, particularly “Sobre Arquitetu ra Brasileira” (On Brazilian Architecture) published in 1951 in Horizonte magazine, the influence of the ideological and aesthetic-cultural tenets propagated by the Soviet Communist Party on his work is evidenced. The principles directed towards the artistic and architectural fields, for mulated in Moscow and disseminated worldwide through the commu nist party networks, is known as socialist realism, and this movement reached its apogee in Brazil during the year 1950. Referring back to the idea expressed in the opening sentence of this abstract, it is clear that halting the artistic trend of a generation is no small feat. Therefore, this doctoral thesis seeks to shed light on the architectural-political events of early 1950s Porto Alegre, with a focus on the architect Demetrio Ribei ro and his connection to socialist realism. The investigation into Ribero’s work, inspired by communist ideology, reveals the complexities of the theoretical and practical context of the first phase of modern archi tecture in Porto Alegre. This was a time when the generation of Claudio Araújo was designing the first modern examples of "Brazilian architecture". This expression qualified certain manifestations belonging to the “escola carioca” (Rio school) or its canons, in an urban fabric that was still conservative.